Durante décadas, os Estados Unidos dependeram da China para garantir o fornecimento de terras raras, minerais essenciais em tecnologias avançadas. Essa dependência começou a mudar em novembro de 2024, quando pesquisadores da Universidade do Texas em Austin anunciaram a descoberta de bilhões de dólares em elementos escondidos nas cinzas de carvão descartadas ao longo de décadas. O achado trouxe esperança de independência mineral e abriu espaço para uma nova corrida geopolítica.
Em 19 de novembro de 2024, a Universidade do Texas em Austin divulgou um estudo que chamou atenção mundial. Pesquisadores revelaram que as cinzas de carvão acumuladas nos EUA escondem um tesouro estimado em US$ 8,4 bilhões em elementos de terras raras.
Os dados foram publicados no International Journal of Coal Science & Technology e também detalhados no portal oficial da universidade (news.utexas.edu).
Essa descoberta pode reduzir a histórica dependência americana da China, responsável por cerca de 70% das exportações globais de terras raras. O mais importante é que os minerais foram encontrados em materiais já produzidos, antes considerados apenas resíduos sem valor.
-
Nova Philips Boombeat chega com 200W reais, IP66 e karaokê para encarar a JBL Boombox 4, que aposta em 34h de bateria, IP68 e som com inteligência artificial: quem leva a melhor em 2025?
-
China testou seu foguete mais poderoso da história — produz 990 toneladas de empuxo para levar astronautas à Lua até 2030
-
GPD Win 5 chega ao mercado superando concorrentes e se torna o PC portátil gamer mais poderoso do mundo com 128 GB de RAM, superando até a RTX 4060
-
Descubra como o botijão de gás é fabricado, testado e envasado
Como o estudo foi conduzido
Os pesquisadores, liderados por Maria Reedy e Bridget Scanlon, analisaram resíduos de carvão gerados entre 1985 e 2021. O trabalho reuniu dados nacionais de cinzas de carvão descartadas em aterros e lagoas industriais.
Segundo o estudo, 70% desse subproduto — cerca de 1,9 bilhão de toneladas — pode ser recuperado. Dentro dessa quantidade, há potencial para extrair 11 milhões de toneladas métricas de terras raras. Esse número multiplicaria por oito as reservas conhecidas dos EUA.
O geocientista E. William Reedy destacou na publicação que esse reaproveitamento transforma algo visto como problema ambiental em oportunidade estratégica e econômica.
Regiões mapeadas: Apalaches e Powder River
O levantamento mostrou diferenças entre as principais bacias produtoras de carvão.
Na Bacia dos Apalaches, no leste dos EUA, a concentração média foi de 431 mg/kg de elementos de terras raras. Porém, a taxa de extração estimada ficou em 30%. Já a Bacia do Rio Powder, em Wyoming e Montana, apresentou concentração menor, de 264 mg/kg, mas com taxa de extração acima de 70%.
Portanto, mesmo com teores menores, a Bacia do Rio Powder pode ser mais viável para a produção em grande escala. Os pesquisadores reforçam que depósitos ainda mais promissores podem ser identificados futuramente.
Da ameaça ambiental à solução estratégica
As cinzas de carvão são resíduos pulverulentos produzidos pela queima de combustíveis fósseis. Estima-se que os EUA acumularam 40 bilhões de toneladas desse material nas últimas décadas. Por muito tempo, ele foi visto apenas como risco ambiental, devido à toxicidade química.
O estudo de 2024 mudou essa visão. Os resíduos podem agora ser interpretados como fonte de elementos estratégicos. Além disso, sua utilização reduziria os riscos ambientais associados ao armazenamento de cinzas. O mais importante, segundo o relatório, é que a sustentabilidade e a economia podem andar juntas.
Empresas e desafios técnicos
A Element USA, empresa americana que atua no setor mineral, já busca desenvolver tecnologias capazes de transformar esse potencial em realidade. Entretanto, os desafios técnicos e econômicos são grandes.
Segundo o relatório do Bureau of Economic Geology da Universidade do Texas (março de 2025), os custos de processamento ainda são elevados e demandam métodos mais eficientes. Entre as técnicas em estudo estão a lixiviação ácida e a torrefação, que poderiam aumentar o rendimento da extração.
Projetos-piloto estão em andamento, mas ainda não há prazo para operações comerciais em larga escala. Os cientistas reforçam que é necessário equilibrar viabilidade econômica e segurança ambiental para que a iniciativa seja sustentável.
Impacto geopolítico da descoberta
O anúncio de novembro de 2024 repercutiu internacionalmente porque pode mudar a posição dos Estados Unidos no mercado de terras raras. Atualmente, a China domina a produção global e utiliza essa vantagem como ferramenta estratégica e econômica.
Se os americanos conseguirem aproveitar os 11 milhões de toneladas identificados, o país poderá reduzir sua dependência externa e ganhar autonomia em setores como defesa, tecnologia e energia limpa.
A professora Bridget Scanlon, do Bureau of Economic Geology, destacou em entrevista ao portal da UT Austin que essa pesquisa é o primeiro mapeamento nacional das reservas de terras raras em cinzas de carvão. Segundo ela, o resultado “abre um caminho totalmente novo para os Estados Unidos”.
Um futuro ainda em construção
Apesar do otimismo, os especialistas lembram que o caminho é incerto. A exploração depende de avanços tecnológicos, investimentos privados e políticas públicas de incentivo. Ainda assim, os dados do estudo mostram que os EUA possuem dentro de seu território um recurso estratégico capaz de abalar o equilíbrio global.
O mais importante é que essa fonte não exige novas minas, mas sim o reaproveitamento de resíduos já existentes. A partir dessa mudança de perspectiva, um passivo ambiental pode se transformar em motor econômico.
Portanto, os Estados Unidos vivem um momento decisivo. A descoberta anunciada em novembro de 2024 pode marcar o início da chamada Era das Terras Raras americanas. Se o potencial for concretizado, as cinzas de carvão poderão redefinir a geopolítica mundial dos minerais estratégicos.
Todas as informações deste artigo foram verificadas a partir de fontes oficiais da Universidade do Texas em Austin (2024), do Bureau of Economic Geology (2025) e do periódico científico International Journal of Coal Science & Technology.