Cientistas estão explorando fonte de energia de rocha revolucionária com potencial energético tão grande que poderia abastecer os Estados Unidos milhares de vezes
Por décadas, a fonte de energia geotérmica permaneceu como um jogador coadjuvante no cenário das energias renováveis. Enquanto a energia solar e eólica cresciam exponencialmente, a geotérmica contribuía com uma fração mínima da eletricidade global.
O problema sempre foi a geografia. As fontes de calor subterrâneo estão concentradas em regiões vulcânicas, limitando sua expansão. Mas isso pode estar prestes a mudar.
Pesquisadores da Universidade Cornell acreditam que a (SHR, do inglês Superhot Rock Energy) pode ser a solução para aproveitar o calor da Terra em praticamente qualquer lugar.
- Saiba por que as pilhas estão colocadas uma ao lado da outra em direções opostas
- Donald Trump aciona Elon Musk e pede que bilionário resolva um dos maiores desafios da Nasa nos últimos tempo: trazer de volta astronautas presos no espaço
- Após criar maior drone do mundo, empresa brasileira agora lança ‘ChatGPT do agro’
- A matemática é uma invenção ou uma descoberta?
O calor sob nossos pés
A ideia é simples, mas revolucionária. Imagine perfurar profundamente a crosta terrestre até encontrar rochas aquecidas a mais de 374 graus Celsius.
A essas temperaturas extremas, a água injetada transforma-se em um fluido supercrítico, capaz de transportar imensas quantidades de energia para a superfície.
Essa fonte de energia pode ser convertida em eletricidade, fornecer aquecimento ou mesmo ser utilizada na produção de hidrogênio.
Como funciona o processo dessa incrível fonte de energia
Água ou fluidos especializados são injetados nos reservatórios de rochas superquentes, onde, devido às temperaturas extremamente elevadas, o fluido se transforma em estado supercrítico, uma fase intermediária entre líquido e gás que possui alta densidade e grande capacidade de armazenar energia térmica.
Esse fluido supercrítico é então extraído e conduzido até a superfície, onde sua energia térmica é aproveitada para movimentar turbinas, gerando eletricidade de maneira eficiente e sustentável.
De acordo com um estudo da Cornell, a SHR poderia atender à demanda energética dos Estados Unidos milhares de vezes.
Relatórios elaborados pela universidade, em colaboração com a organização sem fins lucrativos Clean Air Task Force (CATF), detalham um roteiro para superar os desafios técnicos, como perfuração precisa, construção de poços e extração de calor.
“Os aspectos altamente específicos do local da produção de energia geotérmica sempre foram um obstáculo para o desenvolvimento comercial”, explica Seth Saltiel, professor da Cornell e coautor do estudo. Ele destaca que compreender as estruturas subterrâneas é essencial para avançar.
Os números impressionam. Apenas 2% da energia armazenada a poucos quilômetros abaixo da superfície poderia, teoricamente, suprir as necessidades energéticas dos EUA por 2.000 vezes.
A SHR também tem a vantagem de ser uma fonte de energia limpa e ininterrupta, diferentemente da solar e da eólica, que dependem das condições climáticas.
Uma corrida global pela SHR
O interesse pela SHR não se limita aos Estados Unidos. Estudos apontam que China, Rússia e EUA possuem as maiores reservas potenciais dessa energia. Apenas nos EUA, a energia de SHR poderia gerar 4 terawatts, equivalente a queimar 21 bilhões de barris de petróleo.
Estados como Nevada e Califórnia lideram em potencial de exploração. Curiosamente, a indústria de petróleo e gás pode ser uma aliada crucial. As tecnologias necessárias — plataformas de perfuração, brocas resistentes e sensores capazes de suportar temperaturas extremas — já foram desenvolvidas para a extração de combustíveis fósseis.
Terra Rogers, diretora da CATF, acredita que essas empresas estão bem posicionadas para liderar a transição para a SHR.
Lauren Boyd, diretora do Geothermal Technologies Office do Departamento de Energia dos EUA, enfatiza a necessidade de investimento. “Precisamos de recursos e de mãos que se disponham a trabalhar nesse campo.” Segundo estimativas, serão necessários entre US$ 20 bilhões e US$ 25 bilhões até 2030 para comercializar tecnologias geotérmicas de próxima geração, incluindo a SHR.
Para as empresas de petróleo, a SHR representa uma oportunidade única. Elas podem se reposicionar no mercado de energia limpa utilizando infraestruturas e habilidades existentes.
Muitas terras arrendadas para extração de combustíveis também podem ser reaproveitadas para exploração geotérmica, muitas vezes sem a necessidade de novas licenças.
Desafios e oportunidades
Embora promissora, a fonte de energia de rocha superquente enfrenta desafios significativos. Perfurar em rochas densas é caro e complexo.
Em 2022, a Universidade Cornell perfurou um poço exploratório com 3 km de profundidade em seu campus, visando investigar o potencial da energia geotérmica.
Contudo, essa instalação não deverá alcançar rochas superaquecidas, uma vez que seria necessário perfurar pelo 10 km abaixo da superfície em regiões de baixo fluxo térmico, como o leste dos Estados Unidos.
Os primeiros projetos exigem investimentos altos e carregam riscos. Sem financiamentos substanciais, a SHR pode permanecer como uma ideia ambiciosa, mas irrealizável.
No entanto, o otimismo cresce. Jennifer Granholm, Secretária de Energia dos EUA, destacou o potencial dessa tecnologia durante a conferência CERAWeek de 2024. “Capturar o calor sob nossos pés pode nos proporcionar uma energia limpa, escalável e confiável para atender às necessidades de indústrias e residências”, afirmou.
A SHR não apenas promete reduzir a dependência de combustíveis fósseis, mas também representa uma nova fronteira para a indústria energética.
Se avanços tecnológicos e investimentos significativos forem alcançados, essa tecnologia poderá redefinir como o mundo gera e consome energia.
O calor subterrâneo, por muito tempo ignorado, pode ser a chave para um futuro energético mais limpo e sustentável.
A corrida para desbloquear esse potencial está apenas começando. Agora, cabe às empresas, governos e cientistas transformar essa visão em realidade.
Resta saber se perfurando essa camada profunda não haverá consequências desastrosas.
Atualize o artigo com algumas informações novas que deixei passar no estudo. Mas, além da dificuldade de chegar a essa profundidade, há riscos claros nessa fonte de energia. Como os sismos induzidos, causados pela perfuração e injeção de fluidos no subsolo, e a possível contaminação de lençóis freáticos por substâncias tóxicas, como arsênio e mercúrio.
A não ser que não fizemos também uma análise dos lençóis, não sera viável perfurar devido o problema de possivelmente envenenar os lençóis com os minérios tóxicos, mas a dificuldade não é essa e mais na perfuração em si