Espanha vendeu casas retomadas a fundos; turismo de €249 bilhões elevou aluguéis até 36% em 2025; Barcelona cancela 10 mil licenças.
A Espanha vive um dos cenários imobiliários mais tensos da Europa. Segundo o Canal Elementar, após a crise de 2008, milhares de imóveis retomados foram vendidos em massa a fundos internacionais, que se tornaram os maiores proprietários do país. Somado ao crescimento explosivo do turismo que movimentou € 249 bilhões em 2024, os aluguéis subiram até 36% em cidades como Bilbao, Alicante, Barcelona e Madri em 2025.
O Estado, que antes sustentou o boom com crédito fácil, agora tenta conter os efeitos da crise com medidas fragmentadas.
Ainda assim, famílias seguem comprometendo de 42% a 57% da renda só para pagar aluguel, muito acima dos 30% considerados sustentáveis.
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Quem sustentou a bolha e quem pagou a conta
Entre 2000 e 2007, a Espanha viveu o “tsunami urbanizador”: crédito abundante, hipotecas de até 50 anos e financiamentos que chegavam a 120% do valor do imóvel.
Quando a bolha estourou em 2008, o desemprego atingiu 26% da população ativa. Mesmo entregando o imóvel, a dívida não era quitada, deixando famílias presas em contratos impagáveis.
O resgate aos bancos consumiu recursos equivalentes a 25% do PIB espanhol.
O Estado socializou as perdas do sistema financeiro e, anos depois, vendeu os imóveis retomados a fundos internacionais, que lucraram convertendo moradia em ativo especulativo.
Quanto o turismo pesa nos preços
De 2010 a 2018, os alojamentos turísticos cresceram 17,5% ao ano. Em 2024, o setor representava mais de 15% da economia espanhola e empregava 3 milhões de pessoas.
Nos bairros com mais de 10% de imóveis convertidos em turismo, os aluguéis subiram em média 31% a 33%.
Barcelona chegou a registrar mais de 10 mil imóveis turísticos licenciados, enquanto o governo central ordenou a retirada de 66 mil anúncios ilegais no Airbnb.
Na prática, o turismo impulsionou a financeirização da habitação, tornando cada vez mais difícil para moradores locais permanecerem em áreas centrais.
Onde os aluguéis explodiram em 2025
Segundo o Canal Elementar, os aumentos mais expressivos ocorreram no primeiro trimestre de 2025: Bilbao registrou alta de 36%, Alicante 33%, Barcelona 29% e Madri 23%.
No mesmo período, os contratos temporários (menos de um ano) representaram 14% do mercado, um salto de 25% em relação ao ano anterior.
Com salário médio de € 2.642 brutos, um apartamento de 80 m² custa € 1.100 no país, chegando a € 1.500 em Madri ou Barcelona.
Isso significa que jovens e famílias gastam quase metade do orçamento apenas com moradia.
Por que o Estado demorou a reagir
Em 2023, a Lei da Habitação trouxe limites para áreas tensionadas e ampliou a oferta de moradia social.
A SAREB, “banco mau” criado para concentrar ativos podres, prometeu destinar 40 mil imóveis para habitação pública.
No entanto, a fragmentação entre governo central, comunidades autônomas e prefeituras atrasou resultados concretos.
Barcelona anunciou o cancelamento de 10 mil licenças de aluguel turístico até 2028, enquanto Madri ainda resiste a aplicar controles.
O contraste mostra que, sem medidas coordenadas, a crise segue empurrando moradores para fora dos centros urbanos.
Vale a pena esperar uma correção?
Especialistas projetam que os preços da habitação na Espanha ainda podem subir 20% até se aproximarem dos níveis de 2007.
O governo insiste que não há bolha, mas na prática a ausência de correção indica persistência do problema.
Enquanto fundos e plataformas digitais seguem dominando a oferta, a moradia se transforma em luxo inacessível para boa parte da população.
Em duas décadas, a Espanha construiu, resgatou bancos, vendeu estoques a fundos e agora tenta regular aluguéis mas os preços continuam a subir.
Famílias comprometem mais da metade do salário com aluguel, enquanto bairros se transformam em vitrines turísticas.
E você, acredita que a Espanha deveria impor regras mais duras contra fundos e limitar o turismo para proteger os moradores, ou o país não pode abrir mão da receita bilionária que o setor gera?
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