1. Início
  2. / Economia
  3. / Nem todo grande plano da China virou sucesso: o ‘Grande Salto’ prometia progresso rápido, mas trouxe fome em massa, repressão e uma crise histórica
Tempo de leitura 4 min de leitura Comentários 0 comentários

Nem todo grande plano da China virou sucesso: o ‘Grande Salto’ prometia progresso rápido, mas trouxe fome em massa, repressão e uma crise histórica

Publicado em 06/08/2025 às 11:27
O Grande Salto Adiante, China, Fome
Imagem ilustrativa
Seja o primeiro a reagir!
Reagir ao artigo

Campanha de Mao Tsé-Tung prometia transformar a China em potência em três anos, mas causou fome, repressão e uma tragédia sem precedentes

O Grande Salto Adiante foi uma campanha lançada por Mao Tsé-Tung entre 1958 e 1960. Seu objetivo era transformar rapidamente a China em uma nação desenvolvida e igualitária. Para isso, Mao apostou na coletivização forçada do campo e na industrialização acelerada das cidades.

O plano pretendia que a China alcançasse, em apenas três anos, o nível de desenvolvimento do Reino Unido.

O cronograma original, que previa até quinze anos para a industrialização, foi encurtado drasticamente. Mao chegou a afirmar que o país poderia avançar como um “átomo” em um “big bang” de progresso.

O resultado, porém, foi desastroso. Historiadores apontam que a campanha está diretamente ligada à Grande Fome Chinesa.

As estimativas variam de 15 milhões a 45 milhões de mortos, transformando o projeto em uma das maiores tragédias do século XX.

A reforma agrária forçada

O plano dividiu a China em grandes comunas, cada uma reunindo cerca de 5.000 famílias. Os camponeses recebiam ferramentas e, em troca, eram obrigados a cumprir metas de produção.

Para tentar equilibrar regiões, centenas de milhares de pessoas foram deslocadas de áreas com alta produtividade para locais menos produtivos. Houve também a transferência de trabalhadores da agricultura para a indústria.

Uma das iniciativas mais marcantes foi a campanha para coleta de ferramentas metálicas. O material recolhido seria transformado em aço, considerado essencial para a meta industrial.

A propaganda dos “campos sputniks”

Para inspirar confiança e entusiasmo, Mao divulgou casos de produtividade agrícola supostamente extraordinária. As áreas modelo ficaram conhecidas como “campos sputniks”, em referência ao satélite soviético.

O Diário do Povo chegou a noticiar, em 1958, que uma cooperativa em Henan teria produzido 1,8 tonelada de trigo em apenas 1/6 de acre — mais de dez vezes o real.

Outros relatos, igualmente falsos, diziam que um campo de arroz havia produzido setenta toneladas em menos de 1/5 de acre.

Esses números inflados alimentavam metas irreais. Quando as comunas não conseguiam cumpri-las, a resposta era a repressão.

Repressão e controle total

Mao passou a acusar camponeses de boicote e corrupção. Quem fosse flagrado estocando grãos era executado. Prisões eram aplicadas até para quem fosse encontrado com pequenas quantidades de alimento.

Práticas culturais como fogueiras e funerais foram proibidas por serem consideradas desperdício. O líder acusava os agricultores de esconder comida, afirmando que fingiam passar fome enquanto consumiam alimentos em segredo.

Em 1959, Mao declarou que “todas as equipes de produção escondem alimentos para dividir entre eles” e que colocavam guardas para proteger estoques secretos.

O plano industrial e as fornalhas de quintal

Além da agricultura, Mao queria dobrar a produção de aço em um único ano, passando de 5,3 para 10,7 milhões de toneladas. Para isso, ordenou a construção de “fornalhas de quintal” em todo o país.

A população foi coagida a doar qualquer objeto de metal, desde ferramentas agrícolas até utensílios domésticos.

Até carros-pipa e grampos de cabelo foram derretidos. O slogan dizia: “Entregar uma picareta é destruir um imperialista e esconder um prego é esconder um contrarrevolucionário”.

No fim, a produção agrícola não aumentou de forma significativa e as perdas de equipamentos essenciais agravaram a crise.

O surgimento das Comunas Populares

Com os primeiros sinais de fracasso, Mao mudou a estratégia e criou as “Comunas Populares”. A intenção era concentrar ainda mais o controle sobre a população rural.

A primeira foi a Chayashan Sputnik, também em Henan. O estatuto dessas comunas determinava que famílias entregassem completamente suas terras, casas, animais e árvores.

Moradores passavam a viver em dormitórios coletivos. Suas casas podiam ser desmontadas caso a comuna precisasse de tijolos ou madeira.

O dia a dia girava em torno do trabalho, e todos eram organizados como em unidades militares, divididos em comuna, brigada e equipe de produção.

Relatos descrevem essas áreas como verdadeiros campos de trabalho forçado. Em Gansu, camponeses as chamavam de “campos da morte”.

A fome em massa

O impacto mais devastador do Grande Salto Adiante foi a fome generalizada. Em 1960, a taxa de mortalidade na China saltou de 15% para 68%. Ao mesmo tempo, a taxa de natalidade despencou.

Estima-se que cerca de 45 milhões de pessoas tenham morrido, sendo que 2,5 milhões foram executadas durante as repressões.

A crise afetou todas as camadas sociais, mas atingiu com mais força as regiões rurais, onde o controle das comunas era mais rígido.

O Grande Salto: O fim da campanha e suas consequências

O fracasso do Grande Salto Adiante enfraqueceu a autoridade de Mao. A fome, a queda da produção e as mortes em massa geraram descontentamento interno e críticas abertas ao projeto.

Como resposta ao desgaste, Mao iniciou a Revolução Cultural Chinesa, movimento que redefiniu a política do país na década seguinte.

O Grande Salto Adiante permanece como um exemplo marcante dos riscos de metas econômicas radicais e centralização extrema do poder.

Ao tentar transformar a China em tempo recorde, Mao desencadeou uma das maiores catástrofes humanitárias do século XX.

Com informações de Wikipedia.

Inscreva-se
Notificar de
guest
0 Comentários
Mais recente
Mais antigos Mais votado
Feedbacks
Visualizar todos comentários
Romário Pereira de Carvalho

Já publiquei milhares de matérias em portais reconhecidos, sempre com foco em conteúdo informativo, direto e com valor para o leitor. Fique à vontade para enviar sugestões ou perguntas

Compartilhar em aplicativos
1
0
Adoraríamos sua opnião sobre esse assunto, comente!x