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Nesse lugar proibido, nenhum humano pode pisar por pelo menos cem mil anos

Escrito por Alisson Ficher
Publicado em 19/09/2025 às 13:09
Finlândia cria repositório nuclear em Onkalo, projetado para armazenar resíduos radioativos a 430 metros de profundidade por 100 mil anos.
Finlândia cria repositório nuclear em Onkalo, projetado para armazenar resíduos radioativos a 430 metros de profundidade por 100 mil anos.
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Finlândia desenvolve o primeiro repositório geológico profundo do mundo para combustível nuclear usado, projetado para manter resíduos radioativos isolados da superfície por até 100 mil anos em rochas cristalinas a centenas de metros de profundidade.

A Finlândia se prepara para operar o primeiro repositório geológico profundo para combustível nuclear usado, projetado para manter material altamente radioativo isolado por até 100 mil anos.

O complexo, conhecido como Onkalo, fica em Olkiluoto, no município de Eurajoki, sudoeste do país, e representa uma virada de chave na gestão de rejeitos nucleares ao levar o descarte definitivo para entre 400 e 430 metros de profundidade no embasamento rochoso.

A caverna nuclear de Onkalo

Onkalo é a expressão finlandesa para “pequena cavidade”, mas aqui designa todo o sistema de deposição final: a planta de encapsulamento na superfície e a rede de túneis e câmaras subterrâneas onde os resíduos serão acomodados.

A companhia Posiva Oy, formada por operadores do setor elétrico finlandês, conduz o projeto com base no método KBS-3, que combina múltiplas barreiras de segurança para conter a radiação por prazos que ultrapassam muitas eras humanas.

Como funciona o armazenamento do lixo nuclear

Finlândia cria repositório nuclear em Onkalo, projetado para armazenar resíduos radioativos a 430 metros de profundidade por 100 mil anos.
Finlândia cria repositório nuclear em Onkalo, projetado para armazenar resíduos radioativos a 430 metros de profundidade por 100 mil anos.

O combustível esgotado, após décadas em armazenamento intermediário, será colocado em cápsulas de cobre com inserto de ferro e baixado por um elevador dedicado até o nível de deposição.

Cada cápsula ficará em um poço individual e será envolvida por argila bentonítica, que incha ao contato com a água, ajudando a manter o conjunto estável e longe de fissuras no granito.

Por fim, os túneis serão preenchidos e selados, de modo a reduzir ao máximo a interação com a superfície ao longo de milhares de anos.

A profundidade de cerca de 430 metros foi escolhida para equilibrar a menor fraturação acima e as tensões de rocha mais altas abaixo.

O cronograma e as licenças necessárias

Embora a mídia internacional tenha apresentado o projeto como um marco histórico, a operação plena depende de licenças.

A Posiva submeteu o pedido de licença operacional ao governo finlandês em 30 de dezembro de 2021.

Em janeiro de 2025, o regulador (STUK) indicou estar na fase final da análise técnica e previu entregar seu parecer ao Ministério da Economia “bem antes do fim do ano”.

Ou seja, a entrada em operação comercial está condicionada à conclusão desse trâmite.

Ensaios com cápsulas no subsolo

Enquanto aguarda a decisão regulatória, a Posiva concluiu, em março de 2025, o Trial Run of Final Disposal, uma sequência de testes com cinco cápsulas que passaram por inspeções, foram transferidas ao subsolo e posicionadas na cota de 430 metros.

O procedimento demonstrou a funcionalidade do fluxo industrial — do encapsulamento ao transporte e deposição — e permitiu validar rotinas de qualidade e materiais de vedação e preenchimento.

Esses ensaios não equivalem ao início do descarte definitivo, mas são um passo técnico relevante.

Por que o enterramento profundo é a solução adotada

Finlândia cria repositório nuclear em Onkalo, projetado para armazenar resíduos radioativos a 430 metros de profundidade por 100 mil anos.
Finlândia cria repositório nuclear em Onkalo, projetado para armazenar resíduos radioativos a 430 metros de profundidade por 100 mil anos.

Organismos setoriais consideram, há décadas, que a solução mais robusta para rejeitos de alto nível é o armazenamento geológico profundo, no qual o confinamento não depende de intervenção humana constante.

O raciocínio é simples: combinar barreiras artificiais altamente resistentes com uma barreira natural extremamente estável.

No caso finlandês, a escolha por Eurajoki resultou de estudos geológicos iniciados nos anos 1980 e da aprovação local e nacional do traçado do projeto.

Como outros países lidam com rejeitos nucleares

Nos Estados Unidos, o combustível usado permanece majoritariamente em armazenamento a seco nos próprios sítios das usinas, em cilindros metálicos selados protegidos por concreto.

O plano de longo prazo em Yucca Mountain, em Nevada, não saiu do papel, e a discussão sobre instalações interinas voltou à pauta em 2025 no Judiciário e nos órgãos reguladores.

Em paralelo, o país opera o WIPP, no Novo México, um repositório em camadas de sal a mais de 600 metros de profundidade — porém dedicado a rejeitos transurânicos de defesa, não a combustível nuclear usado.

A comparação ajuda a dimensionar o caráter pioneiro do modelo finlandês para combustível irradiado de usinas civis.

O significado dos cem mil anos

Finlândia cria repositório nuclear em Onkalo, projetado para armazenar resíduos radioativos a 430 metros de profundidade por 100 mil anos.
Finlândia cria repositório nuclear em Onkalo, projetado para armazenar resíduos radioativos a 430 metros de profundidade por 100 mil anos.

A cifra de 100 mil anos é frequentemente citada como horizonte de segurança, mas não significa que a cápsula dependa sozinha desse prazo.

O conceito KBS-3 leva em conta a degradação lenta de materiais, o isolamento por argila e a estabilidade do granito de idade bilionária.

Mesmo assim, a análise de corrosão do cobre em ambientes subterrâneos segue sendo tema de pesquisa e de avaliação regulatória, o que explica a cautela na liberação final da operação.

Esse escrutínio é parte do desenho institucional do projeto, pensado para resistir a cenários de longo prazo sem exigir manutenção humana contínua.

Interesse internacional no projeto

A atenção internacional cresceu com reportagens e vídeos sobre a “tumba geológica”, inclusive de veículos como a CNBC, que destacaram a escala do empreendimento e a ambição de torná-lo referência externa.

Esse interesse não altera a rotina de licenciamento, mas projeta Onkalo como estudo de caso para países que avaliam rotas semelhantes, como Suécia, Canadá e Suíça, em estágios distintos de decisão e obra.

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Alisson Ficher

Jornalista formado desde 2017 e atuante na área desde 2015, com seis anos de experiência em revista impressa, passagens por canais de TV aberta e mais de 12 mil publicações online. Especialista em política, empregos, economia, cursos, entre outros temas. Registro profissional: 0087134/SP. Se você tiver alguma dúvida, quiser reportar um erro ou sugerir uma pauta sobre os temas tratados no site, entre em contato pelo e-mail: alisson.hficher@outlook.com. Não aceitamos currículos!

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