Portal do Inferno no Turcomenistão começa a se apagar após 50 anos de fogo constante alimentado por vazamento de gás natural.
O lendário “Portal para o Inferno“, no Turcomenistão, está finalmente começando a se apagar. A cratera em chamas, que há cinco décadas arde sem parar, apresenta agora uma chama fraca e quase imperceptível.
Os cientistas atribuem a redução das chamas ao fluxo menor de gás inflamável que alimentava o fogo.
O acidente que criou o Portal
Em 1971, durante uma perfuração, cientistas soviéticos atingiram acidentalmente uma bolsa subterrânea de gás natural no deserto de Karakum. A estrutura da estação de perfuração cedeu, formando um enorme sumidouro.
-
O que aconteceria se detonássemos uma bomba de antimatéria na Terra? A resposta do ChatGPT é baseada em física real — veja por que ela superaria qualquer bomba nuclear
-
Elon Musk anuncia desativação imediata da cápsula Dragon da SpaceX após ameaça de Trump e expõe risco à autonomia espacial dos EUA
-
A ‘arma’ de defesa natural que o Brasil possui e que nos protege de terremotos
-
iPhone não é mais o rei das câmeras? Conheça 5 celulares que superam o modelo da Apple em testes de fotografia
Sem saber como conter o vazamento de gás tóxico, os especialistas tomaram a decisão de incendiar o local, acreditando que o fogo se apagaria em poucos dias.
No entanto, ao contrário do esperado, o incêndio continuou ativo durante 50 anos. Desde então, a cratera virou uma das principais atrações turísticas do Turcomenistão e também uma fonte significativa de emissões de metano para a atmosfera.
Redução das chamas
Segundo Irina Luryeva, diretora da empresa estatal de energia Turkmengaz, o fogo já não tem a força de antes. “Antes, um enorme brilho do incêndio era visível a vários quilômetros de distância, daí o nome ‘Portal para o Inferno’. Hoje, resta apenas uma tênue fonte de combustão“, afirmou em uma conferência sobre combustíveis fósseis.
Atualmente, as chamas estão três vezes menores do que no passado. O fogo só pode ser avistado de perto, perdendo o brilho sobrenatural que o tornava visível a longas distâncias no deserto.
Estrutura do sumidouro
O “Portal do Inferno”, oficialmente chamado de “Iluminado de Karakum”, tem 70 metros de largura e 30 metros de profundidade. Ele está situado acima de um imenso reservatório subterrâneo de gás natural, que vaza continuamente em direção à superfície.
A origem exata do sumidouro não conta com registros oficiais, já que o incidente ocorreu durante a era soviética. Mesmo assim, a teoria mais aceita é a do acidente durante a prospecção de gás natural, quando a plataforma soviética desabou após perfurar a bolsa de gás.
As reservas de gás do Turcomenistão
O Turcomenistão possui a quarta maior reserva de gás natural do mundo. Muitos desses bolsões estão espalhados sob o deserto de Karakum.
Acredita-se que o Portal do Inferno esteja conectado a essa vasta reserva, o que sustentou o incêndio durante décadas com um suprimento quase constante de metano.
Apesar de sua origem acidental, o sumidouro em chamas se tornou um símbolo nacional improvável. Os poucos turistas que visitam o país vão ao local para acampar perto do calor emitido pelo gás em combustão.
Um presidente e seu desafio
Em 2019, o então líder nacional Gurbanguly Berdymukhamedov se filmou dirigindo um carro de rali ao redor da cratera. A gravação foi uma tentativa de desmentir rumores de sua morte.
Três anos depois, em 2022, Berdymukhamedov anunciou seu desejo de ser o governante responsável por encerrar o fogo eterno.
Para ele, apagar as chamas significaria preservar recursos naturais e gerar lucros para o país. “Estamos perdendo recursos naturais valiosos pelos quais poderíamos obter lucros significativos e usá-los para melhorar o bem-estar do nosso povo“, declarou.
Medidas para conter o vazamento
Desde o anúncio do projeto, ao menos dois novos poços foram perfurados nos arredores da cratera. O objetivo é capturar o metano excedente que, de outra forma, escaparia para a atmosfera.
Além disso, bombas de gasolina antigas e desativadas foram reativadas para ajudar na extração do gás.
Com a diminuição gradual do fluxo de metano, as chamas do Portal do Inferno perderam força. O projeto de drenagem de gás vem mostrando resultados visíveis no tamanho reduzido do fogo.
Impacto ambiental
A diminuição das chamas pode representar um avanço importante na redução da poluição por metano. O gás é um dos principais responsáveis pelo efeito estufa e pelas mudanças climáticas.
Um estudo da Agência Internacional de Energia apontou o Turcomenistão como o maior emissor mundial de metano por meio de vazamentos de gás. O país contesta essa avaliação, mas dados de outras instituições reforçam o problema.
A empresa de inteligência Kayrros, por exemplo, identificou que dois campos de combustíveis fósseis do país emitiram, em 2022, mais gases que todas as emissões de carbono do Reino Unido naquele ano.
Apesar das chamas ajudarem a queimar parte do gás que escapava, o sumidouro continuou liberando grandes volumes de metano na atmosfera. O projeto de redirecionamento do gás para outros poços, onde pode ser armazenado e transformado em energia, pode contribuir para diminuir a pegada de carbono do Turcomenistão.
Exploração científica
Além do impacto ambiental e turístico, o Portal do Inferno também chamou atenção de pesquisadores. Em 2013, o explorador canadense George Kourounis desceu à cratera para coletar amostras de solo.
A expedição revelou que microrganismos simples conseguiram sobreviver dentro do ambiente extremo e quente do poço em chamas.
Esses achados mostram que formas de vida conseguem se adaptar a condições consideradas inóspitas, mesmo em locais com temperaturas elevadas e alta concentração de gases tóxicos.
Turismo e curiosidade mundial
Apesar do isolamento do Turcomenistão, cerca de 6.000 turistas estrangeiros visitam o Portal do Inferno todos os anos. O espetáculo visual de um fogo eterno no meio do deserto sempre atraiu curiosos, cientistas e viajantes em busca de imagens impressionantes.
Agora, com a redução das chamas, o local pode perder parte de sua fama mundial.
No entanto, o encerramento gradual do fogo também representa um passo importante para o controle das emissões e para o aproveitamento dos recursos naturais de forma mais sustentável.
O fogo que iluminou o deserto de Karakum por meio século está chegando ao fim.
O projeto de extração do gás continua em andamento e, aos poucos, o lendário Portal do Inferno vai se transformando em uma simples cratera no solo turcomeno. As últimas chamas ainda resistem, mas seu brilho já não ecoa mais pelo deserto como antigamente.