O alerta feito pelo ministro da Defesa expôs de forma contundente a fragilidade das Forças Armadas brasileiras, que enfrentam dificuldades crescentes para manter sua operacionalidade. A situação envolve a falta de combustível, a escassez de peças de reposição, munições limitadas a apenas 30 dias de uso e aeronaves ultrapassadas
Preocupado com a situação de penúria que as Forças Armadas enfrentam durante a atual gestão do presidente Lula, o ministro da Defesa, José Múcio, fez o que classificou como um “grave alerta” em audiência pública na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional, nesta terça-feira (30). O tom de sua fala deixou claro o cenário de dificuldades enfrentado pela instituição.
“Eu vim atrás de ajuda. Somos o maior país da América Latina, temos 52% do PIB da região, mas as Forças Armadas não sei nem se estão entre as três primeiras. Temos bastante equipamento comprado, mas não temos dinheiro para comprar peças”, afirmou o ministro.
Combustível, peças e munição em falta
Aos senadores, José Múcio detalhou a precariedade da estrutura atual das Forças Armadas. Segundo ele, a frota enfrenta problemas porque não há verba para abastecer veículos e aeronaves. A situação se agrava com a ausência de recursos para repor peças e munições.
-
Descoberta bilionária em supervulcão nos EUA pode turbinar Tesla de Elon Musk e reduzir dependência externa
-
Câmara aprova isenção de Imposto de Renda até R$ 5 mil e confirma: ricos pagarão mais para bancar alívio histórico da classe média
-
China esconde dívida de 40 trilhões, bolha dos carros elétricos ameaça colapso e Brasil pode ser atingido
-
Nova fase da Reforma Tributária já tem data marcada: em 2027 começa a cobrança do IBS, imposto que vai unificar ICMS e ISS e mudar para sempre o bolso de consumidores e empresas no Brasil; entenda!
“Falta combustível, faltam peças, falta munição. Nós temos 30 dias de munição, 30 dias espanta o inimigo, mas se ele voltar outra vez, não tem o que fazer”, declarou. O tom de urgência usado pelo ministro buscou expor a dimensão da carência da pasta.
Defesa fora da prioridade política
José Múcio reconheceu que a defesa nacional nunca ocupou lugar central nas prioridades políticas de presidentes ou candidatos ao cargo. Ele observou que os investimentos na área sempre ocorreram de forma episódica, sem planejamento contínuo ou financiamento garantido.
“Na realidade, eu vim aqui atrás de ajuda. A defesa nunca fez parte de projeto político de nenhum candidato à presidência da República e nem fez parte de nenhuma prestação de conta de nenhum presidente. Ou seja, as coisas que acontecem na defesa são episódicas”, explicou.
Heroísmo e dedicação dos militares
Ao longo de sua fala, o ministro fez questão de valorizar o empenho humano que sustenta as Forças Armadas, mesmo diante das adversidades estruturais. Para ele, o comprometimento de soldados, marinheiros e aviadores tem sido fundamental para manter o funcionamento da instituição.
“Quem sustenta as nossas forças armadas é o heroísmo do fator humano. São os marinheiros, os soldados, os aviadores e o profundo respeito que eles têm. Porque, diferente de nós políticos, eles passam 50 anos acreditando na mesma coisa, obedecendo as mesmas pessoas e tendo a consciência que precisam servir ao Brasil”, destacou.
Comparação com países vizinhos
O ministro fez questão de comparar o Brasil com outros países da América Latina, revelando o contraste no nível de preparo e estrutura. Ele mencionou Chile e Colômbia, que possuem frotas de aviões mais robustas que a brasileira.
“O Chile hoje tem uma frota de aviões maior do que a nossa. A Colômbia também tem. Qual foi o segredo que esses países adotaram? Eles criaram uma fonte de financiamento que independe do humor da política”, afirmou.
Obstáculos de um país desigual
Múcio ressaltou que a desigualdade social brasileira torna ainda mais difícil convencer a sociedade e a imprensa sobre a necessidade de grandes investimentos em defesa, em detrimento de áreas como saúde, educação e alimentação.
Ele usou exemplos concretos para ilustrar o dilema: “Você comprar um caça que custa 100 milhões de dólares, nós precisamos de 30, 40. Você comprar um submarino que custa 800 milhões de euros, será que a sociedade ia aceitar? Será que a imprensa ia dizer que o governo fez certo em comprar uma frota de caças de 100 milhões de dólares quando não compramos livros, remédios, quando tem escola que está sem o alimento que precisa para os alunos?”, questionou.
A orquestra como metáfora
Em sua exposição, o ministro recorreu a uma metáfora para explicar a situação das Forças Armadas: a de uma orquestra. Para ele, é preferível ter músicos satisfeitos tocando instrumentos velhos do que músicos insatisfeitos com equipamentos novos, já que a dedicação e a motivação humanas fazem a diferença.
“A sinfonia sai melhor com músicos satisfeitos e instrumentos velhos do que com instrumentos novos e músicos insatisfeitos”, comparou.
A percepção sobre os militares
José Múcio também criticou a visão distorcida de parte da sociedade sul-americana sobre os militares, muitas vezes associados à ideia de golpismo. Para ele, os integrantes das Forças Armadas cumprem sua função de servidores do Estado, respeitando a Constituição e prestando continência a quem ocupa legitimamente a presidência.
“Precisamos tirar da América do Sul a nódoa de que os militares são pretensos golpistas ou sonham em mudar o governo. O militar não pode fazer política porque é funcionário do governo que estiver no plantel”, afirmou.
Ele ainda reforçou a singularidade da função militar em relação a outros empregos públicos: “É o único lugar do emprego no Brasil que à meia-noite do dia 31 de dezembro para o dia primeiro troca de chefe e todos têm que prestar continência ao novo chefe, seja ele quem for.”
Limites do presidente diante da escassez
Durante a audiência, o ministro frisou que a situação crítica não deve ser atribuída a este ou aquele presidente, mas às limitações impostas pela realidade do país. Segundo ele, qualquer governante enfrentaria os mesmos dilemas diante das demandas urgentes em outras áreas sociais.
“Isso não é culpa de nenhum ex-presidente da República, nem do presidente da República. Se eu fosse presidente, o caso seria o mesmo. Se Nelsinho fosse, seria o mesmo. Jorge ou qualquer dos senhores, porque é muito difícil um presidente da República num país onde faltam vacinas, remédios, livros, alimento”, explicou.
Defesa como prioridade ainda distante
A exposição de José Múcio deixou claro que a defesa nacional continua distante de ser uma prioridade no Brasil. Apesar da importância estratégica para um país do tamanho do Brasil, os recursos destinados às Forças Armadas permanecem insuficientes para garantir estrutura compatível com o papel esperado de uma potência regional.
Ao encerrar sua fala, o ministro reforçou o pedido de ajuda ao Congresso e buscou sensibilizar os parlamentares para a gravidade da situação. Seu alerta revelou um quadro de limitações concretas que, na visão dele, não resultam de escolhas individuais de governo, mas de uma falta histórica de prioridade dada ao tema no país.