Montadora chinesa acelera planos de produção no Brasil, mas disputa envolvendo fábrica no interior paulista pode atrasar cronograma e mudar a estratégia industrial da empresa.
A Omoda Jaecoo no Brasil estuda iniciar a produção local em uma unidade já existente e a fábrica de Jacareí, avaliada em R$ 63,8 milhões, surge como uma das alternativas sobre a mesa.
O plano, porém, esbarra em uma disputa envolvendo o terreno e a possibilidade de leilão municipal, cenário que pode redirecionar a estratégia industrial da empresa. A marca já ganhou tração comercial.
Apareceu no Top 21 da Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores) em julho e, a partir de setembro, reforçará o portfólio nacional com novas motorizações para os modelos Omoda 5 e Jaecoo 7, ambos importados da China.
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A meta, segundo a direção local, é acelerar a fase seguinte: montar veículos aqui.
O que a empresa diz
Segundo o site Notícias Automotivas, em entrevista, Peng Hu, diretor-geral da Omoda Jaecoo no Brasil, confirmou que a fábrica de Jacareí está no radar.
“Jacareí é uma das nossas opções. Não é a principal, mas é uma delas. Temos muitas opções e não posso dizer o prazo exato, mas queremos produzir no Brasil o mais rápido possível. Pode ser no fim deste ano ou no começo do ano que vem”, afirmou.
A fala evidencia duas frentes. De um lado, a urgência para nacionalizar parte do portfólio e capturar benefícios industriais e logísticos. De outro, a necessidade de encontrar um endereço com baixa complexidade jurídica e operativa.
Por que Jacareí entrou no mapa
A fábrica de Jacareí pertenceu à operação da Caoa Chery e não opera desde 2022, quando a produção local foi encerrada.
Desde então, a unidade no Vale do Paraíba, próxima à Rodovia Presidente Dutra (BR-116), permanece parada.
A ociosidade e a infraestrutura já instalada tornam o local uma alternativa natural para a Omoda Jaecoo no Brasil, sobretudo pela conexão societária: as marcas Omoda e Jaecoo são braços da chinesa Chery, que, por sua vez, mantém sociedade com a brasileira CAOA em outra frente de negócios.
Omoda Jaecoo e Caoa Chery são a mesma coisa?
Segundo Peng Hu, não. “Somos parte do Grupo Chery, que é um grupo automotivo como a Stellantis, Volkswagen. A Caoa Chery é uma marca e nós somos outra, temos estrutura diferente, áreas financeiras diferentes. Nós somos bons e eles também são bons, mas somos independentes”, disse.
A declaração aponta que eventuais movimentos industriais da Omoda Jaecoo no Brasil podem ocorrer com autonomia, inclusive se a opção final não for a fábrica de Jacareí.
Disputa pelo terreno pode mudar tudo
O principal “freio de mão” está fora do galpão. A prefeitura de Jacareí avalia levar a fábrica de Jacareí a leilão por suposto descumprimento de metas de geração de empregos assumidas à época de concessão de incentivos públicos.
Um ofício teria sido enviado à Caoa Chery, e a empresa informou que não recebeu formalmente a notificação.
Nesse contexto, a administração municipal mencionou a possibilidade de indenização de R$ 17,7 milhões à companhia — diferença entre R$ 46 milhões (em obras de infraestrutura e incentivos fiscais) e o valor estimado do imóvel, R$ 63,8 milhões.
Enquanto perdurar a incerteza sobre o domínio do terreno e o futuro do ativo, a Omoda Jaecoo no Brasil tende a manter alternativas sobre a mesa.
A marca admite que a fábrica de Jacareí “não é a principal” opção, justamente porque o componente jurídico pode atrasar ou inviabilizar o cronograma de produção local.
Outras opções consideradas
Há referências do setor a um possível uso de Anápolis (GO), onde a CAOA mantém parque fabril.
Circulam informações no mercado sobre novas parcerias industriais por lá, com participação de outras montadoras chinesas, mas não há confirmação pública do desenho final desses acordos.
Sem anúncio oficial, a empresa evita detalhar endereços específicos além de a fábrica de Jacareí, que segue como alternativa entre várias.
O que está em jogo para o consumidor e a rede
A montagem local tende a reduzir prazos logísticos, ampliar a previsibilidade de oferta e, potencialmente, melhorar a competitividade de preço no médio prazo.
Em paralelo, a nacionalização permite avançar em índice de conteúdo local, quesito relevante em programas de incentivo e em compras públicas.
Para a rede de concessionárias, a medida pode significar giro mais rápido de estoque e mix de versões mais ajustado à demanda brasileira.
Linha do tempo e próximos passos
A direção da Omoda Jaecoo no Brasil fala em “fim deste ano ou começo do ano que vem” como janela desejada para iniciar a produção local.
Trata-se de uma meta ambiciosa, que depende de três fatores: escolha do site, solução das pendências do ativo (no caso de a fábrica de Jacareí) e obtenção das licenças e certificações necessárias.
Enquanto isso, a importação segue como pilar para sustentar as vendas de Omoda 5 e Jaecoo 7 e consolidar a presença da marca no país.
Entenda os números do terreno
A conta citada pela prefeitura parte de dois marcos financeiros. De um lado, R$ 46 milhões investidos em estrutura e incentivos fiscais vinculados ao projeto original.
De outro, o valor estimado do imóvel, R$ 63,8 milhões. A diferença, R$ 17,7 milhões, seria a base de uma indenização caso o leilão prospere e a disputa chegue ao fim.
Até o momento, não é possível afirmar se o processo avançará, tampouco prever datas de eventual alienação do bem.
E a rede de marcas da Chery no país?
A multiplicidade de marcas sob o guarda-chuva da Chery no mercado brasileiro exige arranjos operacionais claros.
A fala de Peng Hu sobre independência gerencial reforça que a arquitetura de produção pode ser segmentada por marca, local ou parceiro industrial.
A avaliação final levará em conta tempo de retomada, custos de adaptação de linha e a segurança jurídica do endereço escolhido — critérios que, por ora, mantêm a fábrica de Jacareí como opção relevante, mas não exclusiva, para a fase industrial da Omoda Jaecoo no Brasil.
E você, acredita que a solução para a fábrica de Jacareí sairá a tempo de a Omoda Jaecoo no Brasil iniciar a produção já “no fim deste ano ou no começo do ano que vem”, como disse a direção?