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Minhocão: a via expressa de 3,4 km que se transforma no parque linear mais inusitado de São Paulo, atraindo milhares de pedestres aos fins de semana

Escrito por Carla Teles
Publicado em 24/10/2025 às 23:18
Minhocão (Elevado Costa e Silva) a via expressa de 3,4 km que se transforma no parque linear mais inusitado de São Paulo, atraindo milhares de pedestres aos fins de semana
Conheça o Minhocão, o parque linear mais inusitado de São Paulo. Entenda a história e a polêmica da via que virou parque e divide opiniões.
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De cicatriz urbana a polêmico ponto de lazer, entenda a transformação do Elevado Costa e Silva no parque linear mais inusitado de São Paulo.

No coração de São Paulo, uma estrutura de 3,4 km define a paisagem e a vida de milhares de pessoas. Conhecido como Minhocão, o Elevado Presidente João Goulart é um paradoxo: uma via expressa essencial durante a semana que se transforma radicalmente aos fins de semana. Quando os carros saem, o asfalto dá lugar a pedestres, ciclistas e famílias, consolidando-se como o parque linear mais inusitado de São Paulo.

Esta dualidade é a essência do Minhocão. Para alguns, é uma “aberração arquitetônica”, como aponta a análise crítica do portal Estado da Arte (O Estado de S. Paulo), que o define como um “equívoco do planejamento urbano”. Para outros, como descreve o São Paulo Secreto, é um espaço que “ganhou o coração dos paulistanos”. Este artigo disseca a história, os impactos e o complexo debate sobre o futuro desta icônica estrutura paulistana.

Gênese de uma cicatriz: a política e o brutalismo de 1971

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A construção do Minhocão não foi um mero projeto de infraestrutura; foi um ato político, um produto da Ditadura Militar (1964-1985). O portal Estado da Arte detalha que o projeto foi executado em tempo recorde de 11 meses pelo prefeito nomeado Paulo Maluf, sem estudos de impacto urbano prévios e ignorando críticas. Foi uma imposição autoritária que buscava ser uma “marca” de gestão, batizada originalmente em homenagem ao general-presidente Costa e Silva.

O propósito declarado era desafogar o trânsito da Avenida São João, refletindo uma filosofia “rodoviarista” que priorizava carros. No entanto, o Estado da Arte classifica a obra como um “equívoco do planejamento urbano”, uma “solução falha” que se mostrou ineficiente e degradou profundamente seu entorno. A estrutura, passando a meros cinco metros das janelas, trouxe poluição sonora, atmosférica e desvalorização imobiliária imediata para bairros como Santa Cecília e Vila Buarque.

Tão prejudicial quanto a via foi o “baixio”, o espaço escuro e degradado sob o elevado. Este local tornou-se um ponto de marginalização social, apontado como embrião da “cracolândia”, e funciona até hoje como uma barreira física que fragmenta comunidades. O Estado da Arte refere-se a toda a estrutura como uma verdadeira “cicatriz espacial” no centro da cidade, um problema que persiste décadas após sua inauguração.

A metamorfose de fim de semana: de via expressa a praça pública

A transformação do Minhocão em espaço de lazer não foi planejada; foi uma conquista popular. O processo começou em 1976 com o fechamento noturno para diminuir o barulho que atormentava os moradores. O marco decisivo, no entanto, ocorreu em 1989, quando a então prefeita Luiza Erundina determinou o fechamento do elevado aos domingos e feriados, considerado o “embrião” do parque.

Desde então, os horários de lazer foram progressivamente ampliados, respondendo à pressão pública e à mudança de mentalidade sobre o uso do espaço urbano. Hoje, fechado para carros à noite e nos fins de semana inteiros, o asfalto é tomado por corridas, bicicletas, piqueniques e passeios. O portal São Paulo Secreto captura essa mudança de percepção, notando como a estrutura, apesar de controversa, “ganhou o coração dos paulistanos” como uma área de convívio essencial. A apropriação foi tão forte que forçou a política pública a se adaptar, culminando na criação oficial do “Parque Municipal do Minhocão” por lei em 2018.

O impacto na saúde e a ressignificação cultural

Por Virada Sustentável | Flickr
Por Virada Sustentável | Flickr

A importância do parque vai além do lazer. Um estudo citado pelo Jornal da USP, conduzido pela Escola de Educação Física e Esporte da universidade, trouxe uma perspectiva baseada em evidências: o fechamento do elevado estimula a prática de atividade física entre os moradores da região. Em uma área densa e carente de parques tradicionais, o Minhocão oferece um benefício concreto e mensurável para a saúde pública local.

Paralelamente, o Minhocão tornou-se uma vibrante plataforma cultural. As “empenas cegas” (paredes laterais dos prédios) viraram uma monumental galeria de arte urbana a céu aberto, com murais de artistas de renome como Kobra. A ressignificação mais poderosa ocorreu em 2016, quando seu nome oficial mudou de Elevado Costa e Silva (o ditador) para Elevado Presidente João Goulart (o presidente deposto pelo golpe), transformando um símbolo do autoritarismo em um marco da luta pela democracia.

A encruzilhada do futuro: parque permanente, demolição ou híbrido?

O Plano Diretor Estratégico de 2014 determinou a eventual desativação do Minhocão para veículos, mas o destino final da estrutura ainda divide profundamente a cidade. A proposta mais popular é a transformação em um parque linear permanente, inspirada em projetos internacionais de sucesso como o High Line em Nova York. Defensores veem a chance de criar um espaço icônico que atende à crítica carência de área verde na região central.

Críticos, no entanto, veem problemas sérios nessa solução. O Estado da Arte destaca os argumentos contrários, apontando que a comparação com o High Line é superficial. A principal crítica é que um parque no topo não resolve o problema crônico do “baixio” (a área degradada no nível da rua) e pode, na verdade, agravar a gentrificação, elevando os custos e expulsando os moradores de baixa renda que vivem no entorno.

A segunda opção é a demolição completa, vista como a única forma de “curar a cicatriz urbana”. Esta solução, contudo, enfrenta obstáculos imensos: o custo financeiro é proibitivo e a logística de desmontagem é um pesadelo. Uma terceira via é manter o status quo híbrido, um compromisso funcional que, por outro lado, perpetua os impactos negativos de poluição e ruído para os moradores vizinhos.

Reconciliando a serpente de concreto

O Minhocão é a materialização de um projeto urbanístico falho que, contra todas as expectativas, foi ressignificado pela população e transformado em um espaço público bem-sucedido. Ele é, simultaneamente, uma cicatriz do autoritarismo e um símbolo da apropriação popular. O futuro da estrutura, seja ele qual for, precisa reconciliar essa complexa identidade dual.

A decisão sobre o Minhocão afeta diretamente a vida de milhares de pessoas, equilibrando lazer, mobilidade e o direito à moradia. E você, o que pensa sobre esse impasse? Você é a favor da transformação em parque permanente, da demolição total ou da manutenção do modelo híbrido? Deixe sua opinião nos comentários, queremos saber a visão de quem vive e conhece a cidade.

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Carla Teles

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