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O tesouro dos EUA de US$ 8.400.000.000 — O que há dentro desta mina abalará o poder global

Escrito por Fabio Lucas Carvalho
Publicado em 16/08/2025 às 12:25
Entrada de mina iluminada com trilhos de ferro, destacando valor bilionário em ouro ligado ao tesouro dos EUA.
Imagem ilustrativa de mina com trilhos e valor bilionário em destaque, referência ao tesouro dos EUA de US$ 8,4 bilhões.
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Durante décadas, os Estados Unidos dependeram da China para garantir o fornecimento de terras raras, minerais essenciais em tecnologias avançadas. Essa dependência começou a mudar em novembro de 2024, quando pesquisadores da Universidade do Texas em Austin anunciaram a descoberta de bilhões de dólares em elementos escondidos nas cinzas de carvão descartadas ao longo de décadas. O achado trouxe esperança de independência mineral e abriu espaço para uma nova corrida geopolítica.

Em 19 de novembro de 2024, a Universidade do Texas em Austin divulgou um estudo que chamou atenção mundial. Pesquisadores revelaram que as cinzas de carvão acumuladas nos EUA escondem um tesouro estimado em US$ 8,4 bilhões em elementos de terras raras.

Os dados foram publicados no International Journal of Coal Science & Technology e também detalhados no portal oficial da universidade (news.utexas.edu).

Essa descoberta pode reduzir a histórica dependência americana da China, responsável por cerca de 70% das exportações globais de terras raras. O mais importante é que os minerais foram encontrados em materiais já produzidos, antes considerados apenas resíduos sem valor.

Como o estudo foi conduzido

Os pesquisadores, liderados por Maria Reedy e Bridget Scanlon, analisaram resíduos de carvão gerados entre 1985 e 2021. O trabalho reuniu dados nacionais de cinzas de carvão descartadas em aterros e lagoas industriais.

Segundo o estudo, 70% desse subproduto — cerca de 1,9 bilhão de toneladas — pode ser recuperado. Dentro dessa quantidade, há potencial para extrair 11 milhões de toneladas métricas de terras raras. Esse número multiplicaria por oito as reservas conhecidas dos EUA.

O geocientista E. William Reedy destacou na publicação que esse reaproveitamento transforma algo visto como problema ambiental em oportunidade estratégica e econômica.

Regiões mapeadas: Apalaches e Powder River

O levantamento mostrou diferenças entre as principais bacias produtoras de carvão.

Na Bacia dos Apalaches, no leste dos EUA, a concentração média foi de 431 mg/kg de elementos de terras raras. Porém, a taxa de extração estimada ficou em 30%. Já a Bacia do Rio Powder, em Wyoming e Montana, apresentou concentração menor, de 264 mg/kg, mas com taxa de extração acima de 70%.

Portanto, mesmo com teores menores, a Bacia do Rio Powder pode ser mais viável para a produção em grande escala. Os pesquisadores reforçam que depósitos ainda mais promissores podem ser identificados futuramente.

Da ameaça ambiental à solução estratégica

As cinzas de carvão são resíduos pulverulentos produzidos pela queima de combustíveis fósseis. Estima-se que os EUA acumularam 40 bilhões de toneladas desse material nas últimas décadas. Por muito tempo, ele foi visto apenas como risco ambiental, devido à toxicidade química.

O estudo de 2024 mudou essa visão. Os resíduos podem agora ser interpretados como fonte de elementos estratégicos. Além disso, sua utilização reduziria os riscos ambientais associados ao armazenamento de cinzas. O mais importante, segundo o relatório, é que a sustentabilidade e a economia podem andar juntas.

Empresas e desafios técnicos

A Element USA, empresa americana que atua no setor mineral, já busca desenvolver tecnologias capazes de transformar esse potencial em realidade. Entretanto, os desafios técnicos e econômicos são grandes.

Segundo o relatório do Bureau of Economic Geology da Universidade do Texas (março de 2025), os custos de processamento ainda são elevados e demandam métodos mais eficientes. Entre as técnicas em estudo estão a lixiviação ácida e a torrefação, que poderiam aumentar o rendimento da extração.

Projetos-piloto estão em andamento, mas ainda não há prazo para operações comerciais em larga escala. Os cientistas reforçam que é necessário equilibrar viabilidade econômica e segurança ambiental para que a iniciativa seja sustentável.

Impacto geopolítico da descoberta

O anúncio de novembro de 2024 repercutiu internacionalmente porque pode mudar a posição dos Estados Unidos no mercado de terras raras. Atualmente, a China domina a produção global e utiliza essa vantagem como ferramenta estratégica e econômica.

Se os americanos conseguirem aproveitar os 11 milhões de toneladas identificados, o país poderá reduzir sua dependência externa e ganhar autonomia em setores como defesa, tecnologia e energia limpa.

A professora Bridget Scanlon, do Bureau of Economic Geology, destacou em entrevista ao portal da UT Austin que essa pesquisa é o primeiro mapeamento nacional das reservas de terras raras em cinzas de carvão. Segundo ela, o resultado “abre um caminho totalmente novo para os Estados Unidos”.

Um futuro ainda em construção

Apesar do otimismo, os especialistas lembram que o caminho é incerto. A exploração depende de avanços tecnológicos, investimentos privados e políticas públicas de incentivo. Ainda assim, os dados do estudo mostram que os EUA possuem dentro de seu território um recurso estratégico capaz de abalar o equilíbrio global.

O mais importante é que essa fonte não exige novas minas, mas sim o reaproveitamento de resíduos já existentes. A partir dessa mudança de perspectiva, um passivo ambiental pode se transformar em motor econômico.

Portanto, os Estados Unidos vivem um momento decisivo. A descoberta anunciada em novembro de 2024 pode marcar o início da chamada Era das Terras Raras americanas. Se o potencial for concretizado, as cinzas de carvão poderão redefinir a geopolítica mundial dos minerais estratégicos.

Todas as informações deste artigo foram verificadas a partir de fontes oficiais da Universidade do Texas em Austin (2024), do Bureau of Economic Geology (2025) e do periódico científico International Journal of Coal Science & Technology.

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Fabio Lucas Carvalho

Jornalista especializado em uma ampla variedade de temas, como carros, tecnologia, política, indústria naval, geopolítica, energia renovável e economia. Atuo desde 2015 com publicações de destaque em grandes portais de notícias. Minha formação em Gestão em Tecnologia da Informação pela Faculdade de Petrolina (Facape) agrega uma perspectiva técnica única às minhas análises e reportagens. Com mais de 10 mil artigos publicados em veículos de renome, busco sempre trazer informações detalhadas e percepções relevantes para o leitor. Para sugestões de pauta ou qualquer dúvida, entre em contato pelo e-mail flclucas@hotmail.com.

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