O alerta feito pelo ministro da Defesa expôs de forma contundente a fragilidade das Forças Armadas brasileiras, que enfrentam dificuldades crescentes para manter sua operacionalidade. A situação envolve a falta de combustível, a escassez de peças de reposição, munições limitadas a apenas 30 dias de uso e aeronaves ultrapassadas
Preocupado com a penúria enfrentada pelas Forças Armadas na atual gestão do presidente Lula, o ministro da Defesa, José Múcio, fez um “grave alerta” durante audiência pública na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional, nesta terça-feira (30).
Com tom de urgência, Múcio deixou claro que o cenário atual compromete diretamente a capacidade de atuação militar do país. Segundo ele, o Brasil, maior nação da América Latina e dono de 52% do PIB da região, enfrenta uma realidade desproporcional à sua grandeza.
“Eu vim atrás de ajuda. Somos o maior país da América Latina, temos 52% do PIB da região, mas as Forças Armadas não sei nem se estão entre as três primeiras. Temos bastante equipamento comprado, mas não temos dinheiro para comprar peças”, afirmou.
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Combustível, peças e munição em falta
O ministro descreveu um quadro crítico, no qual faltam recursos para abastecer veículos e aeronaves e para repor peças essenciais. Ele destacou que, embora o Brasil possua equipamentos adquiridos, não há verba suficiente para mantê-los operacionais.
“Falta combustível, faltam peças, falta munição. Nós temos 30 dias de munição, 30 dias espanta o inimigo, mas se ele voltar outra vez, não tem o que fazer”, declarou José Múcio.
A fala expôs o contraste entre a quantidade de material já comprado e a impossibilidade de utilizá-lo plenamente por falta de manutenção, peças de reposição e suprimentos básicos.

Gastos militares no mundo e contraste brasileiro
Na mesma audiência, o ministro apresentou dados sobre o crescimento global dos investimentos em defesa.
Ele destacou que o Brasil responde por apenas 1% dos gastos mundiais no setor, mesmo ocupando a posição de décima maior economia do planeta.
De acordo com os números apresentados, em 2023 foram destinados US$ 2,2 trilhões para defesa em todo o mundo.
No ano seguinte, o montante subiu para US$ 2,7 trilhões e há expectativa de ampliação em 2025. Estados Unidos e China, sozinhos, foram responsáveis por 52% de todo esse volume.
Defesa fora da prioridade política
José Múcio reconheceu que a defesa nacional nunca foi prioridade nos governos brasileiros.
Em sua avaliação, a área raramente integra projetos políticos de candidatos à Presidência ou prestações de contas de mandatários.
“Na realidade, eu vim aqui atrás de ajuda. A defesa nunca fez parte de projeto político de nenhum candidato à presidência da República e nem fez parte de nenhuma prestação de conta de nenhum presidente. Ou seja, as coisas que acontecem na defesa são episódicas”, explicou.
Essa falta de continuidade, segundo o ministro, gera ciclos de abandono, nos quais investimentos pontuais não se transformam em avanços estruturais duradouros.
Heroísmo e dedicação dos militares
Em meio às críticas à falta de recursos, José Múcio fez questão de destacar o papel humano que mantém vivas as Forças Armadas.
Para ele, o heroísmo e a dedicação de soldados, marinheiros e aviadores garantem o funcionamento mínimo da instituição.
“Quem sustenta as nossas forças armadas é o heroísmo do fator humano. São os marinheiros, os soldados, os aviadores e o profundo respeito que eles têm. Porque, diferente de nós políticos, eles passam 50 anos acreditando na mesma coisa, obedecendo as mesmas pessoas e tendo a consciência que precisam servir ao Brasil”, afirmou.
Essa perseverança, acrescentou o ministro, sustenta a “sinfonia” militar mesmo diante de equipamentos sucateados e limitações orçamentárias.
Comparação com países vizinhos
O ministro também comparou o Brasil com vizinhos sul-americanos e reconheceu que o país está em desvantagem. Ele citou especificamente o Chile e a Colômbia, que possuem frotas de aviões mais robustas do que a brasileira.
“O Chile hoje tem uma frota de aviões maior do que a nossa. A Colômbia também tem. Qual foi o segredo que esses países adotaram? Eles criaram uma fonte de financiamento que independe do humor da política”, observou.
Segundo ele, o modelo adotado por esses países assegura estabilidade nos investimentos em defesa, algo que o Brasil ainda não conseguiu alcançar.
Obstáculos impostos pela desigualdade social
José Múcio destacou que o Brasil enfrenta um dilema ao tentar priorizar a defesa em um cenário de profundas desigualdades sociais.
Ele lembrou que é difícil justificar grandes gastos militares quando faltam recursos para áreas básicas como saúde, educação e alimentação.
