Brasil e China formalizam estudos para criar uma ferrovia que cruzará o continente sul-americano, unindo o Atlântico ao Pacífico e interligando os principais modais logísticos nacionais até o porto peruano de Chancay.
O Brasil e a China firmaram, nesta segunda-feira (07), um memorando de entendimento que marca o início dos estudos conjuntos para viabilizar um corredor ferroviário histórico, conectando os oceanos Atlântico e Pacífico.
De acordo com a Agência Brasil, o acordo foi assinado no Ministério dos Transportes, em Brasília, e envolve a estatal brasileira Infra S.A. e o China Railway Economic and Planning Research Institute, responsável pelo planejamento e pesquisa de projetos ferroviários no país asiático.
O projeto prevê a criação de uma rota ferroviária que integrará as principais linhas do interior brasileiro — a Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol), a Ferrovia de Integração Centro-Oeste (Fico) e a Ferrovia Norte-Sul — até alcançar o recém-inaugurado Porto de Chancay, na costa peruana do Oceano Pacífico, a apenas 70 quilômetros de Lima.
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Corredor ferroviário histórico com integração nacional
O ponto de partida do corredor está em Ilhéus, no litoral da Bahia, onde tem início a Fiol.
Essa linha segue até Mara Rosa, em Goiás, local onde se conecta com a Fico, que avança rumo a Lucas do Rio Verde, no Mato Grosso.
Essa cidade será o entroncamento estratégico com a Ferrovia Norte-Sul, que liga Açailândia, no Maranhão, à cidade de Estrela d’Oeste, em São Paulo.
A partir de Lucas do Rio Verde, terá início a Ferrovia Bioceânica, que seguirá por todo o território de Rondônia e do Acre até atingir a fronteira com o Peru.
A etapa final do trajeto cruzará o território peruano, culminando no Porto de Chancay, considerado um dos mais modernos empreendimentos logísticos da América do Sul, construído com forte participação chinesa e inaugurado em abril de 2025.
Rotas de Integração Sul-Americana e o papel do Brasil
O traçado ferroviário integra o programa Rotas de Integração Sul-Americana, coordenado pelo Ministério do Planejamento e Orçamento desde 2023.
O objetivo é priorizar obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) que estabeleçam conexões eficientes entre rodovias, ferrovias, hidrovias, portos e aeroportos em regiões de fronteira com países vizinhos.
A Ferrovia Bioceânica será o eixo central dessa estratégia, facilitando o escoamento de commodities brasileiras diretamente para o mercado asiático, com redução significativa nos prazos logísticos.
A expectativa inicial é de que o tempo médio de transporte até países da Ásia diminua em até 12 dias, se comparado às atuais rotas marítimas que passam pelo Canal do Panamá ou contornam a África.
Estudos técnicos, ambientais e de viabilidade econômica
O memorando assinado entre Brasil e China estabelece a elaboração de estudos abrangentes sobre a malha ferroviária brasileira, focando na integração multimodal e na análise das estruturas existentes.
Esses estudos também deverão avaliar os impactos ambientais do projeto, uma vez que o traçado atravessará áreas de floresta amazônica e regiões sensíveis do Cerrado, além de comunidades indígenas e unidades de conservação.
O acordo possui validade inicial de cinco anos, com possibilidade de prorrogação.
Essa etapa técnica será decisiva para definir o traçado final, estimar custos, identificar fontes de financiamento e atender aos requisitos legais e ambientais exigidos no Brasil e no Peru.
Cooperação Brasil-China e diplomacia internacional
A iniciativa faz parte de um dos quatro eixos firmados entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Xi Jinping durante o encontro bilateral realizado em novembro de 2024.
Além do projeto Rotas de Integração, o pacto inclui o Novo PAC, a Nova Indústria Brasil e o Plano de Transformação Ecológica.
Ainda em abril deste ano, representantes da China Railway Economic and Planning Research Institute estiveram no Brasil para reuniões com a Casa Civil e os Ministérios dos Transportes e do Planejamento.
Em maio, durante visita oficial de Lula a Pequim, a proposta da ferrovia bioceânica voltou a ser destaque nas declarações presidenciais.
A assinatura do memorando ocorre paralelamente à realização da Reunião de Líderes do BRICS, que neste ano teve como sede o Rio de Janeiro, entre os dias 6 e 7 de julho.
No documento final do encontro, os países-membros reforçaram o compromisso com o fortalecimento das redes de transporte nos países em desenvolvimento, destacando a importância da infraestrutura sustentável e resiliente como motor do crescimento econômico.
Avanços recentes e próximos passos da Ferrovia Bioceânica
Nos últimos meses, o projeto avançou em diversas frentes diplomáticas e técnicas.
Em abril de 2025, uma comitiva da China Railway Economic and Planning Research Institute visitou o Brasil, passando por trechos das ferrovias em construção e dialogando com representantes do governo federal.
Em maio, durante visita oficial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Pequim, o tema voltou a ser debatido em reuniões bilaterais de alto nível.
A assinatura do memorando nesta segunda-feira (7) representa o ponto de partida para a fase de estudos técnicos, ambientais e econômicos, etapa considerada essencial para avaliar a viabilidade da Ferrovia Bioceânica.
Essa análise incluirá o traçado exato do corredor, o impacto ambiental ao longo do percurso e a estimativa de custos.
Os próximos passos envolvem a definição do cronograma detalhado dos estudos, que serão conduzidos por técnicos brasileiros e chineses.
Além disso, haverá articulações com potenciais investidores e parceiros comerciais para financiar as futuras etapas da obra.
Até o momento, não há previsão oficial para o início das construções, tampouco valores confirmados de investimento.