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Ninguém quer ser engenheiro? Mercado aquecido, mas sem profissionais: por que o Brasil corre contra o tempo para evitar um apagão na engenharia

Escrito por Alisson Ficher
Publicado em 19/08/2025 às 15:02
Mercado de engenharia aquecido enfrenta queda de estudantes e risco de déficit de 1 milhão de profissionais no Brasil até 2030.
Mercado de engenharia aquecido enfrenta queda de estudantes e risco de déficit de 1 milhão de profissionais no Brasil até 2030.
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Mercado aquecido e vagas abertas contrastam com queda de interesse em cursos de engenharia, gerando alerta de déficit de profissionais e risco de apagão até 2030, segundo entidades do setor.

Com o mercado de construção aquecido e vagas abertas, empresas relatam dificuldade para contratar engenheiros com o perfil exigido. Ao mesmo tempo, coordenações de curso observam queda no interesse de ingressantes.

O Confea alerta para risco de “apagão” na próxima década caso a tendência não mude. O resultado é um paradoxo: demanda firme, oferta de profissionais em desaceleração e um descompasso entre formação e expectativa do setor.

Mercado de construção enfrenta dificuldade para contratar

No Espírito Santo, representantes da construção civil descrevem um cenário de oportunidades não preenchidas.

“Daqui a pouco vamos acabar tendo um ‘apagão’ de mão de obra se isso continuar. Hoje temos um mercado de construção no Estado com muitas oportunidades de emprego. Diferente de outras áreas, temos vagas a serem preenchidas, mas temos dificuldade de achar pessoas qualificadas”, afirma Fernando Feltz, diretor do Sinduscon-ES.

O diagnóstico local ecoa em outras regiões, segundo o sindicato e conselhos profissionais.

Há ofertas, mas faltam candidatos aptos a assumir de imediato funções técnicas e de gestão de obra, o que leva empresas a prolongarem processos de seleção ou a investirem em treinamento interno.

Queda de ingressantes em engenharia preocupa universidades

Do lado da formação, coordenações relatam um recuo no número de estudantes que escolhem carreiras de engenharia.

“No ano passado, no Congresso Brasileiro de Engenharia, dados mostraram que está diminuindo a quantidade de alunos ingressantes ao longo dos anos. Também estamos observando isso no dia a dia. Há uma quantidade menor de estudantes interessados”, diz Clarisse Pereira, coordenadora dos cursos de Engenharia de Produção e Engenharia Civil do UniSales.

Para além do volume de matrículas, pesa o desalinhamento entre o que o jovem imagina e o que encontra no mercado.

“Não há um salário tão bom para todo mundo que se forma. Muitas empresas contratam com outras titulações, como auxiliar. Isso significa que quando se formam, não recebem a remuneração que esperavam”, afirma.

Esse choque de realidade tem desestimulado parte dos candidatos e contribuído para a evasão no ciclo inicial.

Mercado de engenharia aquecido enfrenta queda de estudantes e risco de déficit de 1 milhão de profissionais no Brasil até 2030.
Mercado de engenharia aquecido enfrenta queda de estudantes e risco de déficit de 1 milhão de profissionais no Brasil até 2030.

Desafios do início de carreira e expectativa salarial

O início da trajetória costuma exigir experiência, certificações e, em alguns casos, atuação em funções de apoio antes da progressão ao cargo pleno de engenheiro.

“O mercado espera que a pessoa se forme pronta e não é isso que acontece. Ela ainda vai precisar ganhar experiência, tirar certificações e fazer especializações. Aí sim você vai chegando no nível que o mercado espera”, explica Clarisse.

Esse degrau entre a formatura e a prática ajuda a entender por que vagas permanecem abertas.

Em vez de um profissional imediatamente pronto para gerir obra, orçamento e equipes, muitas empresas encontram recém-formados ainda na fase de consolidação técnica.

O período de transição se alonga quando os estágios foram pouco práticos ou quando a formação não contemplou softwares, normas e procedimentos adotados no dia a dia do canteiro.

Universidades atualizam currículos para reduzir defasagem

Universidades e centros universitários informam que vêm ajustando os currículos para reagir ao novo contexto.

No UniSales, foram incluídas atividades práticas desde os primeiros períodos, com projetos e resolução de problemas reais em parceria com o setor privado.

A mudança busca reduzir a distância entre sala de aula e obra, aproximando estudantes das rotinas de planejamento, segurança e controle de qualidade.

O movimento é percebido em outras instituições. “Os cursos de Engenharia estão passando por uma reestruturação, estão se atualizando”, destaca Geilma Vieira, subchefe do Departamento de Engenharia da Ufes.

Entre os focos, estão metodologias ativas, laboratórios integrados e ênfase em ferramentas digitais de projeto e gestão.

A expectativa é que a exposição antecipada a desafios concretos encurte a curva de aprendizado na entrada do mercado.

Mercado de engenharia aquecido enfrenta queda de estudantes e risco de déficit de 1 milhão de profissionais no Brasil até 2030.
Mercado de engenharia aquecido enfrenta queda de estudantes e risco de déficit de 1 milhão de profissionais no Brasil até 2030.

