Ministro Fernando Haddad critica transição turbulenta no Banco Central, reafirma confiança em Gabriel Galípolo e diz que a taxa Selic em 15% não se justifica diante do cenário de inflação dentro da meta.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que a última transição de comando no Banco Central foi marcada por uma “crise grande em dezembro” e que a história completa do processo ainda será revelada. Em entrevista ao ICL, ele classificou a troca de Roberto Campos Neto por Gabriel Galípolo como “muito complexa” e cercada de turbulências políticas e institucionais.
Haddad também declarou que há espaço para a queda da taxa Selic, atualmente em 15% ao ano, o maior patamar em quase duas décadas. Para o ministro, a inflação deve encerrar 2025 igual ou menor que a do ano passado, permanecendo dentro do sistema de metas, o que reforça o argumento pela flexibilização monetária.
Crise na transição do Banco Central
Segundo Haddad, a transição do comando do BC foi atípica porque o governo conviveu por dois anos com um presidente indicado pela gestão anterior.
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Esse período, disse ele, foi marcado por crises “artificialmente construídas”, que a equipe econômica precisou driblar semana após semana.
O ministro destacou que Galípolo herdou um problema e assumiu em meio a um contexto de instabilidade política.
“Foi uma transição muito complexa, não foi devidamente diagnosticada ainda. Mas no futuro os envolvidos vão poder contar o que realmente aconteceu”, afirmou.
Bastidores ainda não revelados
Haddad sugeriu que bastidores da troca de comando envolvem episódios ocorridos em instituições financeiras e até em Washington.
“Isso vai vir à tona no momento adequado”, disse, reforçando que a narrativa completa sobre o período será esclarecida mais adiante.
Apesar das críticas, o ministro fez questão de ressaltar a competência da atual diretoria do BC e garantiu confiança nas decisões do Copom.
“Ninguém ali está brincando. Todas as indicações foram técnicas e respeitadas pelo mercado”, disse.
Juros altos e tolerância em “errar para cima”
Em relação à política monetária, Haddad voltou a criticar o patamar da Selic, que considera excessivo.
“Não acho justificável os juros estarem em 15%”, afirmou, apontando que parte significativa do mercado financeiro compartilha essa visão.
Para ele, o Brasil tem uma “tolerância em errar para cima” na taxa de juros, o que, além de travar investimentos, pode prejudicar a própria inflação ao restringir a oferta de bens e serviços.
“Errar para cima não é aceitável. Pode gerar outros tipos de problemas”, advertiu.
Inflação dentro da meta e perspectiva de cortes
Haddad avaliou que o cenário atual já mostra perda de força nos preços e reforçou que a inflação deve ficar igual ou menor que a de 2024, mesmo após a pressão do câmbio no fim do ano passado.
“O IPCA já está retornando para patamares próximos do teto da banda de tolerância”, afirmou.
Com a inflação sob controle, o ministro entende que há espaço para o Copom reduzir a Selic e adotar um “traçado mais preciso”, sem excessos para cima ou para baixo.
Para ele, Galípolo terá tempo e condições de entregar resultados consistentes durante seu mandato.
As declarações de Fernando Haddad colocam em debate o futuro da política monetária brasileira: de um lado, a necessidade de reduzir juros para estimular investimentos; de outro, a pressão por manter cautela em ano eleitoral.
E você, acredita que já há espaço para corte da Selic ou considera que o Banco Central deve esperar mais sinais da economia? Deixe sua opinião nos comentários — sua visão ajuda a enriquecer esse debate.