Pesquisadores britânicos podem ter encontrado uma solução simples e eficiente para tornar a construção civil mais ecológica. Em vez de depender do cimento, um dos maiores vilões ambientais do setor, uma nova técnica usa vidro reciclado em blocos de terra compactada. O resultado surpreendeu: blocos mais resistentes, sustentáveis e com menos impacto ambiental.
Blocos de terra compactada, reforçados com vidro reciclado e cal, podem representar o futuro da construção sustentável. Pesquisadores da Universidade de Portsmouth, no Reino Unido, descobriram que essa mistura aumenta em até 90% a resistência dos blocos, reduzindo a necessidade de cimento — um dos maiores emissores de carbono do setor.
Teste com vidro e cal revela fórmula ideal
A equipe da Escola de Engenharia Civil e Topografia da universidade realizou diversos testes com blocos de terra compactada.
Esse tipo de bloco é feito com subsolo, areia, argila não expansiva e outros agregados.
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Ao contrário dos tijolos tradicionais, não são queimados em forno: endurecem naturalmente, por cura ao ar ou com uso de água.
Para aumentar a resistência dos blocos, normalmente se adiciona cimento. No entanto, o impacto ambiental dessa prática é alto. Pensando nisso, os pesquisadores testaram uma solução alternativa: incorporar pó de vidro reciclado à mistura dos blocos.
As combinações foram variadas, com diferentes proporções de partículas de vidro reciclado (RWGP), entre 0% e 25%. Os testes também incluíram adição de cal, em busca da fórmula ideal de estabilização.
Segundo o professor associado Dr. Muhammad Ali, uma composição com 10% de cal e 10% de pó de vidro reciclado foi a que apresentou melhor desempenho. “Foi a que produziu os blocos mais resistentes, sem rachaduras sob pressão intensa”, afirmou.
Blocos “verdes” mais resistentes e sem rachaduras
Os resultados impressionaram. Os blocos estabilizados com vidro reciclado e cal atingiram 5,77 MPa (megapascal) de resistência à compressão, quase o dobro dos blocos não estabilizados, que alcançaram apenas 3,03 MPa após 28 dias.
A resistência à tração também foi superior: 0,52 MPa contra 0,40 MPa nos blocos tradicionais. Os blocos “verdes” demonstraram ainda melhor desempenho em outros testes mecânicos, como absorção de água e integridade sob pressão.
Além disso, os pesquisadores examinaram os blocos com microscópio eletrônico. A mistura de 10% de cal com 10% de pó de vidro reciclado não revelou nenhuma rachadura visível, mesmo após 28 dias, o que reforça sua alta integridade estrutural.
Alternativa ao cimento com menos impacto ambiental
A pesquisa aponta para uma solução promissora. Com desempenho estrutural superior e uso de materiais reciclados, os blocos com vidro podem ajudar a reduzir significativamente o uso de cimento na construção civil. Essa substituição tem potencial para diminuir a emissão de carbono e contribuir para um setor mais sustentável.
A iniciativa também se alinha à economia circular, que busca reduzir a necessidade de novos materiais e reaproveitar resíduos industriais. O uso de vidro reciclado como insumo básico para a construção é um exemplo claro dessa abordagem.
“Há uma demanda crescente pelo uso de resíduos industriais reciclados como materiais de construção sustentáveis”, reforçou o Dr. Ali.
Iniciativas semelhantes surgem no Japão
Enquanto a equipe britânica avança com os blocos de terra reforçados com vidro, pesquisadores do Japão também apresentam soluções parecidas.
Um novo solidificador de solo à base de geopolímero foi desenvolvido utilizando dois tipos de resíduos: pó de corte de revestimento (SCP) e sílica terrosa (ES), esta última derivada de vidro reciclado.
Assim como os estudos da Universidade de Portsmouth, a proposta japonesa tem como objetivo reduzir a dependência de cimento e transformar resíduos da construção em recursos úteis.
Conclusão: construção mais ecológica no horizonte
As descobertas recentes mostram que o vidro reciclado pode ter um papel central na transformação da construção civil. Os blocos de terra compactada, quando reforçados com pó de vidro e cal, apresentam melhorias significativas de desempenho, além de promoverem uma alternativa mais ecológica ao cimento convencional.
O estudo foi publicado na revista Discover Civil Engineering e pode marcar um avanço importante na busca por construções mais sustentáveis, com menos impacto ambiental e maior aproveitamento de materiais descartados.