Inspirado no Pix, o Bre-B transforma o sistema financeiro colombiano com apoio de fintechs brasileiras e promete mudar o comércio eletrônico e os pagamentos instantâneos no país.
A Colômbia colocou em operação, em outubro, o Bre-B, seu primeiro sistema nacional de pagamentos instantâneos, inspirado no Pix e desenhado pelo Banco de la República para funcionar 24 horas por dia, todos os dias.
O arranque ocorreu em duas fases: testes controlados iniciados em 23 de setembro e início da operação em larga escala a partir de 6 de outubro, quando passou a aparecer como botão ou “zona Bre-B” nos aplicativos e sites das instituições financeiras.
Desde o primeiro dia da massificação, empresas internacionais puderam aceitar o novo método via a plataforma do Ebanx, que se integrou ao ecossistema colombiano por meio de parceria com a fintech local Movii.
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Essa conexão usa o Smart Router da Movii para alcançar todos os nós do sistema e rotear transações de forma eficiente, abrindo o Bre-B ao comércio eletrônico global sem múltiplas integrações.
Participação brasileira e influência do Pix
O Ebanx foi uma das poucas empresas estrangeiras convidadas a contribuir tecnicamente com a implantação, a partir de 2023, compartilhando aprendizados do Pix em temas como interoperabilidade e prevenção a fraudes.
“Fomos chamados a compartilhar a experiência que tivemos no Brasil com o Pix”, disse Eduardo de Abreu, vice-presidente global de produto do Ebanx, em linha com o papel público da companhia no comitê consultivo do banco central colombiano.
Segundo ele, o objetivo foi acelerar a adoção evitando obstáculos enfrentados no Brasil.
Além do Ebanx, o Nubank também integrou os preparativos para a chegada do Bre-B, apoiando-se na experiência acumulada com o Pix no Brasil para disponibilizar a funcionalidade na Nu Colombia.
A partir de 6 de outubro, o banco digital passou a permitir pagamentos e transferências imediatas com as “Llaves Bre-B” diretamente no app, a custo zero para o usuário.
Como o Bre-B funciona
Na prática, o Bre-B é uma infraestrutura de interoperabilidade que conecta sistemas e participantes já existentes — bancos, cooperativas, carteiras digitais e fintechs — permitindo transferências em segundos entre contas de instituições diferentes.
A transição para o uso em massa prioriza pagamentos entre pessoas e entre pessoas e comércios por meio do botão/“zona Bre-B” nos canais digitais das instituições.
O sistema adota o conceito de “Llaves” (chaves), identificadores vinculados às contas que substituem números longos.
O usuário escolhe celular, e-mail, documento, chave alfanumérica ou comercial como seu alias, que não pode estar ativo simultaneamente em mais de uma instituição.
O registro começou em 14 de julho, em “soft launch”, quando as instituições passaram a oferecer a Zona Bre-B para gerenciamento dessas chaves.
Diferente do modelo brasileiro — que criou um método único de pagamento e um arranjo centralizado —, a Colômbia optou por interligar plataformas distintas sob uma mesma camada de interoperabilidade.
O desenho busca aproveitar produtos conhecidos pelos usuários e, assim, acelerar a curva de adoção.
A Zona Bre-B padroniza a experiência mínima: além de registrar e gerenciar chaves, concentra opções obrigatórias de ativação e portabilidade.
Adoção em números
Os indicadores oficiais mostram uma expansão rápida do cadastro de chaves ao longo do terceiro trimestre.
Em 22 de setembro, havia 35 milhões de chaves ativas e 14,5 milhões de usuários registrados.
Na virada para a fase de operação massiva, comunicados e reportagens especializadas passaram a apontar patamares acima de 70 milhões de chaves e mais de 30 milhões de clientes vinculados, com crescimento diário conforme novas instituições habilitavam suas “zonas” no app e no internet banking.
Nos primeiros dias após a virada de chave, o Bre-B registrou 17 milhões de transações em uma semana, sinalizando tração inicial relevante do ecossistema.
Em paralelo, o Banco de la República confirmou que pagamentos P2B via botão “Bre-B” tornaram-se parte do fluxo padrão nos canais digitais a partir de 6 de outubro.
Impactos esperados e alcance
O Banco de la República e analistas do setor avaliam que o Bre-B deve reduzir fricções no varejo, baratear o custo de aceitação para micro e pequenos negócios e impulsionar a inclusão financeira.
O desenho público-privado e a decisão de não cobrar dos participantes pelos serviços centrais do sistema por um período inicial reforçam o incentivo à adesão de bancos e fintechs.
Para empresas globais, a abertura desde o primeiro dia por meio do conector Ebanx-Movii permite ofertar checkout com pagamentos instantâneos aos consumidores colombianos sem projetos longos de integração local.
No Brasil, movimento semelhante acelerou a migração de transações do cartão para o Pix em segmentos específicos do e-commerce.
A expectativa no mercado é que QR codes e pagamentos conta-a-conta ganhem terreno sobre meios tradicionais, especialmente em tíquetes baixos e recorrentes.
Semelhanças e diferenças em relação ao Pix
Tanto Pix quanto Bre-B são sistemas imediatos com liquidação em tempo real e operação 24/7, construídos para serem abertos e interoperáveis.
A principal diferença está na arquitetura.
Enquanto o Pix nasceu como um método único ancorado pelo Banco Central do Brasil, a Colômbia orquestra pagamentos entre diversos arranjos já existentes por meio de uma camada comum.
Além disso, o registro e a gestão de chaves em uma zona padronizada e obrigatória para os participantes é um traço particular do modelo colombiano.
Aos usuários finais, o efeito percebido é semelhante: transferir e pagar em segundos, sem depender de horários bancários, usando um alias fácil de lembrar ou um QR estático/dinâmico.
O teto por operação, a política de tarifas ao usuário e o cronograma de expansão de funcionalidades continuam sob ajustes e comunicados oficiais ao longo do rollout.
O que vem a seguir
O cronograma público prevê ampliação gradativa de casos de uso, com prioridade para pagamentos entre pessoas e comércios e, na sequência, integração de novos serviços de cobrança e recebimento.
A lista de entidades participantes cresce a cada semana à medida que bancos, cooperativas e carteiras digitais aderem à infraestrutura e liberam a “zona” em seus canais.
Enquanto o Pix consolidou no Brasil uma participação expressiva da população adulta e alterou dinâmicas do mercado de cartões, a Colômbia observa a adoção do Bre-B com metas de formalização, segurança e competitividade.
A questão, agora, é como os diferentes atores vão calibrar preços, experiências e políticas antifraude para sustentar a escala do novo sistema sem perda de confiança.
“Os reguladores da região estão ansiosos para modernizar seus sistemas e se aproximar do avanço tecnológico que o Pix trouxe. A instantaneidade é um caminho sem volta”, disse Eduardo de Abreu, do Ebanx.
Com a expansão do Bre-B e a participação ativa de empresas brasileiras em seu ecossistema, que outras funcionalidades o sistema deveria priorizar para acelerar a adoção entre pequenos comércios e serviços do dia a dia?