Em um dos territórios mais extremos do planeta, 1/3 da população ainda mantém uma vida isolada da modernidade, baseada em tradições seculares de sobrevivência
Localizada no coração da Ásia, cercada pela Rússia e pela China, a Mongólia é um país onde a capacidade humana de sobreviver é testada diariamente. Embora seu território seja imenso, possui uma das menores densidades populacionais da Terra, e o simples dia-a-dia pode se tornar um dos maiores desafios do planeta. É neste cenário que cerca de um terço da população opta por uma vida isolada do caos moderno, mantendo tradições que conectam diretamente o passado ao presente.
Essa profunda conexão histórica tem um nome: Genghis Khan. No século XIII, ele unificou tribos nômades e forjou o maior império contínuo da história. Conforme detalhado pelo portal Mundo Único, muitos aspectos da cultura que Khan consolidou há quase 800 anos continuam vivos, especialmente entre aqueles que ainda percorrem as vastas planícies com seus rebanhos, mantendo tradições de autossuficiência praticamente inalteradas.
A casa que se move com o vento
O símbolo máximo da vida nômade mongol é a ‘Ger’, também conhecida pelo termo russo ‘Yurt’. Essa estrutura circular é o lar tradicional há séculos, projetada para a praticidade e a resistência. Feita de uma armação de madeira leve coberta por feltro grosso (lã de ovelha) e uma capa impermeável, sua forma redonda oferece resistência superior aos ventos fortes e incessantes das estepes, permitindo também uma circulação uniforme do calor interno.
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A Ger é uma casa pensada para se mover com o mundo, não para resistir a ele. Montar ou desmontar uma estrutura leva apenas algumas horas, o que é essencial para as famílias que se deslocam várias vezes ao ano. Esse movimento segue o fluxo da natureza: no verão, buscam pastagens mais altas e verdes, com temperaturas que beiram os 40°C; no inverno, descem para vales protegidos do vento e do frio, que pode facilmente despencar para 40°C negativos. Essa variação extrema torna o dia-a-dia na Mongólia um dos mais difíceis do planeta.
Sobrevivência onde quase nada cresce
A ausência de árvores nas vastas estepes, causada pelo clima extremo e solo pobre, forçou os nômades a depender quase exclusivamente de seus animais. Eles criam principalmente ovelhas (para lã e carne), cabras e vacas iaque (que fornecem leite, carne e couro). Na cultura mongol, tudo é aproveitado. O leite de égua, por exemplo, é transformado no ‘Airag’, uma bebida fermentada levemente alcoólica que é um símbolo da hospitalidade local.
Com a escassez de madeira, o esterco seco dos animais torna-se o principal combustível. É usado para cozinhar, aquecer a Ger e até mesmo como isolante térmico nas paredes. Essa completa autossuficiência é a base da sobrevivência no ambiente inóspito, demonstrando uma adaptação forjada ao longo de milênios.
O cavalo: a alma da Mongólia
Um antigo provérbio local diz: “Um mongol sem cavalo é como um pássaro sem asas”. Durante séculos, o cavalo foi o principal meio de transporte, sustento e instrumento de guerra. A Mongólia possui duas espécies principais. A primeira é o raríssimo Takhi, o único cavalo genuinamente selvagem do mundo, que nunca foi domesticado. Ele chegou a desaparecer da natureza nos anos 60, mas foi salvo por espécimes em zoológicos europeus e hoje está em lenta recuperação, com cerca de 400 indivíduos na natureza.
A segunda espécie é o cavalo doméstico mongol. Pequenos, medindo apenas 1,30 m, mas extremamente ágeis e resistentes, foram eles os responsáveis pela rápida expansão do Império de Genghis Khan. Hoje, são pilares da sobrevivência pacífica, criados livres e sem ferraduras. Estima-se que existam mais de 3 milhões de cavalos na Mongólia, um número superior ao da própria população humana do país.
Tradições vivas: dos festivais ao canto da garganta

A cultura nômade se expressa vividamente em seus festivais. O maior deles é o Naadam, o Festival Nacional realizado em julho. A corrida de cavalos é o centro de tudo, mas de forma única: os jóqueis são crianças de 5 a 13 anos, e as corridas podem se estender por até 30 km através das planícies. Na região ocidental, o Festival da Águia celebra a tradição dos cazaques, que caçam usando águias douradas, uma habilidade passada de pai para filho.
A música também é um reflexo do isolamento nas estepes. O som do ‘Khuur’, um violino de duas cordas, é frequentemente acompanhado pelo ‘Khoomii’, o famoso canto gutural (ou canto da garganta). Acredita-se que essa técnica vocal única, onde o cantor produz múltiplos tons simultaneamente, foi desenvolvida por pastores que passavam longos períodos sozinhos cuidando de seus rebanhos na vastidão silenciosa.
Dos fósseis do gobi aos criadores de renas do norte
A geografia da Mongólia é tão extrema quanto seu clima. Ao sul, o vasto Deserto de Gobi não é feito apenas de dunas, mas principalmente de cascalho e pedras. Foi lá que os primeiros ovos de dinossauro da história foram encontrados, revelando como esses animais nasciam, e onde o famoso Velociraptor foi descoberto em 1924. O deserto é também o lar do camelo bactriano, de duas corcovas.
Em contraste total, o norte do país é coberto por florestas de coníferas, lagos e montanhas, fazendo parte da floresta boreal siberiana. É lá que vivem os Dukha, um dos últimos povos criadores de renas do mundo, que dependem desses animais para absolutamente tudo: leite, carne e transporte. Nas montanhas Altai, a oeste, o isolamento é tamanho que muitas aldeias ficam inacessíveis durante boa parte do inverno.
O desafio da capital mais poluída do mundo
Embora a vida isolada defina a imagem do país, a realidade moderna é um paradoxo. Quase metade de toda a população da Mongólia vive na capital, Ulaanbaatar. A cidade é um centro de contrastes, com arranha-céus modernos de um lado e extensos “bairros de Gers” do outro, onde famílias vindas do interior tentam se adaptar à vida urbana sem abandonar suas casas tradicionais.
O maior desafio da capital é o aquecimento. Durante os invernos rigorosos, a queima massiva de carvão e madeira nos bairros de Gers para combater o frio extremo gera níveis catastróficos de poluição atmosférica. Esse fenômeno fez de Ulaanbaatar a capital mais poluída do mundo, criando um grave problema de saúde pública que se choca diretamente com a imagem pura das estepes.
A Mongólia é um símbolo de autonomia e adaptação. Mesmo com o avanço de Ulaanbaatar, a cultura nômade segue como o alicerce da identidade nacional. O modo como os mongóis lidam com o ambiente, respeitando os ciclos da natureza e aproveitando apenas o necessário, é um exemplo de equilíbrio entre tradição e sobrevivência. No mesmo território onde um dia partiu o exército mais temido da Terra, hoje crianças cavalgam livres, celebrando a herança de um povo que aprendeu a viver com o vento, e não contra ele.
Essa coexistência entre o passado nômade e o presente urbano é fascinante. Você acredita que esse estilo de vida tradicional conseguirá resistir à globalização e aos desafios climáticos? Ou a vida na cidade, mesmo poluída, é o futuro inevitável? Deixe sua opinião nos comentários, queremos saber sua visão sobre esse modo de vida.



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