Em menos de uma década, a China assumiu a liderança mundial dos elétricos acessíveis, enquanto montadoras europeias recuam para faixas mais caras. O avanço chinês redefine estratégias, preços e o futuro da mobilidade no Ocidente.
A indústria automotiva vive uma inflexão rara. Enquanto grupos europeus recuam do segmento de elétricos de entrada, marcas chinesas ocupam o espaço com modelos pequenos, baratos e com tecnologia embarcada competitiva.
Um relatório recente citado pelo portal Notícias Automotivas aponta que essa mudança tem sido impulsionada pelo domínio chinês na cadeia de baterias, ganhos de escala na produção e integração de software, fatores que reduziram custos e aceleraram lançamentos.
Em paralelo, a China consolidou-se como maior exportadora mundial de veículos, deixando de ser coadjuvante para ditar preço e ritmo na faixa acessível.
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Virada chinesa no mercado de elétricos acessíveis
Não foi um movimento isolado. A oferta de compactos elétricos fabricados na China cresceu junto com a queda de preços médios de BEVs no país, ampliando a vantagem frente aos rivais do Ocidente.
A combinação de produção em larga escala, liderança em baterias e cadeia logística integrada permitiu às chinesas entregar EVs de entrada com custos difíceis de replicar por fabricantes europeus.
O resultado aparece também no comércio exterior. Em 2023, a China ultrapassou o Japão e passou à liderança global de exportações de automóveis, tendência reforçada em 2024 e 2025.
Estratégia das montadoras europeias
Enquanto isso, montadoras tradicionais concentram esforços em SUVs, sedãs e esportivos eletrificados, faixas com maior margem por unidade.
A avaliação difundida em reportagem do Notícias Automotivas é de que marcas europeias e britânicas vêm cedendo, na prática, o mercado de elétricos acessíveis ao avanço chinês.
Essa leitura, associada a um estudo da FIA Foundation, descreve um realinhamento: o investimento ocidental se desloca para o topo da escala de preços, enquanto os compactos e subcompactos elétricos de preço mais baixo se multiplicam com logotipos chineses nas ruas europeias.
Reino Unido como termômetro do setor
O Reino Unido exemplifica a mudança de vento. Em junho de 2025, aproximadamente 19 mil veículos vendidos no país foram de marcas chinesas como MG, BYD, Omoda e Jaecoo, em um total de 191 mil emplacamentos no mês.
A participação refletiu a combinação de preço, oferta crescente e redes comerciais recém-criadas.
Além disso, o portfólio britânico já soma cerca de 130 modelos elétricos à venda, dos quais ao menos 33 ficam abaixo de £30 mil, patamar considerado hoje “acessível” para os padrões locais.
Incentivos e infraestrutura no Reino Unido
O governo britânico reabriu, em 2025, um subsídio direto para carros 100% elétricos com preço até £37 mil, oferecendo descontos automáticos no ato da compra de £1.500 ou £3.750, conforme critérios de sustentabilidade do veículo.
Em 28 de agosto, dois modelos da Ford tornaram-se os primeiros a receber o valor máximo, elevando para 28 o número de EVs elegíveis no programa.
Paralelamente, a administração anunciou a instalação de mais de 100 mil novos pontos de recarga locais “nos próximos anos”, reforçando a capilaridade da rede pública. Por metas estruturais, o país mantém a projeção de ao menos 300 mil pontos públicos até 2030.
Pequenos elétricos como alternativa aos SUVs
No debate sobre o excesso de tamanho dos veículos na Europa, especialistas veem espaço para uma troca de prioridades.
Em declaração que ganhou repercussão no Reino Unido, Steve Gooding, diretor da RAC Foundation, disse que “o romance com carros do tamanho do Fiesta pode ser reacendido se mais elétricos pequenos e acessíveis chegarem ao mercado”.
A frase sintetiza a hipótese de que uma nova onda de compactos elétricos baratos pode conter o crescimento da frota de SUVs e devolver protagonismo aos modelos urbanos.
A ofensiva chinesa
A ofensiva chinesa não se limita a preço baixo. Marcas como BYD expandem-se oferecendo linha variada, do hatch compacto ao utilitário esportivo, com baterias proprietárias e eletrônica de bordo competitiva.
Em mercados europeus, o avanço inclui tanto BEVs quanto híbridos plug-in, com ciclos de desenvolvimento curtos e atualizações constantes de software.
Além disso, parte das vendas no continente é abastecida por plantas fora da China, reduzindo a exposição a tarifas e encurtando logística, sem alterar a estratégia central de escala e custo, segundo destaca o Notícias Automotivas.
Futuro das montadoras ocidentais
Embora o recuo atual seja visível no segmento de entrada, há contramovimentos.
Projetos europeus para EVs abaixo de €25 mil–€30 mil começam a aparecer, e novas regras de emissões na União Europeia, válidas desde janeiro de 2025, pressionam por mais volume elétrico.
Ainda assim, o time-to-market das chinesas e a vantagem na cadeia de baterias sustentam a dianteira no curto prazo, especialmente enquanto fabricantes europeias priorizam margens em classes superiores e aguardam ganhos de escala nos modelos mais baratos.
Impactos no consumidor
Para o comprador médio, a combinação de subsídio, queda de preços e maior oferta tende a ampliar a adoção de elétricos.
Isso é ainda mais evidente entre quem migra de um carro usado a combustão para um compacto elétrico novo.
No Reino Unido, a volta do incentivo direto e a expansão de recarga pública podem reduzir barreiras práticas, como custo de aquisição e conveniência no dia a dia.
No entanto, o quadro competitivo indica que quem colhe os frutos desse impulso, por ora, são marcas chinesas, enquanto europeias apostam em faixas acima de £30 mil.