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Na Dinamarca, quem perde o emprego pode receber até 90% do salário por dois anos enquanto o governo banca cursos gratuitos para recolocação profissional

Escrito por Valdemar Medeiros
Publicado em 05/11/2025 às 09:50
Na Dinamarca, quem perde o emprego pode receber até 90% do salário por dois anos enquanto o governo banca cursos gratuitos para recolocação profissional
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Na Dinamarca, trabalhadores demitidos recebem até 90% do salário por dois anos e cursos gratuitos, com foco em recolocação e qualificação contínua para voltar ao mercado.

Em boa parte do mundo, perder o emprego significa correr contra o tempo. Contas não esperam, o custo de vida pesa e a busca por uma vaga se mistura à ansiedade de não saber quando virá a próxima oportunidade. Mas, na Dinamarca, a experiência é praticamente oposta ao que a maioria dos trabalhadores conhece. Lá, a transição entre um emprego e outro faz parte de um sistema pensado para amparar o cidadão, preservar sua dignidade e acelerar sua reinserção no mercado. Em vez de enxergar o desemprego como falha individual, o país trata o período como fase de capacitação, apoio e renovação profissional.

No modelo dinamarquês, trabalhadores que perdem seus empregos podem receber até 90% do salário por até dois anos, desde que inscritos no sistema nacional de seguro-desemprego e cumprindo requisitos de participação em programas de recolocação. O benefício é acompanhado de cursos gratuitos de qualificação, orientação individual e apoio governamental para retorno ao mercado de trabalho. Em vez de simplesmente pagar para manter alguém parado, a Dinamarca investe para que essa pessoa avance e retorne mais qualificada.

A lógica por trás do modelo é simples e poderosa: quanto mais forte e preparada estiver a força de trabalho, mais competitivo será o país. E, como resultado, a economia cresce, o desemprego se mantém baixo e a produtividade se eleva continuamente. É o oposto do ciclo de precarização que afeta muitos países, onde a perda de emprego costuma levar a salários menores, instabilidade e perda de qualificação ao retornar ao mercado.

Flexicurity: flexibilidade com segurança e resultado social

O modelo dinamarquês é conhecido como flexicurity, uma combinação de flexibilidade para empresas contratarem e demitirem com rapidez e segurança para trabalhadores manterem renda e desenvolverem novas habilidades durante períodos de transição.

A lógica é sustentada por um pacto social que envolve empresas, governo e sindicatos, e tem como pilares:

  • Seguro-desemprego robusto, com até 90% do salário por dois anos para trabalhadores elegíveis
  • Cursos gratuitos, treinamento profissional e requalificação obrigatória
  • Acompanhamento individual para recolocação
  • Mercado de trabalho dinâmico, que absorve rapidamente profissionais qualificados
  • Incentivos para que trabalhadores sigam se desenvolvendo ao longo da vida

Na prática, a Dinamarca não evita que pessoas percam seus empregos — em vez disso, garante que elas não percam seu futuro.

O desemprego como período de aprendizado, não de estagnação

Ao sair de uma empresa, o trabalhador dinamarquês não é lançado sozinho ao mercado. Ele passa a contar com planos personalizados, consultorias de carreira e acesso a centros especializados que ajudam na atualização de currículo, no treinamento e na busca ativa por oportunidades.

Programas públicos, em parceria com instituições privadas, oferecem cursos em áreas essenciais como tecnologia, educação, logística, saúde e serviços especializados, setores estratégicos da economia dinamarquesa.

Essa estrutura reduz o estigma em torno do desemprego. A transição é natural, previsível e vista como oportunidade — não ameaça. O foco nunca está em punir quem ficou sem trabalho, mas em prepará-lo para uma colocação melhor. Em muitos casos, trabalhadores saem dessa fase com competências renovadas e maior renda futura.

Investimento público como motor de produtividade

Financiar um sistema robusto como o dinamarquês exige alta carga tributária. No entanto, esse investimento retorna em produtividade, inovação e estabilidade econômica.

Países que gastam pouco com proteção ao trabalhador tendem a gastar mais com problemas sociais e a enfrentar ciclos de instabilidade que dificultam o crescimento de longo prazo.

O caso dinamarquês mostra uma equação clara: segurança não reduz competitividade. Pelo contrário, aumenta.

Empresas têm liberdade para ajustar suas equipes conforme as demandas do mercado, enquanto profissionais não se veem obrigados a aceitar qualquer vaga apenas para sobreviver. Resultado: a máquina econômica não trava, o trabalhador não afunda e o país prospera.

Comparação com o Brasil e o desafio da reformulação

No Brasil, o seguro-desemprego cobre até cinco parcelas e o valor máximo está muito longe da renda integral de cada trabalhador. Cursos de qualificação existem, mas não de forma universal, nem estruturada com acompanhamento contínuo.

A recolocação depende, em grande parte, da iniciativa individual e da disposição do mercado em absorver mão de obra rapidamente, o que não ocorre em períodos de instabilidade econômica.

A comparação entre os dois modelos revela diferenças profundas de estrutura, cultura e política pública. Enquanto a Dinamarca encara o trabalhador como patrimônio do país, e a educação continuada como política nacional, o Brasil ainda enfrenta dificuldade em transformar qualificação, renda e estabilidade em pilares centrais da política de emprego.

É claro que cada país tem sua realidade. A Dinamarca tem população menor, alto nível de desenvolvimento, forte arrecadação e tradição de acordos coletivos sólidos. Mas observar seu modelo oferece uma reflexão poderosa sobre caminhos possíveis para formar mercados mais qualificados, humanos e resilientes.

Quando segurança vira motor de crescimento e não peso

O sistema dinamarquês é, acima de tudo, uma escolha. Uma visão de que nenhuma sociedade cresce deixando pessoas para trás. Uma aposta de que trabalhadores bem formados, amparados e motivados constroem um país mais forte. Em vez de enxergar proteção social como despesa, a Dinamarca a trata como investimento estratégico.

E os resultados aparecem na produtividade, na renda média, no nível educacional e no bem-estar social, índices que colocam o país entre os mais desenvolvidos e estáveis do planeta.

No fim, o modelo deixa uma pergunta que vai muito além das estatísticas:

se alguns países escolhem competir através da eficiência, da educação contínua e do respeito ao trabalhador, por que outros ainda insistem em impor insegurança como forma de gestão social?

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Valdemar Medeiros

Formado em Jornalismo e Marketing, é autor de mais de 20 mil artigos que já alcançaram milhões de leitores no Brasil e no exterior. Já escreveu para marcas e veículos como 99, Natura, O Boticário, CPG – Click Petróleo e Gás, Agência Raccon e outros. Especialista em Indústria Automotiva, Tecnologia, Carreiras (empregabilidade e cursos), Economia e outros temas. Contato e sugestões de pauta: valdemarmedeiros4@gmail.com. Não aceitamos currículos!

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