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Ninguém quer trabalhar em supermercado e o culpado é o próprio setor: jovens rejeitam baixos salários e jornadas exaustivas, enquanto redes recorrem ao Exército, idosos e aposentados para preencher vagas

Escrito por Felipe Alves da Silva
Publicado em 24/10/2025 às 01:08
Atualizado em 23/10/2025 às 23:59
Crise de contratação em supermercados brasileiros com caixas vazios e ausência de funcionários.
Supermercados brasileiros enfrentam escassez de mão de obra e recorrem a novas estratégias para manter operações. Créditos: Imagem ilustrativa criada por IA – uso editorial.
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Mesmo com mais de 350 mil vagas abertas, redes de supermercados enfrentam crise inédita de contratação e recorrem a alternativas improváveis para manter lojas funcionando

Nos anos 2000, trabalhar em supermercado era quase um ritual de passagem. Ser empacotador, operador de caixa ou repositor era sinônimo de conquista: o primeiro contracheque, a primeira independência e o primeiro “barzinho” no fim de semana.
Mas duas décadas depois, essa realidade desapareceu. Hoje, mesmo com centenas de milhares de vagas abertas, o setor supermercadista simplesmente não consegue contratar. E o problema não é falta de gente, e sim de atratividade.

O desemprego está em seu menor nível histórico — 6,6% segundo o IBGE — e a internet redefiniu completamente o modo como os jovens encaram o trabalho. O modelo tradicional de oito horas diárias, sem ar-condicionado, salário mínimo e pouca perspectiva de crescimento, perdeu o apelo. Como resume o vice-presidente da Abras (Associação Brasileira de Supermercados), Marcio Milan, “os jovens que tinham o supermercado como primeiro emprego preferem hoje trabalhos informais pela flexibilidade”.

Crise de contratação em supermercados brasileiros com caixas vazios e ausência de funcionários.
Supermercados brasileiros enfrentam escassez de mão de obra e recorrem a novas estratégias para manter operações. Créditos: Imagem ilustrativa criada por IA – uso editorial.

Mercado em transformação: vagas sobram, mas o modelo ficou ultrapassado

A escassez de mão de obra é um retrato de um novo tempo. Se antes os trabalhadores procuravam emprego, hoje são as empresas que procuram trabalhadores. Mesmo quando conseguem preencher uma vaga, a rotatividade é alta e muitos funcionários abandonam o cargo em poucas semanas.

Os motivos são claros: salários baixos, funções acumuladas e jornadas longas. Em Nova Iguaçu (RJ), por exemplo, uma vaga de operador de caixa oferecia R$ 1.600, mas incluía também tarefas de limpeza e reposição — um “faz tudo” disfarçado. Quando se compara esse valor ao custo de vida, a conta simplesmente não fecha. A cesta básica custa cerca de R$ 432, o aluguel de um pequeno apartamento ultrapassa R$ 900, e somando luz e transporte, o salário desaparece antes do fim do mês.

Conforme análise da Elementar, muitos trabalhadores têm preferido alternativas informais, mesmo sem estabilidade, apenas para escapar do modelo engessado e mal remunerado. E esse comportamento não é isolado. Casos como o da rede Hirota, que não conseguiu preencher 80 vagas em São Paulo e precisou deslocar funcionários de outras unidades, se tornaram cada vez mais comuns.

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Empresas recorrem ao Exército e aos aposentados para driblar a escassez

A dificuldade de contratação forçou redes a adotar estratégias inusitadas. Algumas, como o Carrefour, contrataram 53 mil pessoas via CadÚnico apenas em 2024, priorizando famílias de baixa renda. Outras recorreram a idosos, aposentados e pessoas com deficiência, reconhecendo neles um perfil mais estável e disciplinado.

A aposta mais curiosa veio das parcerias com o Exército Brasileiro. Supermercados passaram a recrutar jovens reservistas recém-egressos do serviço militar, partindo da lógica de que disciplina e rotina poderiam se traduzir em resiliência no ambiente de trabalho. De acordo com a Abras, 80% desses reservistas conseguem emprego logo após deixar a farda, um dado que evidencia o esforço do setor para preencher vagas.

Ainda assim, a reposição de mão de obra continua problemática. O economista Fabio Bentes, da CNC, afirma que “aumentar o salário inicial acima da média do mercado é uma das poucas estratégias eficazes para atrair candidatos”. No entanto, mesmo com reajustes, muitos trabalhadores não permanecem. O setor virou uma esteira girando sem parar.

Automação e autoatendimento: a nova aposta dos supermercados

Diante das margens de lucro apertadas — entre 2% e 5% — e da dificuldade de aumentar salários, o setor tem investido pesado em tecnologia. O autoatendimento e os self-checkouts se espalharam por redes como o Pão de Açúcar, que já possui 90% das lojas automatizadas, e o Hortifruti, que ampliou o sistema até para pesagem de frutas e verduras.

Segundo a consultoria RBR, o Brasil já conta com 8 mil unidades de autoatendimento, número que cresce rapidamente. Contudo, em países como o Reino Unido e os EUA, algumas redes estão revertendo a automação por causa de queixas de lentidão, furtos e impessoalidade. No Brasil, ainda há espaço para expansão, mas especialistas alertam: sem melhoria nas condições humanas, a tecnologia não resolve a crise estrutural.

Enquanto isso, o supermercado — que já foi o primeiro emprego dos jovens — hoje é visto como o último recurso. O setor tenta se reinventar com reservistas, idosos e automação, mas enfrenta uma barreira mais profunda: a falta de motivação e propósito. E a pergunta que fica é — se ninguém quer mais trabalhar em supermercado, o que será do varejo no futuro?

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Izaiah Cortez
Izaiah Cortez
24/10/2025 02:47

Great visuals and clear captions — they added a lot of value.

Felipe Alves da Silva

Sou Felipe Alves, com experiência na produção de conteúdo sobre segurança nacional, geopolítica, tecnologia e temas estratégicos que impactam diretamente o cenário contemporâneo. Ao longo da minha trajetória, busco oferecer análises claras, confiáveis e atualizadas, voltadas a especialistas, entusiastas e profissionais da área de segurança e geopolítica. Meu compromisso é contribuir para uma compreensão acessível e qualificada dos desafios e transformações no campo estratégico global. Sugestões de pauta, dúvidas ou contato institucional: fa06279@gmail.com

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