Uma comunidade amazônica reinventou a mobilidade urbana ao abolir veículos motorizados, utilizando bicicletas para tudo, inclusive ambulâncias, em uma cidade suspensa sobre palafitas, onde rios funcionam como ruas e o transporte é pura criatividade e sustentabilidade.
No coração da Amazônia, na encantadora Ilha de Marajó, existe uma cidade que rompe com todos os paradigmas da mobilidade urbana moderna.
Afuá, no estado do Pará, é um município onde carros, motos e qualquer outro veículo motorizado são proibidos de circular.
Essa regra vale até mesmo para ambulâncias, que lá se locomovem pedalando.
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A cidade, suspensa sobre palafitas, é um verdadeiro símbolo de sustentabilidade, criatividade e adaptação ao meio ambiente.
Em vez do som dos motores, o que se ouve pelas ruas são os pedais girando e o barulho das águas que cortam o município.
Em Afuá, o tempo parece andar em duas rodas — ou com os próprios pés.
Uma cidade sobre palafitas
Construída em uma região alagadiça da Amazônia, Afuá literalmente flutua sobre a natureza.
Suas ruas são passarelas de madeira erguidas a cerca de 1,20 metro do chão, pois o solo está quase sempre submerso por rios e igarapés.
Não há asfalto.
Não há avenidas.
Em vez disso, há canais, pontes e uma rede elevada de caminhos de madeira.
Desde 2002, um decreto municipal proíbe a circulação de qualquer tipo de veículo motorizado nas vias urbanas.
A justificativa é prática: a infraestrutura da cidade não suporta carros, caminhões ou motos.
Mas o resultado dessa decisão é extraordinário: Afuá vive sem trânsito, sem buzinas, sem semáforos e sem placas.
A cidade funciona com base na convivência, no respeito mútuo e em um senso coletivo de organização que dispensa regras formais de tráfego.
Bicicletas, bicitáxis e bicilâncias
Cerca de 75% dos deslocamentos em Afuá acontecem em bicicletas ou veículos de propulsão humana.
E os moradores encontraram formas criativas de adaptar a bike às mais variadas funções do cotidiano.
O bicitáxi, por exemplo, é uma espécie de quadriciclo artesanal, resultado da junção de duas bicicletas.
Serve como transporte para passageiros, turistas e até noivas.
Já a bicilância é uma versão adaptada de ambulância.
Ela conta com suporte para oxigênio e uma maca para o transporte de pacientes.
Serviços como coleta de lixo e manutenção de equipamentos públicos também são feitos com triciclos e quadriciclos a pedal.
Até a polícia realiza patrulhamento de bicicleta.
Os únicos veículos motorizados da cidade pertencem a órgãos públicos e só são utilizados em emergências específicas.
Mesmo assim, eles ficam fora das vias suspensas, estacionados em áreas apropriadas e restritas.
Um modelo que desperta admiração
Afuá não escolheu essa forma de viver por modismo, mas por necessidade.
Contudo, acabou se tornando um modelo alternativo admirado por urbanistas e ambientalistas.
Enquanto metrópoles de todo o mundo buscam formas de reduzir a emissão de poluentes, o pequeno município paraense já vive esse futuro no presente.
Lá, a mobilidade é limpa, silenciosa e benéfica à saúde.
Ao se deslocarem diariamente com esforço físico, os moradores exercitam o corpo e mantêm hábitos mais ativos e saudáveis.
O simples ato de ir ao mercado ou visitar um vizinho se transforma em atividade física regular.
Esse estilo de vida também contribui para a saúde mental, promovendo bem-estar e conexão com a comunidade.
Rios são ruas e barcos, os ônibus
Na transição entre o meio rural e o urbano, Afuá encontrou nos rios um aliado natural.
As embarcações são os verdadeiros “ônibus” da cidade, servindo como principal meio de transporte entre comunidades ribeirinhas e localidades vizinhas.
Curiosamente, a cidade mais próxima não é Belém, a capital do estado do Pará.
É Macapá, no Amapá, acessível em cerca de três horas de barco.
Esse detalhe geográfico torna Afuá ainda mais singular, pois seu vínculo logístico está mais alinhado com outra unidade federativa.
O isolamento por terra não é visto como obstáculo.
Pelo contrário: é um fator que fortalece o estilo de vida peculiar e a relação dos habitantes com a natureza.
A ausência de rodovias pavimentadas, o convívio com os rios e a mobilidade sobre palafitas criam um ecossistema urbano único.
Um lugar onde a geografia dita as regras, mas a criatividade humana molda soluções funcionais e inspiradoras.
Um futuro que pedala no presente
Enquanto o mundo urbano busca soluções tecnológicas para crises ambientais, Afuá segue seu curso natural e silencioso.
A cidade é a prova viva de que inovação não depende apenas de avanços digitais ou grandes obras de infraestrutura.
Às vezes, a revolução vem do simples.
De andar de bicicleta, de ouvir o som da água, de viver com o que a terra oferece.
Afuá não apenas existe: ela resiste.
E inspira.
Você conseguiria viver em uma cidade onde o carro não tem vez e tudo funciona a pedaladas?