Conhecido por cruzar oceanos com a ponte sueca Guldbron a bordo, o navio Zhen Hua 33 reaparece em 2024 transportando cinco gruas colossais com mais de 80 metros de altura, em rota alternativa ao Canal de Suez
O Porto de Las Palmas, nas Ilhas Canárias, continua colhendo os efeitos colaterais da crise geopolítica que afeta o Mar Vermelho e o Canal de Suez. Na última semana, recebeu a escala do imponente navio de bandeira chinesa Zhen Hua 33 (IMO 9808223), transportando nada menos que cinco gruas de pórtico de grande porte, fabricadas na China e destinadas ao porto egípcio de Damietta.
Com origem no gigante asiático e navegando por rotas alternativas ao tradicional Canal de Suez, o cargueiro chamou atenção ao fundear em Las Palmas para reabastecimento — operação que envolveu 2.600 toneladas de fuel oil e outras 540 toneladas de diesel, segundo informações da Autoridade Portuária de Las Palmas.
Participação internacional e capacidades únicas do Zhen Hua 33
Mais do que uma simples embarcação de transporte, o Zhen Hua 33 é considerado um verdadeiro colosso da engenharia naval. Com capacidade para se submergir parcialmente, esse navio semissubmersível da estatal chinesa ZPMC já participou de projetos logísticos complexos ao redor do mundo. Um dos casos mais emblemáticos ocorreu em 2020, quando ele foi responsável por levar o gigantesco “Guldbron” — uma ponte dourada de 140 metros de comprimento — da China até Estocolmo, na Suécia, atravessando o planeta com uma estrutura de mais de 3.700 toneladas a bordo.
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Essa operação histórica demonstrou a versatilidade do Zhen Hua 33, que além de gruas, é capaz de transportar plataformas de petróleo, seções de usinas e até mesmo outros navios. O fato de o cargueiro estar fazendo escalas em portos estratégicos como Las Palmas reforça seu papel como peça-chave na logística marítima global em tempos de incerteza geopolítica.
Impacto da crise do Mar Vermelho na navegação global
Desde o final de 2023, os conflitos armados na região do Iêmen e os ataques a cargueiros comerciais no Mar Vermelho vêm obrigando muitas embarcações a evitarem a rota do Canal de Suez. Com isso, diversos navios optam por trajetos alternativos, como o contorno do continente africano via Cabo da Boa Esperança, o que tem beneficiado economicamente portos estrategicamente posicionados, como Las Palmas.
De acordo com a UNCTAD, a passagem pelo Mar Vermelho sofreu uma queda de 42% no volume de contêineres entre janeiro e março de 2024, o que tem obrigado armadores e operadores logísticos a reorganizar suas rotas. O porto de Las Palmas, por sua localização privilegiada no Atlântico, tem se destacado como ponto de apoio logístico para reabastecimento e descanso de tripulações.
O navio Zhen Hua 33 e sua carga de engenharia monumental
O Zhen Hua 33 pertence à frota da empresa estatal chinesa Shanghai Zhenhua Heavy Industries Co., Ltd. (ZPMC), uma das maiores fabricantes mundiais de equipamentos portuários. As gruas de pórtico que o navio transporta são do tipo STS (Ship-to-Shore), utilizadas para carga e descarga de contêineres em grandes terminais marítimos, essenciais para a operação eficiente de portos de transbordo como o de Damietta, no Egito.
Segundo dados da MarineTraffic, o Zhen Hua 33 possui 232 metros de comprimento e uma boca de 42 metros, com capacidade de transportar equipamentos de grandes dimensões. As gruas transportadas têm mais de 80 metros de altura, pesando centenas de toneladas cada, e são projetadas para atender embarcações do tipo Post-Panamax.
Las Palmas: porto estratégico no Atlântico
A presença de navios de grande porte como o Zhen Hua 33 evidencia a crescente importância estratégica do porto de Las Palmas no cenário logístico global. Com uma infraestrutura preparada para receber megaembarcações e oferecer serviços rápidos de bunkering, manutenção e suprimento, o porto canário consolida sua posição como ponto-chave na nova geografia marítima afetada pelas tensões no Oriente Médio.
Segundo a Port Authority of Las Palmas, o aumento no número de escalas de navios desviados tem sido acompanhado por melhorias logísticas e investimento em serviços portuários, com o objetivo de captar novas rotas comerciais permanentes que surgem da instabilidade em outras regiões do globo.