Novo cálculo de calagem desenvolvido pela UFLA, após dez anos de pesquisas, corrige falhas dos métodos tradicionais e garante mais produtividade, melhor aproveitamento do solo e maior resiliência das lavouras em ambientes tropicais
Pesquisadores da Universidade Federal de Lavras (UFLA) anunciaram uma solução inédita para um dos maiores desafios da agricultura brasileira: a acidez elevada e a baixa fertilidade natural dos solos tropicais.
O estudo, publicado na revista internacional Soil & Tillage Research, apresenta um novo método de cálculo para a calagem, prática fundamental no manejo agrícola.
Um avanço após décadas de experiência
O trabalho é resultado de dez anos de investigações e se apoia na experiência de quase três décadas do professor Silvino Guimarães Moreira, da Escola de Ciências Agrárias de Lavras (Esal/UFLA).
-
Brasil avança no agro com três conquistas estratégicas — Indonésia, Paraguai e Argentina fortalecem comércio
-
China aumenta em 50% as compras de carne do Brasil e compensa queda nos EUA: o que isso significa para o futuro do agronegócio?
-
Milei abre portas e Brasil amplia exportações do agronegócio — ovos em pó e cortes suínos chegam ao mercado argentino
-
Cientistas chineses criaram um arroz que cresce em água do mar, com potencial para alimentar mais 200 milhões de pessoas até 2030;
O método foi desenvolvido para corrigir falhas dos cálculos atuais de calagem, que frequentemente subestimam as doses necessárias. Esse erro gera reaplicações sucessivas, perda de tempo e custos extras.
Em áreas arrendadas, o impacto é ainda maior, porque o retorno do investimento precisa acompanhar o ciclo produtivo.
Diferença em relação aos métodos tradicionais
Diferente das práticas convencionais, a nova abordagem leva em conta a relação entre cálcio, magnésio e pH do solo.
As recomendações passam a ser feitas para duas profundidades: de 0 a 20 cm e de 0 a 40 cm. Essa inclusão da camada mais profunda amplia o volume de solo explorado pelas raízes, melhora a fertilidade do subsolo e fortalece a resiliência das plantas.
Experimentos em Minas Gerais
Para comprovar a eficácia do método, os pesquisadores realizaram sete experimentos em municípios de Minas Gerais: Ijaci, Nazareno, Ingaí, Uberlândia, Araguari, São João del Rei e Formiga.
Foram quatro anos de testes, cobrindo 14 safras diferentes, em solos e climas variados. Essa diversidade deu consistência aos resultados.
Resultados alcançados em campo
Com a nova metodologia, os dados evidenciaram aumentos significativos na produtividade agrícola.
No milho, os ganhos chegaram a 50%, principalmente na segunda safra, em períodos de veranico. Na soja, os rendimentos subiram até 30%.
Outro destaque foi o desenvolvimento radicular em profundidade. As plantas passaram a acessar água e nutrientes mesmo em momentos de déficit hídrico.
Os pesquisadores também definiram novos níveis críticos de cálcio e magnésio. Para atingir 95% da produtividade potencial, é necessário 60% de cálcio na camada de 0–20 cm e 39% na de 20–40 cm.
Voz do campo
O produtor Evandro Ferreira, da Fazenda Campo Grande, em Nazareno, acompanhou de perto os resultados.
Segundo ele, a pesquisa mudou a forma de enxergar a calagem.
“As chamadas altas doses de calcário não representam excesso, mas sim uma aplicação criteriosa, ajustada às reais necessidades do solo”, afirmou.
Em sua propriedade, lavouras de milho adubadas com 12 t/ha de calcário tiveram desempenho muito superior às áreas corrigidas com apenas 3 t/ha.
Aplicação prática do método de calagem e expansão
O método já foi transformado em uma fórmula prática de recomendação. Ele está sendo utilizado em áreas de plantio direto e em reabertura agrícola.
Além disso, os testes começam a ser expandidos para culturas perenes, como o café.
Entre os benefícios esperados estão maior eficiência no uso de insumos, redução de custos no longo prazo e aumento da resiliência das lavouras diante das mudanças climáticas.
Portanto, trata-se de um avanço com impacto direto na segurança alimentar e na sustentabilidade agrícola do país.
Contribuição científica e legado da UFLA
O estudo reafirma a tradição da UFLA como referência em ciência do solo no Brasil e no mundo.
Ele foi conduzido pelo Grupo de Pesquisa em Sistemas de Produção (GMAP), que envolveu cerca de 30 estudantes de graduação, mestrado e doutorado.
Entre os participantes estão nomes como Josias Reis Flausino Gaudencio, Flávio Araújo de Moraes, Everton Geraldo de Morais, Devison Souza Peixoto, Hugo Carneiro de Resende, Júnior Cézar Resende Silva e Otávio Lopes Vieira Campos.
O projeto nasceu na tese de doutorado de Flávio Moraes, em 2017, e se expandiu em 2018 com novas pesquisas no Triângulo Mineiro.
Agora, com a publicação internacional, a metodologia alcança projeção global.
Impacto para a agricultura tropical
Para o professor Silvino Guimarães Moreira, a contribuição vai além de Minas Gerais.
“Trata-se de uma contribuição relevante não apenas para Minas Gerais, mas para toda a agricultura tropical, onde solos ácidos e intemperizados ainda são barreiras para altas produtividades”, concluiu.
Com informações de Compre Rural.