No primeiro mês de vigência do tarifaço de 50% dos EUA, as vendas do Brasil para o mercado norte-americano caíram 18,5% em agosto, para US$ 2,76 bilhões. O saldo com os EUA virou déficit de US$ 1,23 bilhão, enquanto as exportações para a China cresceram 29,9%.
O Brasil encerrou agosto com uma queda de 18,5% nas exportações para os Estados Unidos frente a agosto de 2024, somando US$ 2,76 bilhões. O recuo coincidiu com o primeiro mês de vigência da sobretaxa de 50% aplicada por Washington a produtos brasileiros. Os dados são oficiais da Secex/MDIC.
Do lado das importações, houve alta de 4,6% de compras brasileiras de bens dos EUA, levando a um déficit bilateral de US$ 1,23 bilhão em agosto, o maior do ano. Mesmo com a pressão no comércio com os norte-americanos, o desempenho global foi sustentado por outros destinos, as vendas para a China, uma das maiores economias que fazem parte do BRICS, avançaram 29,9% e ajudaram a manter o superávit mensal da balança.
Para Herlon Brandão, diretor de Estatísticas e Estudos de Comércio Exterior do MDIC, o “choque tarifário” dos EUA é determinante para os movimentos de queda, embora haja também efeito de antecipação de embarques em julho e outros fatores de demanda. “É certo” que o comércio Brasil–EUA deverá cair, mas a magnitude ainda depende do comportamento do mercado nos próximos meses.
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Tarifa de 50%: quando entrou em vigor e como afeta preço e demanda
A sobretaxa de 50% entrou em vigor em 6 de agosto de 2025, em decisão do governo norte-americano. Desde então, exportadores monitoram impactos setoriais e eventuais exceções e ajustes que possam mitigar o alcance da medida.
Na prática, uma tarifa dessa magnitude encarece o produto brasileiro no destino, reduzindo demanda quando há substitutos e concorrentes capazes de atender o mercado. Em setores com clientes altamente relevantes nos EUA, empresas podem reduzir preços para preservar espaço, o que comprime margens. É a leitura técnica reforçada pelo MDIC.
O governo brasileiro mantém canais de negociação, mas reconhece que o efeito imediato tende a ser de reacomodação de fluxos comerciais — com redirecionamento de cargas a mercados alternativos enquanto se avaliam possíveis exceções e a evolução da política comercial norte-americana.
Exportações para os EUA em queda de 18,5%: setores mais afetados
O impacto foi heterogêneo por setor. Entre as maiores retrações de agosto nas vendas aos EUA aparecem aeronaves e partes (−85%), produtos semiacabados de ferro/aço (−23%), óleos combustíveis (−37%), açúcar (−88%), minério de ferro (−100%), máquinas de energia elétrica (−46%), carne bovina fresca (−46%), motores e máquinas não elétricos (−61%) e celulose (−23%).
Segundo o MDIC, parte da queda também ocorreu em itens não tarifados, em razão da antecipação de embarques em julho e de condições de mercado (preços internacionais e demanda). Ou seja, o tarifaço explica boa parte, mas não todo o movimento.
O diagnóstico setorial ainda é preliminar. Como ressaltou a Secex, é necessário acompanhar mais de um ciclo mensal para isolar o efeito-tarifa de outros choques de curto prazo.
China ganha espaço: +29,9% nas compras do Brasil e superávit se mantém
Enquanto os EUA recuaram, a China ampliou as importações do Brasil em 29,9% em agosto. O México também comprou mais (alta de 43,8%), ajudando a amortecer o impacto do tarifaço sobre o resultado agregado do mês.
Vale ressaltar que a China é membro fundador do BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), bloco voltado a cooperação econômica, financeira e tecnológica entre países emergentes. O salta nas exportações brasileiras para lá é sinal de que o Brasil dispõe de um parceiro estratégico dentro do grupo para redirecionar vendas, negociar condições e manter fluxo comercial em momentos de choque tarifário.
No consolidado de agosto, a balança comercial brasileira registrou superávit de US$ 6,1 bilhões. No acumulado do ano até agosto, as exportações somaram US$ 227,6 bilhões e as importações US$ 184,8 bilhões, com saldo positivo de US$ 42,8 bilhões.
Para as empresas, o quadro impõe três frentes: renegociação de contratos em segmentos mais sensíveis a preço; diversificação de destinos (Ásia, América Latina); e gestão cambial e de custos para preservar margem em um ambiente de maior incerteza. A leitura é compartilhada por analistas e pela cobertura especializada.
E você, acredita que o tarifaço de 50% dos EUA será um choque passageiro que o Brasil pode contornar com novos mercados e ajustes de preço, ou um golpe duradouro que vai reduzir margens, empregos e exportações? O que governo e empresas deveriam fazer agora para reagir? Deixe sua opinião nos comentários.