Brasil envia tropas à fronteira com a Venezuela em meio à tensão crescente no Caribe, após movimentações militares dos Estados Unidos que incluem submarino nuclear, cruzador, destróieres e caças F-35. Crise eleva risco de instabilidade regional.
O ministro da Defesa, José Múcio, afirmou nesta sexta-feira (5) que teme a transformação da fronteira do Brasil com a Venezuela em uma “trincheira”, diante da escalada militar dos Estados Unidos no Caribe.
Segundo a Folha de S. Paulo, o governo brasileiro já desloca tropas para a região amazônica, em parte por causa da COP30, mas a operação ganhou novo peso com a crise entre Washington e Caracas.
“Isso é como briga de vizinho”, disse o ministro ao deixar o Palácio da Alvorada, após almoço com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e os comandantes das Forças Armadas.
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Brasil reforça vigilância na fronteira norte
A movimentação de efetivos militares busca ampliar a assistência em áreas de difícil acesso de Roraima e Amazonas, regiões descritas como inóspitas e sensíveis a fluxos migratórios e ilícitos.
Múcio declarou que a prioridade é impedir que o limite territorial brasileiro seja afetado por confrontos externos.
“O Brasil é um país pacífico”, afirmou.
Conforme a Folha de S. Paulo, o ministro destacou que o investimento em armamentos se destina exclusivamente à defesa do patrimônio nacional e não tem caráter ofensivo.
EUA ampliam presença militar no Caribe
Paralelamente, os Estados Unidos reforçaram sua presença naval e aérea próximo à Venezuela.
Foram enviados destróieres da classe Arleigh Burke, um cruzador Ticonderoga e um submarino nuclear para a região, acompanhados por milhares de militares.
Estima-se que mais de 4.000 marinheiros e fuzileiros navais estejam envolvidos.
Na sexta (5), Washington também enviou dez caças F-35 a Porto Rico, território americano no Caribe, como parte da escalada contra o regime de Nicolás Maduro.
Somados, os meios deslocados pelos EUA possuem capacidade de lançamento superior a 400 mísseis, o que, segundo análises militares, supera em poder de fogo as forças armadas da Venezuela.
Esse contingente vai além do necessário para operações rotineiras de combate ao narcotráfico, argumento utilizado por Washington para justificar a ofensiva.
F-35 em prontidão e sobrevoo venezuelano
A decisão de posicionar caças de quinta geração foi anunciada após relatos de aproximações consideradas “provocativas” de aeronaves venezuelanas ao destróier USS Jason Dunham.
O presidente americano chegou a afirmar que aviões venezuelanos que ameaçassem navios dos EUA “seriam abatidos”.
Os F-35 somam-se ao dispositivo já instalado no sul do Caribe, ampliando a pressão sobre Caracas.
Maduro reage e fala em “luta armada”
Em resposta, o presidente Nicolás Maduro declarou que a Venezuela está preparada para entrar em “luta armada” caso seja atacada.
O líder chavista disse que o país se encontra em período de “preparação máxima” e que, independentemente das circunstâncias, o funcionamento do Estado será mantido.
Ataque a lancha e questionamentos legais
A crise se agravou ainda mais após os EUA divulgarem a destruição de uma lancha, supostamente utilizada para o tráfico de drogas, em operação que deixou 11 mortos.
O governo venezuelano contestou a autenticidade das imagens e acusou Washington de execuções extrajudiciais.
Especialistas em direito internacional apontaram dúvidas sobre a legalidade da ação.
Petro critica ação e cobra respeito ao direito internacional
O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, chamou o ataque ao barco de “assassinato” e ressaltou que o combate ao narcotráfico deve respeitar os princípios do direito internacional.
Para ele, a colaboração colombiana com os EUA não justifica operações sem base legal sólida.
Alvorada: almoço foi “fraterno”, sem pauta sobre Bolsonaro
No Brasil, Múcio afirmou que o encontro de sexta-feira (5) no Alvorada ocorreu em clima “fraterno”, às vésperas do 7 de Setembro, e que o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro não foi discutido.
O foco, segundo ele, permanece em assegurar que a fronteira não seja arrastada para uma disputa regional.
De acordo com a Folha de S. Paulo, o ministro frisou que o Brasil “não está de olho na terra de ninguém”.
Por que a fronteira preocupa Brasília
Além do risco de incidentes transfronteiriços, o governo teme impactos humanitários e de segurança na Amazônia.
Há a possibilidade de aumento nos fluxos migratórios e no tráfico de ilícitos em caso de intensificação do conflito.
O reforço militar, nesse sentido, busca preservar a neutralidade ativa do Brasil e manter o controle da região.
O que está em jogo
Embora os EUA apresentem a operação como ofensiva contra cartéis de drogas, analistas apontam que o envio de destróieres, submarino nuclear e caças F-35 tem peso político evidente contra Maduro.
A dimensão do dispositivo levanta dúvidas sobre os objetivos reais da ação e sobre os limites do uso de força na região.
Para Brasília, a prioridade é impedir a militarização da fronteira norte e blindar o país de consequências diretas.
Nesse cenário, a estratégia brasileira de reforçar a presença militar e apostar na diplomacia será suficiente para evitar que a fronteira amazônica se torne palco indireto de um embate entre Washington e Caracas?