Para ilustrar a dificuldade, o ministro citou exemplos concretos: “Você comprar um caça que custa 100 milhões de dólares, nós precisamos de 30, 40. Você comprar um submarino que custa 800 milhões de euros, será que a sociedade ia aceitar? Será que a imprensa ia dizer que o governo fez certo em comprar uma frota de caças de 100 milhões de dólares quando não compramos livros, remédios, quando tem escola que está sem o alimento que precisa para os alunos?”, questionou.
A orquestra como metáfora
Em sua fala, Múcio utilizou uma metáfora para explicar a situação das Forças Armadas. Ele comparou a instituição a uma orquestra que precisa lidar com instrumentos velhos ou novos, mas depende da satisfação e da motivação dos músicos.
“A sinfonia sai melhor com músicos satisfeitos e instrumentos velhos do que com instrumentos novos e músicos insatisfeitos”, declarou.
A percepção sobre os militares
José Múcio também abordou a imagem das Forças Armadas na América do Sul, muitas vezes associadas ao golpismo. Para ele, essa visão é injusta e não corresponde ao papel constitucional das instituições militares no Brasil.
“Precisamos tirar da América do Sul a nódoa de que os militares são pretensos golpistas ou sonham em mudar o governo. O militar não pode fazer política porque é funcionário do governo que estiver no plantel”, afirmou.
Ele lembrou ainda que os militares são obrigados a respeitar a autoridade do presidente da República, qualquer que seja o ocupante do cargo: “É o único lugar do emprego no Brasil que à meia-noite do dia 31 de dezembro para o dia primeiro troca de chefe e todos têm que prestar continência ao novo chefe, seja ele quem for.”
Limites do presidente diante da escassez
O ministro frisou que a situação atual não deve ser atribuída a governos específicos. Segundo ele, qualquer presidente enfrentaria as mesmas dificuldades, dada a pressão por investimentos em outras áreas sociais.
“Isso não é culpa de nenhum ex-presidente da República, nem do presidente da República. Se eu fosse presidente, o caso seria o mesmo. Se Nelsinho fosse, seria o mesmo. Jorge ou qualquer dos senhores, porque é muito difícil um presidente da República num país onde faltam vacinas, remédios, livros, alimento”, explicou.
Indústria nacional de defesa
José Múcio defendeu o fortalecimento da indústria brasileira de defesa. Segundo ele, o setor reúne hoje 270 empresas estratégicas e gera 3 milhões de empregos, além de responder por 3,6% do PIB nacional.
Ele destacou que em 2025 o setor bateu recorde de exportações, ultrapassando R$ 2,5 bilhões. Também citou avanços importantes com o lançamento de fragatas, a produção de submarinos e a ampliação da aviação militar, com os cargueiros KC-390 e os caças Gripen.
“Mesmo com restrições orçamentárias, temos avanços tangíveis que precisam de continuidade”, ressaltou.
O ministro acrescentou que Exército, Marinha e Aeronáutica devem se manter como instituições de Estado, afastadas de disputas partidárias, e reforçou a integração entre diplomacia e defesa.
“Costumo dizer que diplomacia e defesa são irmãs inseparáveis, duas armas à disposição do Estado para enfrentar a guerra da sobrevivência em um mundo de constantes transformações”, afirmou.
Imigração e fronteiras do Brasil
A audiência também tratou da segurança das fronteiras. A senadora Tereza Cristina (PP-MS) destacou a vulnerabilidade da região de Mato Grosso do Sul, que possui mais de 700 quilômetros de fronteira seca com Paraguai e Bolívia, dominada pelo contrabando e pelo tráfico.
O senador Chico Rodrigues (PSB-RR) abordou os impactos da crise migratória venezuelana em Roraima. Ele lembrou que cerca de 120 mil venezuelanos vivem hoje no estado, mas mais de 900 mil já passaram pela fronteira, causando efeitos sociais, políticos e econômicos profundos.
Em resposta, José Múcio ressaltou o papel do Exército na Operação Acolhida, que recebe migrantes da Venezuela.
Ele recordou que durante meses Roraima chegou a receber até mil pessoas por dia, muitas delas sem documentos, roupas ou alimentos.
Defesa como prioridade ainda distante
Ao encerrar sua fala, José Múcio reforçou o pedido de apoio ao Congresso e destacou a gravidade do quadro atual.
Para ele, o Brasil ainda não conseguiu transformar a defesa em prioridade de Estado, o que perpetua a vulnerabilidade da instituição.
Apesar de avanços pontuais e da dedicação dos militares, os recursos destinados continuam insuficientes para sustentar a maior nação da América Latina em seu papel estratégico.
Seu alerta expôs limitações concretas que, na visão do ministro, não decorrem de decisões individuais de presidentes, mas de uma falta histórica de prioridade para a defesa no Brasil.


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