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Ninguém quer trabalhar e o culpado é o Bolsa Família, diz setor: estudo da FGV revela que jovens preferem informalidade para manter auxílio, apontado por empresários como vilão da escassez de mão de obra no comércio e serviços

Escrito por Alisson Ficher
Publicado em 13/10/2025 às 14:15
Estudo da FGV aponta que o Bolsa Família pode reduzir a oferta de trabalho formal, afetando comércio e serviços no Brasil.
Estudo da FGV aponta que o Bolsa Família pode reduzir a oferta de trabalho formal, afetando comércio e serviços no Brasil.
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Estudo do Ibre-FGV indica que o aumento do valor do Bolsa Família impactou a oferta de trabalhadores menos qualificados. Empresários relatam dificuldade para preencher vagas e defendem ajustes no programa para estimular a formalização.

A combinação de taxa de desocupação baixa, expansão recente do Bolsa Família e mudança de perfil da força de trabalho reacendeu o debate sobre a falta de mão de obra no comércio e nos serviços.

Segundo reportagem publicada pelo jornal Diário do Comércio, assinada pela jornalista Karina Lignelli, levantamento do Ibre-FGV indica que o benefício, hoje com valor médio de R$ 671,54, teria reduzido a oferta de trabalhadores menos qualificados e estimulado a permanência na informalidade, sobretudo entre jovens.

Para empresários e economistas ouvidos pela publicação, o cenário de mercado apertado seria propício a ajustes no desenho dos programas assistenciais.

Pleno emprego pressiona contratações

Com a desocupação em 5,6% em agosto, o mercado opera próximo ao que economistas chamam de pleno emprego.

Nesse contexto, empresas relatam dificuldade crescente para preencher vagas operacionais em supermercados, padarias, agricultura e outras atividades intensivas em mão de obra.

De acordo com apuração do Diário do Comércio, parte dos candidatos recusa vínculos formais para não perder o auxílio.

Em regiões com alta concentração de beneficiários, há relatos de situações em que “há mais pessoas recebendo Bolsa Família que empregados com carteira assinada”, segundo o economista-chefe da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), Marcel Solimeo.

Estudo da FGV aponta que o Bolsa Família pode reduzir a oferta de trabalho formal, afetando comércio e serviços no Brasil.
Estudo da FGV aponta que o Bolsa Família pode reduzir a oferta de trabalho formal, afetando comércio e serviços no Brasil.

O que diz o estudo do Ibre-FGV

A pesquisa conduzida por Daniel Duque, do Ibre-FGV, relaciona a ampliação do benefício ao comportamento de participação no mercado de trabalho.

O valor do programa, que era de R$ 190 em 2019, subiu para cerca de R$ 400 após a pandemia, alcançou R$ 600 em 2022 e passou a representar 35% da renda mediana do trabalho, ante 15% anteriormente.

O número de famílias atendidas teria saltado de 14 milhões para 21 milhões, enquanto o orçamento anual aproximou-se de R$ 170 bilhões.

Segundo o jornal, a taxa de participação não retornou ao padrão pré-pandemia e a expansão do benefício ajudou a explicar o descompasso.

Entre homens de 17 a 30 anos, a oferta de trabalho teria caído com mais intensidade, assim como a busca por postos formais.

Duque resume a dinâmica ao afirmar que “quem mais reage ao aumento de renda do Bolsa Família são os homens, que têm maior probabilidade de estar em ocupações formais e menos restrições de tempo impostas pela família”.

Ele também observa um efeito limiar: grupos recém-elegíveis teriam reduzido a participação laboral em 11% frente famílias quase idênticas que ficaram de fora por pequena diferença de renda — o que se traduz, no cálculo do pesquisador, na ideia de que “a cada duas famílias que recebem Bolsa Família, uma sai da força de trabalho”.

Incentivos e a “regra de proteção”

A partir de junho, passou a vigorar a regra de proteção: famílias que ultrapassam a renda per capita de R$ 218 podem permanecer por até 12 meses no programa, recebendo 50% do valor.

A intenção do governo foi suavizar a transição para o emprego formal e reduzir o receio de perder o benefício de forma abrupta.

Na prática, porém, empresários relatam que o incentivo ainda é insuficiente para reter candidatos, especialmente em vagas de salários baixos e jornadas extensas.

Para Solimeo, o ideal é manter uma “porta de saída” efetiva, com avaliações periódicas, capacitação e assistência à recolocação: “o cidadão deslanche na vida profissional”, afirmou ao Diário do Comércio.

Falta de mão de obra no comércio e serviços

No comércio e nos serviços, a queixa é recorrente. Há dificuldade para preencher posições básicas, rotatividade em alta e maior concorrência com ocupações por conta própria.

A avaliação de parte do empresariado, relatada pela reportagem, é que o custo do emprego formal — impulsionado por encargos da CLT — torna menos atraente a contratação, enquanto a renda garantida do programa, somada a bicos e aplicativos, sustenta escolhas mais flexíveis.

O jornal também apontou que há preocupação com o quadro fiscal: gastos elevados empurrariam os juros para cima e encareceriam o crédito, afetando investimento e produtividade.

