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Nessa cidade brasileira é proibido carro e até ambulância é de bicicleta

Escrito por Alisson Ficher
Publicado em 14/05/2025 às 21:10
Atualizado em 15/05/2025 às 15:20
Afuá, no Pará, é uma cidade onde carros são proibidos e ambulâncias são bicicletas, reinventando a mobilidade na Amazônia sobre palafitas.
Afuá, no Pará, é uma cidade onde carros são proibidos e ambulâncias são bicicletas, reinventando a mobilidade na Amazônia sobre palafitas.
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Uma comunidade amazônica reinventou a mobilidade urbana ao abolir veículos motorizados, utilizando bicicletas para tudo, inclusive ambulâncias, em uma cidade suspensa sobre palafitas, onde rios funcionam como ruas e o transporte é pura criatividade e sustentabilidade.

No coração da Amazônia, na encantadora Ilha de Marajó, existe uma cidade que rompe com todos os paradigmas da mobilidade urbana moderna.

Afuá, no estado do Pará, é um município onde carros, motos e qualquer outro veículo motorizado são proibidos de circular.

Essa regra vale até mesmo para ambulâncias, que lá se locomovem pedalando.

A cidade, suspensa sobre palafitas, é um verdadeiro símbolo de sustentabilidade, criatividade e adaptação ao meio ambiente.

Em vez do som dos motores, o que se ouve pelas ruas são os pedais girando e o barulho das águas que cortam o município.

Em Afuá, o tempo parece andar em duas rodas — ou com os próprios pés.

Uma cidade sobre palafitas

Construída em uma região alagadiça da Amazônia, Afuá literalmente flutua sobre a natureza.

Suas ruas são passarelas de madeira erguidas a cerca de 1,20 metro do chão, pois o solo está quase sempre submerso por rios e igarapés.

Não há asfalto.

Não há avenidas.

Em vez disso, há canais, pontes e uma rede elevada de caminhos de madeira.

Desde 2002, um decreto municipal proíbe a circulação de qualquer tipo de veículo motorizado nas vias urbanas.

A justificativa é prática: a infraestrutura da cidade não suporta carros, caminhões ou motos.

Mas o resultado dessa decisão é extraordinário: Afuá vive sem trânsito, sem buzinas, sem semáforos e sem placas.

A cidade funciona com base na convivência, no respeito mútuo e em um senso coletivo de organização que dispensa regras formais de tráfego.

Bicicletas, bicitáxis e bicilâncias

Cerca de 75% dos deslocamentos em Afuá acontecem em bicicletas ou veículos de propulsão humana.

E os moradores encontraram formas criativas de adaptar a bike às mais variadas funções do cotidiano.

O bicitáxi, por exemplo, é uma espécie de quadriciclo artesanal, resultado da junção de duas bicicletas.

Serve como transporte para passageiros, turistas e até noivas.

Já a bicilância é uma versão adaptada de ambulância.

Ela conta com suporte para oxigênio e uma maca para o transporte de pacientes.

Serviços como coleta de lixo e manutenção de equipamentos públicos também são feitos com triciclos e quadriciclos a pedal.

Até a polícia realiza patrulhamento de bicicleta.

Os únicos veículos motorizados da cidade pertencem a órgãos públicos e só são utilizados em emergências específicas.

Mesmo assim, eles ficam fora das vias suspensas, estacionados em áreas apropriadas e restritas.

Um modelo que desperta admiração

Afuá não escolheu essa forma de viver por modismo, mas por necessidade.

Contudo, acabou se tornando um modelo alternativo admirado por urbanistas e ambientalistas.

Enquanto metrópoles de todo o mundo buscam formas de reduzir a emissão de poluentes, o pequeno município paraense já vive esse futuro no presente.

Lá, a mobilidade é limpa, silenciosa e benéfica à saúde.

Ao se deslocarem diariamente com esforço físico, os moradores exercitam o corpo e mantêm hábitos mais ativos e saudáveis.

O simples ato de ir ao mercado ou visitar um vizinho se transforma em atividade física regular.

Esse estilo de vida também contribui para a saúde mental, promovendo bem-estar e conexão com a comunidade.

Dia a dia numa das “ruas” de Afuá, no Pará..Créditos: Marco Santos/Agência Pará

Rios são ruas e barcos, os ônibus

Na transição entre o meio rural e o urbano, Afuá encontrou nos rios um aliado natural.

As embarcações são os verdadeiros “ônibus” da cidade, servindo como principal meio de transporte entre comunidades ribeirinhas e localidades vizinhas.

Curiosamente, a cidade mais próxima não é Belém, a capital do estado do Pará.

É Macapá, no Amapá, acessível em cerca de três horas de barco.

Esse detalhe geográfico torna Afuá ainda mais singular, pois seu vínculo logístico está mais alinhado com outra unidade federativa.

O isolamento por terra não é visto como obstáculo.

Pelo contrário: é um fator que fortalece o estilo de vida peculiar e a relação dos habitantes com a natureza.

A ausência de rodovias pavimentadas, o convívio com os rios e a mobilidade sobre palafitas criam um ecossistema urbano único.

Um lugar onde a geografia dita as regras, mas a criatividade humana molda soluções funcionais e inspiradoras.

Um futuro que pedala no presente

Enquanto o mundo urbano busca soluções tecnológicas para crises ambientais, Afuá segue seu curso natural e silencioso.

A cidade é a prova viva de que inovação não depende apenas de avanços digitais ou grandes obras de infraestrutura.

Às vezes, a revolução vem do simples.

De andar de bicicleta, de ouvir o som da água, de viver com o que a terra oferece.

Afuá não apenas existe: ela resiste.

E inspira.

Você conseguiria viver em uma cidade onde o carro não tem vez e tudo funciona a pedaladas?

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Alisson Ficher

Jornalista formado desde 2017 e atuante na área desde 2015, com seis anos de experiência em revista impressa, passagens por canais de TV aberta e mais de 12 mil publicações online. Especialista em política, empregos, economia, cursos, entre outros temas. Registro profissional: 0087134/SP. Se você tiver alguma dúvida, quiser reportar um erro ou sugerir uma pauta sobre os temas tratados no site, entre em contato pelo e-mail: alisson.hficher@outlook.com. Não aceitamos currículos!

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