Gigante chinesa acelera no Brasil com planos de expansão e avalia nova unidade no Espírito Santo, ampliando disputa no setor automotivo e projetando forte impacto em empregos, fornecedores e produção de veículos eletrificados.
A GWM busca implantar 2ª unidade no Brasil e colocou o Espírito Santo no radar.
Executivos da montadora têm visita estratégica marcada ao Estado como parte dos estudos para a escolha do novo endereço, enquanto a empresa inaugura sua primeira fábrica nacional em Iracemápolis (SP) e projeta elevar a produção local para 250 mil a 300 mil veículos por ano.
Visita ao Espírito Santo e disputa por investimentos
De acordo com o vice-governador Ricardo Ferraço, representantes da Great Wall Motors virão ao Espírito Santo para avaliar condições concretas de instalação, com foco em logística e ambiente de negócios.
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Segundo ele, a agenda inclui estruturas portuárias, formação de mão de obra, localização e estímulos econômicos.
“Vão conhecer a infraestrutura portuária, capacitação, localização, estímulos, para que possamos estar nessa competição de atrair essa empresa de inovação e tecnologia que vai gerar muitos empregos”, afirmou.
O movimento amplia a disputa por novos investimentos automotivos no País e opõe a GWM a concorrentes como BYD, Toyota e Volkswagen, além de outras marcas que buscam ampliar capacidade e presença industrial no Brasil.
O Estado já havia sinalizado a chegada de duas montadoras, “uma delas possivelmente chinesa”, como disse o secretário de Desenvolvimento, Rogério Salume, em entrevista ao podcast Histórias Empresariais, da Rede Tribuna.
Estratégia de produção completa no País
A GWM tem como estratégia internalizar todos os processos de produção no Brasil, e não apenas a montagem final.
A decisão implica estimular a cadeia de fornecedores local, com atração de fabricantes de componentes como pneus, discos e pastilhas de freio, entre outros insumos automotivos.
Para Fausto Frizzera, conselheiro do Centro Capixaba de Desenvolvimento Metalmecânico (CDMec), a base atual ainda é reduzida.
“Hoje, no Estado, vejo apenas a WEG como fornecedora de uma empresa como essa. Precisamos atrair mais”, disse.
Além do ecossistema de autopeças, a disponibilidade de aço de alta performance pesa na conta.
O vice-governador citou o projeto do Laminador de Tiras a Frio (LTF), investimento bilionário anunciado pela ArcelorMittal Tubarão, como um potencial diferencial para atender as demandas de indústrias automobilística e de eletrodomésticos.
Iracemápolis inicia operação com 50 mil/ano
Depois de adquirir a antiga planta da Mercedes-Benz, em Iracemápolis, a GWM iniciou a montagem de veículos no Brasil.
A unidade paulista tem capacidade para 50 mil veículos por ano.
O volume, porém, não cobre as metas traçadas para o mercado ocidental, como afirmou Parker Shi, presidente da GWM Internacional, ao projetar a necessidade de elevar a produção nacional para um patamar entre 250 mil e 300 mil unidades anuais.
A cerimônia de inauguração contou com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, e do CEO global da GWM, Mu Feng.
A participação de autoridades federais reforçou o caráter estratégico do projeto para a reindustrialização e para a agenda de transição energética na mobilidade, foco em que a marca atua com elétricos e híbridos.
Por que o Espírito Santo entrou no mapa
A posição geográfica do Espírito Santo e a infraestrutura portuária são apontadas como trunfos logísticos, tanto para a importação de componentes quanto para a exportação a mercados vizinhos.
Outro atrativo é a possibilidade de construção de um hub fornecedor em torno da nova planta, caso a empresa opte por um modelo de produção com maior integração local.
A visita técnica de executivos ocorre nesse contexto de avaliação.
A expectativa do governo estadual é apresentar um conjunto de condições competitivas, que inclui incentivos, disponibilidade de áreas industriais e parcerias para qualificação de trabalhadores, elementos considerados essenciais por montadoras que pretendem acelerar cronogramas.
Meta global: mais produção fora da China
A Great Wall Motors opera fábricas em países como Rússia e Tailândia e tem ampliado a presença industrial fora de seu mercado de origem.
Atualmente, 35% de seus automóveis são montados fora da China.
A meta corporativa é alcançar 50% nos próximos anos, o que explica a busca por um segundo endereço no Brasil e por uma produção mais verticalizada no território nacional.
Esse redesenho industrial se apoia em estudos de mercado realizados na América Latina desde 2000.
Ao expandir sua manufatura local, a marca pretende diminuir prazos logísticos, reduzir custos cambiais e atender de forma mais ágil a exigências regulatórias e preferências do consumidor brasileiro, especialmente no segmento de eletrificados.
Empregos, fornecedores e efeito multiplicador
A escolha do local para a segunda fábrica tende a refletir também o potencial de geração de empregos diretos e indiretos.
Além do quadro próprio da montadora, a formação de um parque de autopeças costuma atrair pequenas e médias empresas, serviços logísticos e centros de pesquisa.
O efeito multiplicador é um dos argumentos de Estados que disputam investimentos desse porte.
Ainda assim, especialistas destacam que o sucesso do projeto depende da coordenação entre montadora, governo e cadeia de suprimentos.
A proximidade a portos, a oferta regular de energia, a disponibilidade de aço adequado e a qualificação de mão de obra contam tanto quanto os incentivos fiscais.
Nesse cenário, o pacote completo poderá definir a vitória do Espírito Santo ou de outro candidato.
Próximos passos na decisão
Com a operação em Iracemápolis iniciada e um plano de expansão em andamento, a GWM avalia endereços, prazos e cronogramas para viabilizar a produção adicional no País.
A visita anunciada por autoridades capixabas é parte do processo de due diligence que precede a assinatura de protocolos e o detalhamento de investimentos.
O calendário de negociação inclui etapas técnicas e institucionais, como estudos de viabilidade, avaliação de áreas, análise de infraestrutura e modelagem de incentivos de longo prazo.
Enquanto isso, a competição entre Estados e rivais do setor tende a se intensificar, acompanhando a corrida por novas fábricas de veículos eletrificados no Brasil.
Diante dessa disputa por capital, empregos e tecnologia, qual fator deverá pesar mais para a GWM na escolha da cidade da sua 2ª fábrica no País?