A maior fabricante de trens do mundo prepara sua estreia industrial no Brasil com um investimento milionário e planos de produção no interior de São Paulo, marcando uma nova fase no setor metroferroviário nacional.
A CRRC, maior fabricante de trens do mundo e controlada pelo governo chinês, vai instalar uma operação industrial em Araraquara (SP) com investimento inicial de R$ 50 milhões, ocupando a estrutura que pertenceu à Hyundai Rotem e prevendo início de produção em 2026 para atender encomendas do Metrô de São Paulo.
A Hyundai Rotem é uma fabricante sul-coreana de material ferroviário e sistemas de defesa, integrante do grupo Hyundai Motor Group, mas não é a mesma empresa responsável pela produção de automóveis Hyundai. Embora façam parte do mesmo conglomerado, atuam em segmentos industriais distintos.
De acordo com o site Invest News, em vídeo publicado neste domingo (10), trata-se do primeiro polo fabril da CRRC no país, após anos atuando por meio de importações e contratos de fornecimento.
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O que muda com a chegada da CRRC
A decisão marca um movimento de reindustrialização do setor metroferroviário paulista e reforça a presença da estatal chinesa no Brasil em projetos estratégicos de mobilidade urbana.
A CRRC assume fábrica em Araraquara com foco em montagem local, integração de sistemas e comissionamento de trens, em linha com exigências de nacionalização progressiva.
O governo paulista confirma a contratação de 44 novos trens para as Linhas 1-Azul, 2-Verde e 3-Vermelha, com o primeiro trem previsto para 21 meses após a assinatura do contrato.
Segundo publicações setoriais, o plano é ocupar e arrendar a antiga estrutura produtiva, hoje ociosa, sujeito a aprovações regulatórias como a do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).
A meta é começar a montar trens em meados de 2026.
Essa etapa inaugura um ciclo industrial em que a CRRC assume fábrica em Araraquara e aproxima fornecedores locais da cadeia global da companhia.
O investimento inicial é estimado em R$ 50 milhões, com geração de empregos diretos e indiretos na região, embora números detalhados possam variar conforme o ramp-up de produção.
Como a fábrica ficou ociosa
A ociosidade remonta a 2013, quando a Hyundai Rotem, em consórcio com a brasileira IESA, venceu uma licitação para fornecer 30 trens de oito carros (240 carros) à CPTM, num contrato de R$ 788 milhões.
Com a crise financeira da IESA, a Rotem teve de assumir a produção, decidiu erguer uma planta própria em Araraquara e concluiu as entregas com atraso, encerrando o ciclo em 2019.
A partir daí, faltaram novas encomendas e o galpão perdeu atividade.
Esse histórico ajuda a explicar por que a CRRC assume fábrica em Araraquara: há infraestrutura industrial instalada, acesso logístico e mão de obra treinável, elementos que reduzem tempo e custo de implantação.
Carteira atual da CRRC no Brasil
Em 2025, a companhia assinou contrato para entregar 44 trens ao Metrô de São Paulo, que reforçarão a frota das linhas 1, 2 e 3 e apoiarão a expansão da Linha 2-Verde até a Penha.
O cronograma prevê o primeiro trem em cerca de 21 meses e entregas distribuídas por até 70 meses.
A presença da estatal chinesa no Brasil não é inédita em termos de fornecimento: a empresa fabricou os trens da Série 2500 para a Linha 13-Jade (CPTM), entregues em 2019, e atua no estado do Rio de Janeiro com frotas na SuperVia e no MetrôRio, num total de 134 composições em operação.
Em Minas Gerais, o governo estadual visitou linha de produção na China para acompanhar os novos trens do metrô da Região Metropolitana de Belo Horizonte.
Essa soma de contratos cria escala para justificar a montagem nacional e dá sustentação ao passo seguinte: a CRRC assume fábrica em Araraquara para internalizar etapas de produção, testes e manutenção.
Do consórcio IESA-Rotem ao novo ciclo industrial
A licitação de 2013 da CPTM marcou a virada do polo ferroviário regional ao estabelecer a produção de 240 carros em Araraquara.
Com a saída da IESA, a Hyundai Rotem investiu na planta local e finalizou a Série 9500 da CPTM entre 2017 e 2019.
Sem novas encomendas a partir de 2020, a unidade perdeu tração.
Agora, a CRRC assume fábrica em Araraquara e inaugura uma nova fase, com contratos já firmados e um pipeline que inclui São Paulo e outras capitais.
Investimento, prazos e confirmações oficiais
O investimento inicial de R$ 50 milhões foi informado por fontes oficiais entre fim de julho e início de agosto de 2025, com produção prevista para 2026.
Em paralelo, o Governo de São Paulo anunciou R$ 3,1 bilhões para a compra de 44 trens, com o primeiro trem em 21 meses após a assinatura.
Até o fechamento desta matéria, não há divulgação pública de números finais de empregos além de estimativas da imprensa especializada.
Competição e impactos na cadeia de fornecedores
A chegada da estatal chinesa no Brasil reconfigura o tabuleiro com Alstom, CAF, Siemens e Hyundai Rotem.
Para Araraquara e entorno, a CRRC assume fábrica em Araraquara e tende a atrair empresas de componentes, sinalização, portas, ar-condicionado e sistemas de tração.
O efeito multiplicador dependerá de exigências de conteúdo local e dos resultados dos primeiros trens montados no país.
Efeitos para os passageiros
Com mais competição e montagem local, a expectativa é reduzir prazos de entrega e facilitar manutenção por disponibilidade de peças no Brasil.
No Metrô de São Paulo, os 44 novos trens deverão atender picos de demanda das Linhas 1, 2 e 3, especialmente na fase de expansão da Linha 2-Verde até Penha.
A consolidação da estatal chinesa no Brasil pode acelerar projetos como o Trem Intercidades (TIC).
Perfil global da CRRC
A CRRC é reconhecida internacionalmente como a maior fabricante de material rodante do mundo em receita.
Em 2023, o grupo reportou crescimento de receita em relação a 2022, segundo documentos públicos.
O porte global ajuda a explicar a capacidade de escalar investimentos como o de Araraquara.
Com contrato assinado para 44 trens, investimento de R$ 50 milhões e produção em 2026, a CRRC assume fábrica em Araraquara e reposiciona o interior paulista no mapa ferroviário.
Diante desse cenário, qual deve ser a prioridade da política industrial para maximizar emprego e conteúdo nacional nessa nova fase da mobilidade sobre trilhos?