Nissan enfrenta o maior prejuízo em décadas e anuncia medidas drásticas para conter a crise. Demissões em massa, suspensão de dividendos e mudanças no comando da montadora indicam instabilidade sem precedentes no setor automotivo japonês.
A montadora japonesa Nissan atravessa uma crise financeira e administrativa sem precedentes, após registrar um prejuízo de US$ 4,5 bilhões no último ano fiscal, anunciar a demissão de 20 mil funcionários e promover uma ampla reformulação em sua diretoria.
Na assembleia geral realizada em 24 de junho de 2025, na sede da Nissan em Yokohama (Japão), o CEO Ivan Espinosa anunciou um prejuízo líquido recorde de US$ 4,5 bilhões no ano fiscal encerrado em março — valor que representa a pior perda da companhia desde 1999.
Além disso, Espinosa não apresentou previsão de lucro para o novo exercício, estimando uma perda operacional de ¥ 200 bilhões (US$ 1,38 bilhão) só no primeiro trimestre.
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Em resposta ao colapso financeiro, a montadora suspendeu a distribuição de dividendos, gerando insatisfação entre os acionistas.
Demissões em massa e fechamento de fábricas na NIssan
Como parte do plano de recuperação, a Nissan acelerou a demissão de 20 000 funcionários, cerca de 15% do quadro global, elevando o corte — antes previsto em 9 000 — para o nível atual.
A companhia também anunciou o fechamento de sete das 17 fábricas até 2027, reduzindo seu escopo operacional a apenas dez unidades.
A meta é racionalizar a capacidade instalada, eliminando cerca de 30% da infraestrutura fora da China e voltada ao mercado global.
Críticas e mudanças na liderança da Nissan
Durante a assembleia, muitos acionistas criticaram a montagem da diretoria e questionaram a legitimidade da escolha de Makoto Uchida como CEO anterior, apontando que seus indicados também deveriam responder pela crise.
Houve proposta afirmando que “a capacidade de Uchida como executivo é extremamente baixa” — porém, a moção foi rejeitada pela diretoria.
A Nissan substituiu Uchida e Jean‑Dominique Senard, presidente do conselho da Renault, como parte da reestruturação no topo corporativo.
Ainda assim, a transição interna foi considerada lenta por críticos, que enfatizaram que os trabalhadores com carteira assinada estão arcando com os custos, enquanto altos executivos mantêm seus cargos.
Fatores externos dificultam recuperação
O desempenho fraco se soma à desaceleração das vendas em Estados Unidos e China, sede dos principais mercados da Nissan.
Aos efeitos das vendas minguantes, somam-se os reflexos das tarifas de até 25% dos EUA sobre veículos importados, cobradas desde abril sob a administração Trump, e as pressões de fabricantes chineses de carros elétricos.
Somam-se, ainda, cancelamentos de projetos estratégicos, como a fábrica de baterias em Kitakyushu (Japão), cujas obras foram suspensas no novo plano, e o fim das negociações da fusão com a Honda, pagas com perda substancial de tempo e investimento.
Estratégia de reestruturação e metas de recuperação
Para enfrentar a crise, o plano do CEO Ivan Espinosa prevê:
Redução de 500 bilhões de ienes (aprox. US$ 3,4 bi) em custos operacionais, em dois anos — cerca de 37,5% a mais que o plano anterior liderado por Uchida.
Realocação de 3 000 funcionários para funções de melhoria contínua e inovação nos ciclos de desenvolvimento de produto.
Meta de retorno à lucratividade até o ano fiscal de 2026, com receita estimada em 3,25 milhões de unidades, levemente abaixo dos 3,3 milhões vendidos em 2024.
No entanto, a concretização desse plano enfrenta riscos — inclusive acusações de que o corte de pessoal desloca o ônus da crise para a base da pirâmide, sem responsabilizar o topo executivo.
Mercado reage com queda e rebaixamento da nota de crédito
No último ano, as ações da Nissan sofreram queda de cerca de 36%, refletindo o clima de instabilidade e frustração dos investidores.
A montadora viu sua nota de crédito rebaixada a nível especulativo (junk) devido ao fluxo de caixa negativo continuado.
Analistas estimam expectativa de perda operacional de até ¥ 450 bilhões (~US$ 2,1 bi) no ano encerrado em março de 2026, especialmente se os tarifários dos EUA se mantiverem.
Nissan e a pressão por controle sobre subsidiárias
Acionistas ativistas, como o fundo Strategic Capital, pressionaram por maior transparência e controle sobre a Nissan Shatai — subsidiária listada da aliança Renault‑Nissan —, seguindo exemplo da Toyota, que planeja privatizar a Toyota Industries.
A proposta, rejeitada na assembleia, pedia revisão anual da relação com a subsidiária, mas a direção da Nissan alegou que mudanças dificultariam a flexibilidade operacional.
Mas será suficiente para resgatar a confiança dos acionistas, reverter a derrocada nas ações, reequilibrar a estrutura de custos e evitar um colapso total da marca?