Milei e Trump iniciam processo para incluir a Argentina no Visa Waiver. Se aprovado, argentinos poderão viajar aos EUA sem visto por até 90 dias com apenas uma autorização eletrônica.
A promessa do presidente Javier Milei de estreitar os laços entre a Argentina e os Estados Unidos começou a sair do discurso e ganhar contornos práticos. Na segunda-feira, 28, o líder ultraliberal recebeu em Buenos Aires Kristi Noem, secretária de Segurança Interna do governo Donald Trump, para oficializar o início do processo de reintegração do país ao Programa de Isenção de Vistos (Visa Waiver Program – VWP). Se concluída com sucesso, a adesão permitirá que argentinos viajem aos EUA sem visto, permanecendo por até 90 dias apenas com a autorização eletrônica de viagem conhecida como ESTA.
O encontro foi tratado pelo governo Milei como um marco na “reconstrução das relações carnais” com Washington, expressão que remete aos anos 1990, quando o então presidente Carlos Menem obteve para a Argentina o status de isenção de visto — perdido em 2002, em meio a uma crise econômica e questões de segurança. Agora, Milei tenta repetir o feito, mas com um contexto geopolítico diferente e um aliado direto na Casa Branca: Donald Trump.
Milei e Trump visto Argentina: alinhamento total com Washington
Desde que assumiu a presidência em dezembro de 2023, Milei deixou claro que buscaria um alinhamento incondicional com os Estados Unidos e Israel, abandonando a política externa mais neutra que a Argentina mantinha nos últimos anos.
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A volta de Trump ao poder acelerou esse movimento, e o gesto de iniciar o processo para entrar no Visa Waiver foi recebido como prova de confiança mútua entre os dois governos.
Em comunicado oficial, a Casa Rosada destacou que a abertura do processo “demonstra a excelente relação baseada na confiança que existe entre ambos os líderes”.
Kristi Noem, conhecida pela postura linha-dura contra imigração ilegal, também elogiou a parceria: “Sob a liderança do presidente Javier Milei, a Argentina se consolida como uma aliada ainda mais forte dos Estados Unidos, com um compromisso maior do que nunca com a segurança das fronteiras de ambas as nações.”
VWP Argentina: o que falta para os argentinos viajarem sem visto aos EUA
A inclusão da Argentina no Visa Waiver Program não é automática. O processo é rigoroso e pode levar meses — ou até anos — para ser concluído. Entre os requisitos impostos pelo governo dos EUA, estão:
- Manter uma taxa de rejeição de vistos inferior a 3% ao ano;
- Comprovar padrões elevados de segurança nos processos migratórios;
- Firmar acordos de reciprocidade para aceitar cidadãos deportados em prazos definidos;
- Garantir cooperação em temas como combate ao terrorismo e identificação de fugitivos.
Se todos os critérios forem cumpridos, os argentinos poderão viajar aos Estados Unidos para turismo ou negócios por até 90 dias sem a necessidade de visto tradicional. No lugar dele, terão de solicitar a ESTA (Electronic System for Travel Authorization), autorização eletrônica usada por cidadãos da maior parte da Europa e outros 40 países já integrantes do VWP.
Argentinos sem visto EUA? Expectativa é alta, mas prazos ainda são longos
A possibilidade de viajar sem visto entusiasma muitos argentinos, mas o processo não será imediato. A própria Kristi Noem indicou que “nada menos que um ano” será necessário para avançar, e esse prazo pode se estender.
Ou seja, quem sonhava em aproveitar a isenção para visitar os EUA durante a Copa do Mundo de 2026 provavelmente ainda precisará do visto tradicional.
Mesmo assim, a simples abertura do processo já representa uma mudança significativa na política externa argentina e uma promessa de facilidades futuras para cidadãos e empresas.
Isenção visto 90 dias: impacto no turismo e nos negócios
Se a Argentina conseguir entrar novamente no programa, o impacto será grande para os setores de turismo, intercâmbio e negócios. Facilitar a entrada de argentinos nos EUA pode aumentar o fluxo de viagens, fortalecer o comércio bilateral e estimular investimentos.
Empresários e companhias aéreas já acompanham o tema de perto. Com a exigência de visto eliminada, a expectativa é de crescimento nas rotas entre Buenos Aires e cidades como Miami, Nova York e Los Angeles, tradicionalmente populares entre turistas argentinos.
Segurança, fronteiras e comércio: os temas em discussão
Além do Visa Waiver, Milei e Noem discutiram outros temas estratégicos durante o encontro na Casa Rosada. Relatórios oficiais indicam que houve conversas sobre cooperação no combate ao narcotráfico, terrorismo e identificação de fugitivos.
A secretária de Segurança Interna dos EUA também assinou um memorando com a ministra da Segurança da Argentina, Patricia Bullrich, para reforçar a colaboração bilateral em temas de fronteira e inteligência. Depois das reuniões, Noem visitou a base militar de Campo de Mayo, nos arredores de Buenos Aires, e até montou a cavalo em uma demonstração simbólica de aproximação cultural e militar.
Por que a Argentina perdeu o Visa Waiver e o que mudou agora?
A Argentina já fez parte do programa de isenção de vistos entre 1996 e 2002, quando o país viveu um alinhamento com os EUA sob o governo Carlos Menem. No entanto, a grave crise econômica e questões relacionadas a segurança e imigração fizeram Washington retirar o benefício.
Mais de 20 anos depois, Milei tenta reconquistar esse status, apostando em uma imagem de país comprometido com a estabilidade econômica, abertura de mercados e cooperação internacional. O discurso de reformas liberais e a aproximação com Washington e Israel fazem parte dessa estratégia.
O início do processo para reintegrar a Argentina ao Visa Waiver Program é mais do que um gesto diplomático: é um sinal de confiança entre Milei e Trump e um movimento que pode mudar a vida de milhões de argentinos que sonham em visitar os Estados Unidos sem burocracia.
Ainda é cedo para comemorar, já que a adesão depende de critérios rigorosos e pode levar anos para ser concluída. Mas a iniciativa reforça o alinhamento inédito entre os dois países e abre caminho para uma nova fase de integração — com mais liberdade de circulação, novas oportunidades de negócios e uma relação bilateral que promete ser cada vez mais estreita.