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No Brasil, quem ganha entre R$ 6 mil e R$ 26 mil paga proporcionalmente mais Imposto de Renda do que milionários, porque 71% da renda dos muito ricos vem de lucros e dividendos isentos

Escrito por Bruno Teles
Publicado em 12/09/2025 às 20:56
No Brasil, estudo do Sindifisco mostra que a alíquota efetiva penaliza a classe média no Imposto de Renda enquanto lucros e dividendos seguem isentos.
No Brasil, estudo do Sindifisco mostra que a alíquota efetiva penaliza a classe média no Imposto de Renda enquanto lucros e dividendos seguem isentos.
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Relatório revela que, no Brasil, quem ganha entre R$ 6 mil e R$ 26 mil paga proporcionalmente mais Imposto de Renda do que milionários, porque 71% da renda dos mais ricos vem de lucros e dividendos isentos.

Um estudo do Sindicato Nacional dos Auditores-Fiscais da Receita Federal (Sindifisco), com base nas declarações do Imposto de Renda de 2024 (ano-calendário 2023), expôs uma das maiores contradições da tributação brasileira. Os dados mostram que trabalhadores da classe média e da classe média alta pagam proporcionalmente mais imposto que os milionários, evidenciando uma lógica regressiva.

Segundo o levantamento, quem recebe salários entre R$ 6 mil e R$ 26 mil mensais — faixa que concentra grande parte dos profissionais assalariados de nível superior — arca com alíquotas efetivas que chegam a ser o dobro da carga suportada pelos super-ricos. Já entre os milionários, a alíquota média efetiva é de apenas 5,28%, menor do que a dos trabalhadores que recebem de 5 a 7 salários mínimos.

Quem paga mais e quem paga menos

O estudo detalha as faixas salariais e revela uma inversão da progressividade.

Trabalhadores que recebem entre 15 e 20 salários mínimos (R$ 19,8 mil a R$ 26,4 mil) enfrentam uma alíquota efetiva de 11,40%, mais que o dobro da tributação dos milionários.

Já os que ganham entre um e cinco salários mínimos pagam de 0,61% a 3,59%.

Ou seja, a partir de 5 salários mínimos já se paga mais do que milionários pagam em termos proporcionais.

Esse fenômeno mostra que, em vez de pesar sobre os mais ricos, o sistema brasileiro onera justamente a classe média tributária, composta por profissionais que dependem quase integralmente de salários e rendimentos tributáveis.

Por que os milionários pagam menos?

A explicação está na composição da renda. Entre os super-ricos, que recebem acima de 240 salários mínimos mensais (R$ 316,8 mil), 71% dos rendimentos vêm de lucros e dividendos isentos.

Isso significa que quase três quartos da renda desse grupo não sofre incidência de Imposto de Renda.

Já entre os trabalhadores que recebem salários, apenas 5% da renda é isenta, o que explica a maior pressão tributária.

Em 2023, lucros e dividendos somaram R$ 700 bilhões em rendimentos isentos, um salto de 14% em relação a 2022.

Esse benefício fiscal, em vigor desde os anos 1990, é apontado por especialistas como um dos principais fatores da desigualdade tributária brasileira.

A pejotização e a blindagem dos mais ricos

A isenção de lucros e dividendos também alimenta o fenômeno da pejotização.

Muitos profissionais, especialmente nas áreas de saúde, tecnologia e serviços jurídicos, optam por abrir empresas (pessoas jurídicas) para receber sua remuneração como lucro distribuído, em vez de salário.

Dessa forma, conseguem escapar da tabela progressiva do IR, que chega a 27,5% sobre salários, pagando percentuais muito menores no regime de pessoa jurídica.

O resultado é um sistema distorcido, em que quem vive de salário paga mais que quem vive de capital.

A concentração de renda no topo

O relatório também confirma a desigualdade de distribuição da renda declarada. 94% dos declarantes têm até 20 salários mínimos, mas ficam com apenas 52% do total de rendimentos.

Os 6% mais ricos concentram 48% da renda, sendo que, nesse grupo, predominam justamente os rendimentos isentos.

Segundo o presidente do Sindifisco, Dão Real Pereira dos Santos, essa realidade demonstra que a tributação brasileira amplia a desigualdade social em vez de reduzi-la.

Ele alerta que, enquanto a classe média vê sua alíquota efetiva subir, os milionários se beneficiam de uma estrutura legal que os protege.

O impacto da reforma tributária

O tema ganhou força com a reforma tributária aprovada em 2023, que tratou inicialmente de impostos sobre consumo, mas deixou a parte sobre renda para etapas posteriores.

Em agosto de 2025, a Câmara aprovou a urgência de um projeto que amplia a faixa de isenção para rendas de até R$ 5 mil mensais, promessa de campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

No entanto, a discussão mais polêmica é a tributação de lucros e dividendos.

Se aprovada, pode alterar significativamente a lógica atual, aproximando o Brasil de países da OCDE, onde esse tipo de renda é tributado.

Também está em debate a criação de uma alíquota mínima para altas rendas, medida vista como essencial para restaurar a progressividade do sistema.

O que pode mudar e o que ainda falta resolver

Para o Sindifisco, corrigir a tabela do IR e revogar a isenção de lucros e dividendos seriam os passos fundamentais para um sistema mais justo.

Mas, como alerta Dão Real Santos, esse processo não será imediato.

Ele afirma que a discussão deve se encerrar em 2026, mas não necessariamente com soluções definitivas.

Enquanto isso, milhões de brasileiros continuarão a sentir na prática a desigualdade do sistema.

A classe média, que sustenta o grosso da arrecadação, segue pagando proporcionalmente mais do que os milionários, que conseguem blindar sua renda.

O estudo do Sindifisco mostra com clareza que o Imposto de Renda no Brasil não cumpre sua função de progressividade, já que os milionários pagam proporcionalmente menos do que a classe média.

A manutenção da isenção sobre lucros e dividendos representa um privilégio que gera distorções e desigualdade.

E você, acredita que a tributação sobre lucros e dividendos deve ser revista? Acha justo que trabalhadores assalariados paguem mais que milionários? Deixe sua opinião nos comentários — queremos ouvir quem sente esse peso no bolso todos os meses.

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Bruno Teles

Falo sobre tecnologia, inovação, petróleo e gás. Atualizo diariamente sobre oportunidades no mercado brasileiro. Com mais de 7.000 artigos publicados nos sites CPG, Naval Porto Estaleiro, Mineração Brasil e Obras Construção Civil. Sugestão de pauta? Manda no brunotelesredator@gmail.com

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