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Neste duelo de gigantes, ou a Pepsi joga como a Coca-Cola ou seguirá sendo “amassada” pela rival — e a distância só vai crescer

Publicado em 16/09/2025 às 08:47
Pepsi, Coca-Cola, Mercado, Indústria
Imagem ilustrativa gerada por IA
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Coca-Cola fortaleceu margens ao focar em marketing e engarrafamento terceirizado, enquanto PepsiCo enfrenta pressão de investidores e queda nas vendas de snacks

A maioria das pessoas escolhe uma Coca-Cola ou uma Pepsi de forma simples, sem pensar muito. A decisão é influenciada pelo gosto, pelo hábito ou até pelo que aparece primeiro na geladeira. Poucos se questionam sobre quem leva a bebida até lá ou quem cuida do processo de engarrafamento.

Quinze anos atrás, tanto Coca-Cola quanto PepsiCo decidiram comprar de volta suas operações de engarrafamento.

O objetivo era fortalecer o controle das companhias sobre toda a cadeia de negócios. Mas o tempo mostrou que as escolhas seguintes colocaram as duas em caminhos diferentes.

A Coca-Cola optou por separar o negócio mais tarde, enquanto a PepsiCo decidiu manter tudo internamente. Essa diferença de estratégia se revelou decisiva.

O impacto da escolha

Livre dos caminhões e armazéns, a Coca-Cola concentrou suas forças no que sempre soube fazer: construir marca e eliminar produtos de baixo desempenho. O resultado foi ganho de foco e aumento de disciplina no portfólio.

Já a PepsiCo, muito mais diversificada por conta do imenso império de salgadinhos, permaneceu presa à complexidade.

Além de cuidar de frotas de caminhões, precisou lidar com equipes enormes de representantes de vendas espalhados pelo mercado.

O reflexo foi direto. Enquanto a Coca-Cola consolidou margens de lucro mais altas e expandiu a presença em pontos de venda, a PepsiCo viu sua divisão de bebidas na América do Norte perder força, ficando abaixo do desempenho de anos anteriores.

A lógica dos incentivos

A diferença está nos incentivos. Operadores independentes têm como único objetivo movimentar produtos.

Eles não enfrentam camadas pesadas de burocracia e são motivados a extrair o máximo de cada entrega.

Além disso, ao terceirizar uma parte tão capital-intensiva como a distribuição, a dona da marca libera recursos para investir em áreas mais estratégicas.

Essa lógica ajudou a Coca-Cola a aumentar sua eficiência. Na PepsiCo, porém, a escolha por manter o modelo integrado reduziu a flexibilidade.

A força e os limites da Frito-Lay

Durante muito tempo, os investidores relevaram os problemas da divisão de bebidas da PepsiCo. Isso porque a Frito-Lay, responsável por marcas como Doritos e Cheetos, sustentava os lucros com margens elevadas. Era a base sólida do grupo.

Mas essa blindagem começou a enfraquecer. A alta dos preços dos alimentos e a crescente preocupação com saúde afetaram a indústria de forma ampla.

A própria Frito-Lay registrou quedas nos volumes de vendas na América do Norte por vários trimestres.

O efeito disso ficou evidente no mercado. As ações da PepsiCo caíram quase 20% em dois anos, enquanto a Coca-Cola subiu 15% no mesmo período.

A entrada da Elliott Investment

Esse cenário abriu espaço para a Elliott Investment Management. O fundo adquiriu participação de US$ 4 bilhões na PepsiCo e trouxe um recado direto: a expansão do conglomerado não é mais um diferencial, mas sim um problema.

Apesar de faturar quase o dobro da rival em receita anual — US$ 92 bilhões contra cerca da metade da Coca-Cola — a PepsiCo vale no mercado aproximadamente dois terços do valor da concorrente.

A relação de preço sobre lucro também mostra a diferença: 17 vezes contra 22 vezes da Coca-Cola. Isso traduz o chamado “desconto de conglomerado”.

A onda de divisões

Os investidores estão cada vez mais impacientes com promessas de sinergia que não se confirmam. Por isso, empurraram gigantes tradicionais a se dividir.

A Kellogg separou cereais de lanches, a Kraft Heinz dividiu refeições de condimentos e a Keurig Dr Pepper trabalha para separar café de refrigerantes.

Com a PepsiCo, a pressão segue o mesmo caminho. A empresa insiste que a integração de alimentos e bebidas gera eficiência, mas muitos analistas veem esse discurso como mais retórico do que prático.

A resistência em se dividir

Uma cisão total entre salgadinhos e bebidas, contudo, não parece provável no curto prazo. Há cerca de dez anos, Nelson Peltz e o fundo Trian já tentaram essa estratégia, e a administração resistiu.

Além disso, nem todas as divisões de empresas do setor geraram resultados positivos. Das oito maiores na última década, três deram retornos negativos.

Portanto, a proposta da Elliott é mais limitada: reduzir custos, se desfazer de marcas com desempenho fraco, como a Quaker, e focar em crescimento. Muitas dessas medidas coincidem com o que a própria empresa já avaliava.

O dilema do engarrafamento

Revisitar o modelo de distribuição também está em discussão. Hoje, um quarto do sistema de bebidas da PepsiCo nos EUA é gerido por operadores independentes. Expandir esse modelo significaria enfrentar uma reestruturação complexa.

Os custos iniciais seriam altos, e os lucros poderiam ser pressionados por anos. A própria Coca-Cola passou por esse processo antes de colher resultados.

Ainda assim, a comparação mostra que valeu a pena: a margem operacional da Coca-Cola na América do Norte foi de 28,5% em 2024, contra apenas 11,2% da Pepsi.

A diferença no marketing

Enquanto isso, a Coca-Cola se beneficia de outro fator: maior capacidade de investir em marketing. Em 2023, destinou cerca de 6% das vendas para publicidade, contra 4,4% da Pepsi. Esse investimento reforça a presença da marca em cada relançamento ou campanha.

O resultado aparece nas prateleiras. A Coca-Cola Zero Açúcar, impulsionada por campanhas globais, ganhou força.

Já a Pepsi, com sua lata azul, caiu para a quarta posição no ranking de refrigerantes nos EUA, atrás da Dr Pepper e da Sprite.

O desafio da Pepsi

A Pepsi tenta reagir com campanhas como o retorno do “Desafio Pepsi” e a promoção da Pepsi Zero Açúcar.

Também aposta na ideia de que seu refrigerante combina melhor com refeições. Mas esses esforços de comunicação não resolvem o problema central: a falta de foco estratégico.

Como resumiu o analista Nik Modi, em décadas acompanhando o setor, quase nunca um dono de marca conseguiu ter sucesso duradouro como distribuidor.

A mensagem final é direta: a Pepsi não precisa reinventar o modelo. Ela só precisa olhar para a rival e seguir o exemplo que já está à frente.

Com informações de Invest News.

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Romário Pereira de Carvalho

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