Na fronteira com a Rússia, cidade estoniana de maioria russófona reforça defesas e treina civis, temendo ser o próximo alvo de Moscou e estopim de guerra mundial.
Há uma cidade na Europa se preparando ativamente para uma possível guerra. É Narva, localizada na Estônia, na fronteira direta com a Rússia. Com a maioria da população falando russo, a cidade é vista como um ponto vulnerável. O governo estoniano teme uma invasão russa, similar às ações de Moscou na Ucrânia e Geórgia.
Por isso, Narva e a Estônia estão reforçando defesas militares e civis. Um conflito ali poderia ter consequências globais, envolvendo toda a OTAN.
A geografia de Narva
Narva é a cidade mais ao leste da Estônia. O país é membro da União Europeia e da OTAN. A fronteira física com a Rússia é marcada pelo Rio Narva, com cerca de 150 metros de largura. Do outro lado do rio fica a cidade russa de Ivangorod, com presença militar.
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Uma única ponte de pista dupla, com 162 metros, liga os dois países. Durante a era soviética, era chamada “Ponte da Amizade”. Narva está a 210 km da capital estoniana, Tallinn, e a apenas 160 km de São Petersburgo, na Rússia.
Por que a Estônia teme um ataque russo em Narva?
A principal preocupação da Estônia é a demografia de Narva. Cerca de 96% dos seus habitantes falam russo. Isso torna a cidade um alvo potencial para a política russa de “proteção” de populações russófonas. A Rússia usou essa justificativa para intervir militarmente e anexar territórios na Geórgia (2008), Crimeia (2014) e leste da Ucrânia (2022 e 2024).
O argumento é defender os interesses desses povos, mesmo violando a soberania de outros países. Antes da invasão da Ucrânia em 2022, Putin acusou o país vizinho de “genocídio” contra falantes de russo. Autoridades estonianas, como a primeira-ministra Kaja Kallas em 2023, afirmam que não se pode confiar na Rússia.
Bunkers, trincheiras e a nova base Campo Rito
Diante da ameaça, a Estônia está agindo. Mais de 600 bunkers estão sendo construídos dentro e ao redor de Narva. Trincheiras, armadilhas para tanques e torres de observação estão sendo instaladas na fronteira. Zonas de prontidão militar foram ativadas para garantir resposta rápida. A menos de 20 km de Narva, está sendo construída a base militar Campo Rito.
É a primeira base do país desde a Guerra Fria, projetada para abrigar 1000 soldados. O foco é defesa avançada, movimentação rápida de tropas e integração com a OTAN. A Estônia também está expandindo suas forças de reserva, de 24 mil para 43 mil soldados até 2028. O treinamento militar foi adaptado para combate real e táticas de retardamento do inimigo.
Cooperação da OTAN
A preparação da Estônia ocorre em coordenação com a OTAN. O país elevou seu investimento em defesa para 3,3% do PIB, um dos mais altos da aliança. Tropas de outros membros da OTAN estão presentes no país, como soldados britânicos. Foguetes norte-americanos foram instalados em território estoniano. Países como Polônia e Noruega têm enviado equipamentos pesados, incluindo mísseis, veículos blindados e drones.
Exercícios militares conjuntos com forças americanas, francesas e britânicas foram realizados na região no fim de 2024. A Estônia também fortaleceu laços com Finlândia e Suécia, reforçando o controle da OTAN sobre o Mar Báltico.
A estratégia de envolver civis na resistência
A Estônia sabe que, em caso de ataque, precisará resistir sozinha nas primeiras horas. Por isso, adota um plano de “Defesa Total”. A estratégia combina forças militares com a preparação da população civil. A Liga de Defesa da Estônia, uma milícia voluntária, conta com mais de 20 mil membros. A Organização de Defesa Voluntária Feminina treina mulheres em logística, vigilância e defesa cibernética.
Jovens recebem treinamento físico e noções de segurança. A ideia não é evacuar, mas armar e treinar civis para resistir, destruir pontes, bloquear estradas e preservar suprimentos. O objetivo é ganhar tempo até a chegada de reforços da OTAN e evitar perdas territoriais rápidas como as da Ucrânia em 2022.
Outras frentes do conflito
A tensão não é apenas militar. A Estônia enfrenta intensa atividade de inteligência russa. Ataques cibernéticos (mais de 4.500 registrados em 2022) e campanhas de desinformação russas aumentaram. O objetivo é dividir a sociedade estoniana e desestabilizar o governo. Em 2024, a polícia estoniana prendeu suspeitos ligados a redes de espionagem russas. Como resposta, o governo estoniano também atua para reduzir a influência russa internamente. Aprovou leis em 2022 para retirar o russo das escolas, controlar mídias ligadas a Moscou e remover monumentos soviéticos.
A população de Narva conhece os horrores da guerra. A cidade foi palco de uma das batalhas mais sangrentas da Segunda Guerra Mundial em 1944, sendo completamente destruída. Apesar da marginalização durante a ocupação soviética, a identidade estoniana sobreviveu. A questão sobre a lealdade da população russófona em um novo conflito persiste.
O estopim da Terceira Guerra? As graves consequências de um ataque a Narva
O cenário em Narva é tenso devido às suas implicações globais. Como a Estônia é membro da OTAN, um ataque russo a Narva ativaria o Artigo 5 do tratado. Essa cláusula de defesa coletiva obriga todos os membros da aliança a defenderem o país atacado. Isso poderia arrastar todo o Ocidente para um conflito direto com a Rússia. Transformaria rapidamente a invasão localizada em uma Terceira Guerra Mundial. A Estônia e seus aliados se preparam para evitar esse cenário, mas o risco é considerado real.