Confea alerta para risco de déficit até 2030

Conselhos profissionais elevam o tom do alerta. Para Vinicius Marchese, presidente do Confea, a tendência de queda na formação tem efeitos diretos no país.

“Ver a queda no número de formando em Engenharia no Brasil não é só uma estatística. É um alerta. Se essa tendência continuar, até 2030 podemos enfrentar um déficit de 1 milhão de engenheiros, e isso impacta diretamente o desenvolvimento do País”, afirmou em publicação nas redes sociais.

Embora a projeção dependa do comportamento de matrículas, evasão e absorção pelo mercado, a mensagem central é inequívoca: sem recompor a base de ingressantes e sem acelerar a transição da universidade para o trabalho, o país pode esbarrar em gargalos na execução de obras, na indústria e em setores intensivos em tecnologia.

Infraestrutura, energia, saneamento e habitação popular tendem a sentir primeiro.

Fatores que travam o funil de novos profissionais

Além de remuneração inicial aquém da expectativa, o funil é estreitado pela percepção de carreira longa até a autonomia técnica.

Parte dos estudantes migra para áreas com trajetória mais linear de crescimento salarial ou com rotinas menos sujeitas a deslocamentos e prazos rígidos de obra.

Por outro lado, empresas sinalizam que, para acelerar promoções, valorizam portfólios de projetos, experiência de estágio robusta e domínio de normas técnicas.

Em paralelo, há esforço para elevar a atratividade da graduação: feiras de profissões, editais de iniciação tecnológica e programas de residência em engenharia tentam mostrar, já no primeiro ano, as oportunidades de impacto social e inovação.

Coordenadores avaliam que a combinação de prática precoce, transparência sobre a trilha de carreira e comunicação clara sobre remuneração por etapas pode reduzir frustrações e reter talentos.

Correção de rota entre empresas e universidades

No curto prazo, sindicatos e empresas defendem ampliar parcerias com universidades para encurtar o caminho entre a teoria e a prática.

Projetos integradores e estágios supervisionados com metas objetivas aparecem como instrumentos para acelerar o desenvolvimento de competências essenciais.

Enquanto isso, departamentos acadêmicos revisitam ementas, atualizam softwares utilizados nas disciplinas e incentivam certificações reconhecidas pelo setor.

Ainda assim, sem mais jovens optando pela engenharia e sem alinhamento de expectativas salariais na entrada, o descompasso tende a permanecer.

A convergência entre oferta e demanda exige sinalização clara do mercado, orientação profissional consistente no ensino médio e currículos que entreguem competências aplicáveis desde cedo. O desafio está posto e tem prazo curto: as obras e projetos não esperam.

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Andre
Andre
26/08/2025 14:36

Maior desgosto que tive foi fazer engenharia mecânica, atè gostava das materias mas a verdade è que nao se aprende o essencial que o mercado procura, 1. se aprende a dimensionar mas na hora H vc vai pro administrativo. 2. Uma porrada de matèria **** que so te consome tempo ,como noção de algoritmo, programacao basica, quimica de laboratorio, fisica de laboratorio etc 3. Nao ha o menor lobby no paìs assim como ocorre em direito ou medicina em que ha evolucao na carreira, entao vc nunca entra numa empresa como junior e sim como assistente de engenharia pra ganhar quase nada. Isso desanima absurdamente. Enfim a lista nao para……

Omara Guimarães
Omara Guimarães
26/08/2025 13:23

Fazer 5 anos em engenharia, ter nota boa, ser competente. Pra entrar num mercado super concorrido como Analista 2 de alguma empresa. Poucos engenheiros ficam como engenheiro na carteira de trabalho. Não vemos isso acontecendo na medicina , não existe Analista de medicina 1, 2, 3…

Augusto Cesare Stancato
Augusto Cesare Stancato
25/08/2025 00:39

Sou engenheiro aposentado, declaro que desde a a minha graduaçao em 1984 tive muita dificuldade em me inserir no mercado de trabalho e trabalhei de geaça para começar a ter experiencia que o mercado sempre exigiu e partir dai consegui melhorez oportunidades, porem sempre com um mercado muito oscilante na atea da construcao civil, posso dizer que hoje muita experiencia tanto na area da construçao civil como tambem na area educacional pois tambem investi em especializacao, atraves de um mestrado e doutorado. Hoje quero distancia de tudo isso, pois o retorno veio mas foi muito sacrificado. Area da construçao civil no Brasil merece esse desprezo dos candidatos que buscam areas com retorno profissional mais justo.

Alisson Ficher

Jornalista formado desde 2017 e atuante na área desde 2015, com seis anos de experiência em revista impressa, passagens por canais de TV aberta e mais de 12 mil publicações online. Especialista em política, empregos, economia, cursos, entre outros temas. Registro profissional: 0087134/SP. Se você tiver alguma dúvida, quiser reportar um erro ou sugerir uma pauta sobre os temas tratados no site, entre em contato pelo e-mail: alisson.hficher@outlook.com. Não aceitamos currículos!

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