Aos 75 anos, Galvão Bueno divide o tempo entre narrações esportivas e a gestão da Bellavista Estate, no Rio Grande do Sul, onde comanda a marca Bueno Wines e se tornou referência na produção de vinhos premiados no Hemisfério Sul.
Aos 75 anos, Galvão Bueno concilia a volta às grandes transmissões — hoje contratado do Prime Video — com um projeto no campo que ganhou escala e prêmios.
À frente da Bellavista Estate, em Candiota (RS), o narrador comanda a marca Bueno Wines, criada em 2010, e colhe resultados que o colocaram entre os nomes de destaque da vitivinicultura brasileira, com reconhecimento em avaliações especializadas e concursos.
Da cabine ao vinhedo: escolha planejada
Antes de plantar o primeiro parreiral, Galvão passou anos estudando clima e solo da Campanha Gaúcha. O movimento, relata, transformou sua relação com o vinho e com o próprio trabalho no campo.
-
EUA zeram tarifas do café de países alinhados e mantém Brasil penalizado com taxa de 50%: ‘Consumidor dos EUA pode pagar o maior preço da história pelo café’, diz presidente do Cecafé
-
Gigantes da soja, cacau, leite e café apostam na agricultura regenerativa com US$ 100 bi até 2050, mas obstáculo pouco falado pode travar tudo
-
Setor agro dispara: Brasil vive boom no campo com recordes no leite, suínos e ovos e fêmeas dominando abates de bovinos pela primeira vez
-
Eike Batista afirma que a ‘super cana’, pode produzir até 12 vezes mais bagaço por hectare, capaz de substituir o plástico no mundo
“Mudou absolutamente tudo! […] Vi como o processo é lá, no campo, na parreira”, disse à Revista ADEGA, ao descrever o aprendizado que vai da vinha à taça.
O projeto ganhou forma em 2010, com os primeiros rótulos: o tinto Paralelo 31 e o espumante Cuvée Prestige.
A partir dali, a vinícola expandiu linhas e safras, mantendo foco em qualidade e em variedades adequadas ao terroir da fronteira sul.
Bellavista Estate: área, castas e portfólio
Instalada em uma área de 108 hectares, a Bellavista Estate cultiva uvas Merlot, Petit Verdot, Cabernet Sauvignon, Pinot Noir, Sauvignon Blanc e Chardonnay, entre outras.
A produção abastece tintos, brancos, rosé e espumantes que compõem o portfólio da Bueno Wines, hoje com presença em diferentes faixas de preço e estilos.
Além da origem gaúcha, a marca também assina rótulos elaborados na Itália em parceria com o enólogo Roberto Cipresso, no projeto Bueno–Cipresso, estratégia que ampliou a oferta e reforçou a identidade internacional do negócio.
Reconhecimento em provas e concursos
O avanço técnico refletiu-se nas avaliações.
Em 2018, o Bellavista Estate Pinot Noir foi apontado como melhor Pinot Noir do Brasil na Grande Prova Vinhos do Brasil, após degustações às cegas.
O desempenho consolidou a variedade na Campanha e projetou a vinícola entre as campeãs daquela edição.
Em paralelo, rótulos como o Cuvée Prestige acumularam medalhas, incluindo ouro no IWSC (International Wine & Spirit Competition), em Londres.
Esse reconhecimento somou-se a notas consistentes em guias e publicações especializadas, reforçando a imagem de qualidade dos vinhos assinados por Galvão em diferentes safras e estilos.
Enquanto isso, a marca segue participando de certames e degustações de referência na região.
Azeite, cavalos e genética: outras frentes do negócio
O agronegócio de Galvão não se limita à uva. A fazenda cultiva oliveiras das variedades Arbequina, Arbosana e Picual, base do azeite produzido na propriedade.
O manejo das áreas olivícolas ocorre em paralelo ao calendário da vindima e ajudou a diversificar as receitas do grupo.
Na pecuária, a Bellavista trabalha com gado Hereford e mantém um dos plantéis relevantes de Angus do país, com foco em melhoramento genético e realização de leilões.
Há ainda investimento na criação de cavalos Crioulos, raça emblemática do sul, que integra a rotina do campo e dos eventos promovidos pela fazenda.
Marca, gestão e vitrine esportiva
A vitrine de décadas no esporte impulsiona a comunicação, mas a gestão do negócio se apoia em equipe técnica, parcerias e planejamento de longo prazo.
A marca Bueno Wines opera com narrativa própria, apresentando a história da vinícola, as linhas de produto e a ligação com o território da Campanha Gaúcha, região que consolidou reputação no cultivo de viníferas de clima temperado.
Mesmo com a agenda esportiva intensa, Galvão retomou a narração de grandes jogos como voz do Prime Video em janeiro de 2025, o que manteve seu nome no centro do noticiário e, indiretamente, ampliou a exposição da vinícola ao público geral.
A presença em transmissões de Brasileirão e Copa do Brasil convive com a rotina na fazenda, em um arranjo que combina negócio, marca pessoal e gestão agrícola.
Da paixão à referência
O percurso do narrador no vinho ajuda a explicar a imagem de referência construída no Hemisfério Sul.
O início cuidadoso, a escolha do terroir, as parcerias técnicas e os resultados em concursos formaram uma trajetória mensurável, sem atalhos.
A frase dita à ADEGA — de que a paixão se transformou também pelo contato com a parreira e pelo respeito ao tempo — resume a mudança de rota de um profissional que levou a disciplina da cabine para o campo, e encontrou ali um novo palco para entregar performance.
Seja pela safra que chega à taça, seja pelo azeite de olivas próprias ou pela genética bovina que sai a leilão, o ecossistema construído na Bellavista mostra um narrador que aprendeu a falar outra língua — a do terroir.