Estudo da FGV aponta que o Bolsa Família pode reduzir a oferta de trabalho formal, afetando comércio e serviços no Brasil.
Estudo da FGV aponta que o Bolsa Família pode reduzir a oferta de trabalho formal, afetando comércio e serviços no Brasil.

Vozes da academia e do setor empresarial

Para Antonio Lanzana, economista e professor da FEA-USP, empresas de menor porte são as mais afetadas, pois dependem de trabalhadores com baixa qualificação.

Ele reconhece que muitos potenciais empregados evitam vínculos formais para não perder o benefício ou preferem atividades informais, o que cria desalinhamento no mercado formal. Ainda assim, pondera que as transferências não explicam tudo.

demografia desfavorável, com perda do contingente jovem; crescimento acima do potencial em parte do período pós-pandemia, exaurindo a ociosidade; e atração por apps e trabalho flexível, que competem com o emprego tradicional.

“Não vejo movimentos na área empresarial para revisão desse tipo de benefício, mas as críticas existem no sentido de que há excesso de gastos públicos — o que obriga o Banco Central a manter taxas de juros elevadas que prejudicam a gestão empresarial”, disse Lanzana em entrevista ao Diário do Comércio.

Produtividade, qualificação e renda

Outro ponto recorrente no debate é a baixa produtividade. Empresários e economistas defendem que ganhos sustentáveis viriam de investimentos em educação e saúde, além de qualificação profissional.

Houve aumento real da remuneração média nos últimos trimestres e expansão da massa de rendimentos, impulsionada tanto pelo trabalho quanto pelas transferências.

O efeito colateral seria a maior dificuldade das empresas em recrutar, especialmente para funções de entrada, pressionadas por salários pouco competitivos diante do pacote de renda familiar.

O papel do congelamento e o risco político

Duque ressalta que, após a forte expansão até 2023, o programa não avançou entre 2024 e 2025, o que relativiza sua explicação para a escassez mais recente de mão de obra.

Ele observa que o governo evitou reajustar o valor do benefício pela inflação para conter distorções, decisão que, com o tempo, reduz o poder de compra do auxílio e pode tornar o emprego formal mais atrativo.

O pesquisador também aponta o custo político de reformas: o valor fixo e padronizado do benefício ganhou popularidade e se tornou sensível a mudanças, diferentemente do antigo modelo per capita, que variava conforme a composição familiar e tinha melhores resultados no combate à pobreza, mas era de comunicação difícil, conforme destacou o Diário do Comércio.

Propostas na mesa: redesenho e condicionantes

Entre sugestões ventiladas no meio empresarial estão ajustes no valor de referência e reforço de condicionantes ligadas à educação e à produtividade.

Há quem defenda transferências direcionadas a mães com filhos pequenos e a jovens que saíram da escola para complementar renda, como forma de mitigar efeitos negativos sobre o mercado de trabalho sem enfraquecer a proteção social.

Outra proposta recorrente é ampliar treinamento e intermediação de mão de obra, com metas mensuráveis, de modo a garantir que a “porta de saída” seja concreta e não apenas retórica.

Fatores estruturais seguem pesando

Mesmo críticos do desenho atual reconhecem que o Bolsa Família é apenas uma peça do quebra-cabeça. A queda na natalidade e o envelhecimento populacional comprimem a base jovem, essencial para setores intensivos em trabalho.

A preferência por ocupações flexíveis cresceu, e o custo do emprego formal segue elevado.

Sem avanços em educação básica, formação técnica e ambiente de negócios, especialistas avaliam que as empresas continuarão disputando um contingente limitado de trabalhadores, com ou sem auxílio.

Na sua visão, o que deve pesar mais no curto prazo: ajustes no benefício para calibrar incentivos ou medidas para baratear o emprego formal e acelerar a qualificação, sem perder de vista a proteção aos mais vulneráveis?

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Gyselle
Gyselle
20/10/2025 14:01

É verdade, as pessoas não querem mais a humilhação dessas vagas de salários baixos e jornadas extensas e extenuantes… ofereçam mais que a mão de obra aparece.
Você trabalharia, pesadamente, 8h a 12h, sem benefícios relevantes, por R$ 2.500,00 ****?

Sergio
Sergio
20/10/2025 13:34

Não é so isso, as empresas estão exigindo de forma velada, vacina contra covid, mesmo algumas ja terem parado de fabrica por efeitos colaterais

W. Arruda
W. Arruda
20/10/2025 13:32

Quem gasta mais do que arrecada, terá que oferecer títulos públicos, com taxas de retorno atrativas. Para o empresariado, juros altos, torna o dinheiro mais caro. Crédito mais caro e carga tributária absurda, afugenta investidores que acabam levando seu patrimônio para outras paragens. O maior problema está no desgoverdo, desse atual governo, que têm um ministro da economia, que nem economista é. Está pronta a receita do fracasso.

Alisson Ficher

Jornalista formado desde 2017 e atuante na área desde 2015, com seis anos de experiência em revista impressa, passagens por canais de TV aberta e mais de 12 mil publicações online. Especialista em política, empregos, economia, cursos, entre outros temas e também editor do portal CPG. Registro profissional: 0087134/SP. Se você tiver alguma dúvida, quiser reportar um erro ou sugerir uma pauta sobre os temas tratados no site, entre em contato pelo e-mail: alisson.hficher@outlook.com. Não aceitamos currículos!

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