O setor de enfermagem no Brasil vive uma crise de desemprego. Com excesso de formados, baixa demanda e a implementação do piso salarial, muitos enfermeiros estão sem emprego. Técnicos de enfermagem, com menor custo, ocupam as vagas disponíveis.
Apesar da vital importância dos profissionais de enfermagem para o funcionamento do sistema de saúde, o Brasil enfrenta um cenário alarmante no setor.
Uma quantidade significativa de enfermeiros formados nos últimos anos está lutando para encontrar oportunidades de emprego, e a crise no mercado de trabalho se agrava com o excesso de formados e a falta de vagas compatíveis com a demanda crescente do setor.
Recém-formada pela Universidade Federal do Ceará (UFC), Arielle Oliveira compartilha sua experiência pessoal e o drama de muitos enfermeiros que, assim como ela, enfrentam dificuldades para ingressar no mercado de trabalho.
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“As contas vão chegando”, afirma Arielle, que decidiu aceitar um emprego como professora de Saúde Coletiva em um curso técnico de enfermagem para evitar o desemprego, apesar de não ser a função que havia planejado para sua carreira.
No entanto, ela lamenta: “Não sei como vai ser daqui para frente, penso que os enfermeiros vão ter que migrar para outras áreas ou começar a empreender, porque nos hospitais está difícil.”
A fala de Arielle reflete a realidade de um mercado saturado, onde vagas para enfermeiros são escassas e a experiência é frequentemente um requisito inatingível para muitos recém-formados.
Situação nacional
A realidade vivida por Arielle é, na verdade, parte de um problema maior. Segundo uma pesquisa divulgada em setembro de 2024 pelo Instituto Semesp, aproximadamente 25% dos formados em Enfermagem no Brasil estão desempregados.
O estudo revela que a situação é ainda mais crítica entre aqueles que concluíram a graduação nos últimos cinco anos.
A falta de oportunidades de emprego para esses profissionais é um reflexo direto da saturação de cursos de Enfermagem no país, que conta com 1.668 programas de graduação em atividade, conforme dados do Conselho Federal de Enfermagem (Cofen).
Além de Enfermagem, outras áreas de formação também enfrentam altos índices de desemprego, como História, com 31,6% dos egressos desempregados, e Relações Internacionais, com 29,4%.
No entanto, o contraste é evidente em cursos como Medicina, onde cerca de 92% dos graduados conseguem emprego na área, conforme apontado pelo mesmo estudo.
Um mercado cada vez mais competitivo
A saturação de profissionais formados não é o único desafio enfrentado por quem busca uma vaga no mercado de trabalho de Enfermagem.
Arielle Oliveira descreve como a realidade dentro dos hospitais também tem um papel importante nesse cenário:
“Tem enfermeiros formados há dois, três anos que não conseguiram nada. Os técnicos de enfermagem atendem a uma grande quantidade de pacientes, o hospital emprega mais técnicos do que enfermeiros.”
A explicação para isso está na distribuição das responsabilidades dentro das equipes de saúde.
Os técnicos de enfermagem, geralmente em maior número, são responsáveis por procedimentos mais operacionais e rotineiros.
Já os enfermeiros, com responsabilidades mais específicas e uma carga de conhecimento técnico mais aprofundada, acabam sendo contratados em menor número, uma vez que “em uma enfermaria com 30 pacientes, por exemplo, dois enfermeiros são suficientes,” de acordo com Arielle.
Outro ponto levantado por especialistas é a dificuldade em conciliar a definição do piso salarial da categoria com a realidade econômica das instituições de saúde, tanto públicas quanto privadas.
O piso salarial da enfermagem, regulamentado em 2022, trouxe consequências inesperadas para os profissionais, como aponta Telma Cordeiro, presidente do Sindicato dos Enfermeiros do Estado do Ceará (Senece):
“As instituições particulares não querem pagar esse piso, e isso complicou muito. Quando se falou de piso, as instituições aumentaram a carga horária dos enfermeiros.”
O impacto do piso salarial da enfermagem
Apesar de o piso nacional da enfermagem ter sido uma conquista para a categoria, a sua implementação trouxe dificuldades.
“Esse piso atrapalhou demais os enfermeiros,” afirma Telma Cordeiro, referindo-se à resistência das instituições de saúde em aderir à nova regulamentação.
A presidente do sindicato explica que muitos empregadores aumentaram as horas de plantão e pressionaram os profissionais a acumularem funções.
O professor do Departamento de Economia Agrícola da UFC, Vitor Hugo Miro, também compartilha essa visão, afirmando que “a fixação do piso salarial pode se traduzir em maiores custos para contratar e manter estes profissionais”.
Isso gera uma maior competitividade pelos postos de trabalho, à medida que as empresas procuram alternativas mais baratas para suprir as necessidades do setor.
Conforme o professor, a demanda por médicos e técnicos de enfermagem segue crescendo, enquanto a empregabilidade dos enfermeiros fica em um limbo, pressionada tanto pela oferta excessiva de profissionais quanto pelos custos adicionais trazidos pelo piso salarial.
Perspectivas para o futuro
A crise no setor de enfermagem é apenas um reflexo de um problema mais amplo no mercado de trabalho brasileiro.
Embora a demanda por profissionais de saúde continue a crescer, a falta de vagas para enfermeiros revela uma falha no equilíbrio entre formação e empregabilidade.
A alta taxa de desocupação na área levanta questões sobre a sustentabilidade da atual oferta de cursos de enfermagem no Brasil e a necessidade de políticas públicas que possam garantir a inserção desses profissionais no mercado.
Afinal, como será o futuro desses profissionais que, apesar da qualificação, encontram-se sem emprego? Será que o mercado de saúde brasileiro vai se ajustar a essa realidade, ou os enfermeiros terão que buscar outras áreas de atuação?