Espelhos deixados pelas missões Apollo ainda refletem lasers da Terra, permitindo medir a distância até a Lua com precisão milimétrica mesmo após 50 anos.
Quando os astronautas das missões Apollo caminharam pela Lua entre 1969 e 1972, deixaram mais do que pegadas e bandeiras. Um dos experimentos mais duradouros instalados na superfície lunar foram os retrorrefletores de canto, dispositivos formados por espelhos especiais que têm uma função simples e poderosa: devolver qualquer feixe de luz exatamente na direção de onde veio.
Mais de 50 anos depois, esses espelhos ainda estão funcionando. Cientistas na Terra disparam feixes de laser superpotentes em direção à Lua, que, ao atingirem os retrorrefletores, retornam para seus telescópios. Esse processo permite calcular com precisão a distância exata entre a Terra e a Lua — com margem de erro de apenas alguns milímetros.
A medida mais precisa já feita
A distância média entre a Terra e a Lua é de 384.400 km, mas ela varia em até 50 mil km ao longo do mês, devido à órbita elíptica do satélite.
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Graças aos experimentos com os retrorrefletores, hoje sabemos que a Lua está se afastando da Terra a uma taxa de 3,8 cm por ano.
Esse dado só é possível porque o feixe de laser, ao viajar até a Lua e voltar, permite medir o tempo exato do percurso da luz. Como a velocidade da luz é constante, os cientistas conseguem calcular a distância com altíssima precisão.
O experimento mais duradouro da Apollo
Os espelhos instalados pelas missões Apollo 11, 14 e 15, além de duas missões soviéticas não tripuladas (Lunokhod 1 e 2), permanecem até hoje na superfície lunar. Eles são, de fato, o experimento científico mais longevo deixado pelo ser humano fora da Terra, funcionando ininterruptamente há mais de cinco décadas.
Isso torna os retrorrefletores uma espécie de “mensagem permanente” da humanidade no espaço — não apenas um símbolo, mas um instrumento científico ativo que ainda produz dados relevantes.
Os dados obtidos com os lasers refletidos da Lua ajudaram a confirmar com precisão aspectos fundamentais da física e da cosmologia:
- A teoria da relatividade geral de Einstein foi validada com testes que mostraram que a gravidade funciona da mesma forma na Terra e na Lua.
- A rotação da Lua e as pequenas oscilações em sua órbita puderam ser mapeadas em detalhe.
- O afastamento gradual da Lua nos permite prever como o sistema Terra–Lua evoluirá ao longo de milhões de anos.
Em outras palavras, esses pequenos espelhos foram essenciais para aprofundar nossa compreensão sobre a mecânica celeste e a gravidade.
A engenharia dos espelhos lunares
Os retrorrefletores não são simples pedaços de vidro. Cada conjunto é formado por dezenas de prismas de quartzo cortados em formato cúbico, chamados de corner cubes. Essa estrutura reflete a luz exatamente na direção de origem, independentemente do ângulo em que ela chega.
Na prática, isso significa que, não importa se o feixe de laser atinge o espelho em uma inclinação, ele sempre retornará ao ponto de emissão. Essa propriedade é o que permite a comunicação científica precisa entre Terra e Lua.
Desafios e limitações atuais
Apesar de ainda funcionarem, os retrorrefletores enfrentam problemas crescentes. A superfície lunar é constantemente bombardeada por poeira, micrometeoritos e variações extremas de temperatura, que podem prejudicar a eficiência dos espelhos.
Nos últimos anos, cientistas observaram que os sinais refletidos se tornaram mais fracos, possivelmente devido ao acúmulo de poeira lunar. Isso abre espaço para novos projetos: missões modernas já consideram levar espelhos mais avançados para complementar e substituir os antigos.
O elo invisível entre Terra e Lua
É curioso pensar que, todas as noites, quando olhamos para a Lua, existe uma conexão invisível ativa entre ela e a Terra. Feixes de laser cruzam o espaço, atingem os espelhos deixados pelos astronautas e retornam com informações precisas, quase como se estivéssemos em um diálogo científico constante com o satélite natural.
Esses espelhos representam uma das formas mais elegantes e duradouras de ciência já realizadas: simples, mas capazes de gerar conhecimento profundo que transformou nossa visão do universo.
Mais do que ciência, um símbolo
Os retrorrefletores lunares são, ao mesmo tempo, um experimento e um símbolo. Eles provam que a ciência pode ser duradoura, que ideias aparentemente simples podem resistir ao tempo e que a exploração espacial deixou marcas não apenas de presença, mas de conhecimento.
Se um dia a humanidade voltar a viver na Lua, esses espelhos ainda estarão lá, lembrando que a busca pelo saber foi uma das primeiras coisas que levamos para fora do nosso planeta.