Cientistas revelam o Mirasaura grauvogeli, uma nova espécie de réptil com crista semelhante a penas que viveu 100 milhões de anos antes dos dinossauros, mudando a história da paleontologia.
Um fóssil de cerca de 247 milhões de anos revelou uma criatura tão estranha quanto fascinante, capaz de reescrever parte da história da vida na Terra. Batizada de Mirasaura grauvogeli, a nova espécie descoberta viveu muito antes dos dinossauros e intriga paleontólogos por suas características únicas: um corpo de apenas 15 centímetros, cauda preênsil como a de um macaco, pés adaptados para agarrar galhos e uma crista rígida e colorida que lembrava penas — mesmo sem qualquer ligação direta com aves.
A descoberta, publicada em julho de 2025 na revista Nature, vem sendo considerada um dos achados mais marcantes da paleontologia recente. Isso porque revela que estruturas semelhantes a penas e pelos — antes vistas como exclusivas de linhagens que deram origem a pássaros e mamíferos — surgiram muito antes do que se imaginava, em um ramo antigo da família dos répteis.
Um fóssil antes dos dinossauros muda a história
O fóssil do Mirasaura remonta ao período Triássico, mais de 100 milhões de anos antes de o primeiro dinossauro voador aparecer. Essa linha do tempo impressiona: até então, acreditava-se que estruturas complexas de cobertura corporal, como penas, estavam restritas a grupos evolutivos mais recentes.
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O animal, com corpo alongado e rosto estreito semelhante ao de um pássaro, escalava árvores em um ecossistema que existiu milhões de anos antes dos gigantes do Jurássico dominarem a Terra.
Para os cientistas, a descoberta reforça a ideia de que os caminhos da evolução foram muito mais diversos e criativos do que se pensava. “Estou chocado e perplexo. Há muito tempo que não ficava tão impressionado com uma nova descoberta fóssil”, admitiu Steve Brusatte, paleontólogo da Universidade de Edimburgo.
A estranha anatomia do animal pré-histórico
O Mirasaura pertence a um grupo pouco conhecido de répteis arborícolas chamado drepanossauros. Esses animais, encontrados na América do Norte e na Europa, tinham corpos em forma de barril, ombros curvados e olhos grandes voltados para frente, em crânios com bicos lembrando pássaros.
Muitos tinham polegares oponíveis e caudas preênseis, algumas até com garras na ponta, em uma adaptação que mais lembra primatas modernos.
Stephan Spiekman, paleontólogo do Museu Estadual de História Natural de Stuttgart e um dos autores do estudo, compara a criatura a um “tamanduá-pigmeu com traços de camaleão”. A descoberta de sua crista rígida, composta por estruturas sobrepostas de queratina, intrigou os cientistas: as “plumas” se assemelhavam a penas, mas eram biologicamente diferentes, indicando uma inovação evolutiva única.
Nova espécie de fóssil e um mistério resolvido
O achado também ajudou a resolver um enigma paleontológico que durava décadas. Em 1970, cientistas descreveram um réptil chamado Longisquama, encontrado no Quirguistão, que apresentava estruturas longas parecidas com penas.
Durante anos, ele desafiou a teoria de que as aves descendiam dos dinossauros, pois sugeria que penas poderiam ter surgido em outros grupos.
Com a análise do Mirasaura, os pesquisadores conseguiram classificar o Longisquama como outro membro do grupo dos drepanossauros. “O enigma está resolvido agora”, afirmou Michael Buchwitz, paleontólogo do Museu de História Natural de Magdeburg.
Paleontologia e a descoberta de uma evolução convergente
A descoberta do Mirasaura grauvogeli reforça o conceito de evolução convergente, quando espécies diferentes desenvolvem características semelhantes de forma independente. As cristas do animal se parecem com penas, mas não têm a estrutura ramificada típica encontrada em aves. Elas provavelmente serviam para comunicação visual, defesa ou atração de parceiros, e possivelmente refletiam luz, criando efeitos de cor vibrantes.
Análises microscópicas mostraram melanossomas — células que produzem pigmentos — semelhantes aos das aves modernas. Isso sugere que as cristas poderiam ter padrões de cores complexos, algo surpreendente para um réptil que viveu milhões de anos antes dos dinossauros.
Um fóssil esquecido por 80 anos
Curiosamente, os primeiros vestígios do Mirasaura foram encontrados em 1939 por Louis Grauvogel, um colecionador de fósseis na França.
Ele acreditava ter encontrado barbatanas de peixe ou asas de insetos fossilizadas. Décadas depois, em 2019, o Museu Estadual de História Natural de Stuttgart adquiriu a coleção de Grauvogel. Só então os paleontólogos notaram costelas finas e fragmentos ósseos, ligando as estruturas a um único animal.
A análise de mais de 80 fragmentos revelou que os exemplares juvenis tinham cerca de 15 cm, mas as cristas isoladas sugerem que adultos poderiam medir mais de 30 cm. O nome Mirasaura grauvogeli significa literalmente “réptil milagroso de Grauvogel”, uma homenagem ao homem que coletou os fósseis.
Implicaçõess para a ciência e o futuro das descobertas
A revelação de que estruturas semelhantes a penas surgiram em répteis tão antigos sugere que o “manual” evolutivo para criar pelos, penas e escamas pode ter se desenvolvido muito cedo na história dos vertebrados. Isso abre espaço para hipóteses ousadas: será que outros grupos de répteis fósseis poderiam ter tido estruturas coloridas e exibicionistas como as do Mirasaura?
Para Spiekman, a resposta é promissora: “A descoberta muda a imagem do que é (ou era) um réptil. Talvez tenhamos subestimado o quanto o passado era colorido e diverso.”
O Mirasaura não é apenas um novo nome na árvore da vida — ele desafia a forma como entendemos a evolução, as origens de estruturas como penas e a aparência de criaturas que habitaram a Terra antes dos dinossauros.
A descoberta mostra que a paleontologia ainda tem muitos segredos a revelar. Cada fóssil escondido em rochas antigas pode reescrever capítulos inteiros da história natural e, no caso do Mirasaura, trouxe de volta à vida um “réptil milagroso” que viveu há quase 250 milhões de anos, pendurado em galhos, exibindo uma crista que brilhou sob o sol de um mundo perdido.