Projeto prevê aeroporto de alta tecnologia no Nordeste, com automação por robôs, apoio internacional e foco em ampliar o turismo global, enquanto estados disputam a sede e aguardam definições sobre regulação e modelo de investimento.
Um projeto para erguer um aeroporto internacional de grande porte e alta tecnologia no Nordeste voltou ao radar após ser apresentado a investidores no Fórum Turismo e Investimentos | Brasil 360°, em São Paulo.
A iniciativa tem o Banco de Desenvolvimento da América Latina e Caribe (CAF) como articulador financeiro e prevê um terminal com operações parcialmente automatizadas por robôs, pensado para ser hub de alta conectividade e voltado ao turismo global.
Em paralelo, avança no Congresso a discussão sobre permitir que companhias estrangeiras façam cabotagem aérea no País — mudança regulatória vista por integrantes do setor como condição para ampliar rotas e competitividade.
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Regulação em debate e impacto na conectividade
No Congresso, o PL 4.392/2023 trata de autorizar o transporte doméstico por empresas estrangeiras na Amazônia Legal, em situações específicas.
Embora não seja uma liberação ampla para todo o território, a tramitação desse e de outros textos sobre cabotagem tem sido citada por agentes do mercado como passo relevante para destravar novos modelos de operação e incentivar a chegada de rotas internacionais que alimentem voos internos.
A leitura de bastidores é que um marco regulatório mais claro pode encorajar investimentos em infraestrutura e acelerar projetos de hub, ainda que a aplicação prática dependa de regulamentações posteriores e de decisões das agências setoriais.
Anúncio em São Paulo e papel do CAF
O projeto do aeroporto ganhou visibilidade ao ser anunciado no Fórum Brasil 360°, encontro que reuniu governo, organismos multilaterais e investidores privados.
O CAF apresentou a proposta como parte de um pacote de iniciativas voltadas a infraestrutura turística e logística, com ênfase em eficiência operacional, sustentabilidade e tecnologia embarcada.
A concepção de hub prevê conexões internacionais e domésticas desenhadas para reduzir tempos de conexão, diversificar malhas e aumentar a resiliência do sistema, com ganhos para o visitante estrangeiro e para a economia regional.
Estados entram no jogo: Paraíba na disputa
A movimentação acendeu o interesse de governos estaduais.
João Azevêdo, governador da Paraíba, declarou que o estado pretende concorrer para sediar o terminal, avaliando que há condições econômicas e fiscais para atrair o investimento.
“A Paraíba vai concorrer para ter esse terminal voltado para o Turismo e pode oferecer boas condições econômicas e fiscais”, disse o governador durante o evento.
A fala ecoa estratégia local de fortalecimento do turismo, com projetos âncora e áreas voltadas a entretenimento e hotelaria, numa tentativa de consolidar fluxos internacionais hoje concentrados em poucos aeroportos do País.
Diretrizes da ONU Turismo: inovação e sustentabilidade
A proposta também recebeu apoio institucional da ONU Turismo (UN Tourism) no desenho de diretrizes.
O secretário-geral, Zurab Pololikashvili, defendeu que o empreendimento vá além de um terminal tradicional e incorpore padrões ambientais e automação.
“Queremos apoiar um aeroporto que seja sustentável e inovador, não apenas um espaço para voos. Parte será automatizada por robôs. É algo novo para o mundo, não apenas para o Brasil”, afirmou.
A ênfase em eficiência energética, gestão de resíduos, mobilidade no entorno e experiência do passageiro integra o conjunto de requisitos de um equipamento pensado para competir em escala global.
Pati e estímulo ao turismo internacional
No front de demanda, o Programa de Aceleração do Turismo Internacional (PATI), do governo federal, pode funcionar como alavanca para rotas e campanhas promocionais.
O modelo prevê parcerias com companhias aéreas e aeroportos para lançar novos voos e financiar ações de marketing em mercados emissores, com foco em ampliar o número de assentos e diversificar origens.
Para um hub no Nordeste, essa política pública tende a ser complementar: ao estimular oferta e promoção, cria condições para que um aeroporto de última geração nasça com massa crítica de conexões e visibilidade internacional.
O que o projeto promete entregar
A concepção apresentada combina infraestrutura inteligente, processos digitais e automação em etapas-chave da viagem.
Do check-in ao despacho e restituição de bagagens, passando por inspeção e orientação de fluxo, haverá integração tecnológica para reduzir filas e erros.
A previsão de sistemas de gerenciamento de pátio e de alocação dinâmica de recursos busca reduzir atrasos e otimizar o uso de posições de embarque.
Do ponto de vista do passageiro, a promessa inclui experiência fluida, sinalização multilingue, conectividade de alta capacidade e integração com transporte terrestre para favorecer deslocamentos regionais.
Tudo isso ancorado em práticas de baixo carbono e na adoção de energias renováveis como pilares de operação.
Gargalos e etapas pendentes
Apesar do interesse político e do desenho conceitual, decisões centrais ainda não foram tomadas.
A cidade-sede não foi definida, não há cronograma público de implantação e tampouco valor de investimento detalhado.
A estrutura jurídica do empreendimento — concessão, PPP ou outro arranjo — segue em avaliação, assim como os mecanismos de mitigação de riscos para atrair operadores e companhias aéreas.
Do lado regulatório, a cabotagem permanece em discussão e sua abrangência territorial é tema sensível.
Mudanças nesse campo podem influenciar desde o modelo de negócios até o mix de rotas que viabilizará o hub.
O que observar daqui para frente
Nas próximas etapas, o mercado acompanhará três frentes.
A primeira é a definição do local, que envolve capacidade de pista, área disponível para expansão, acessos viários/ferroviários e sinergia com a malha aérea existente.
Em paralelo, será decisiva a estruturação financeira, com a participação do CAF e de outros atores para equilibrar risco, retorno e metas de desempenho.
Por fim, a governança do projeto deverá estabelecer indicadores claros de sustentabilidade, qualidade de serviço e conectividade, assegurando que o terminal cumpra a função de hub regional e catalise novos fluxos internacionais para o Nordeste.
Com a disputa aberta e a pauta regulatória em andamento, a pergunta que fica é: qual capital nordestina reúne o melhor conjunto de infraestrutura, acesso e demanda potencial para liderar esse hub e por quê?