Mesmo com indicadores tradicionais sugerindo excesso de oferta, fechamento de refinarias e estrutura de preços em backwardation revelam escassez real no setor de petróleo e gás
O mercado de petróleo entrou em um período de alta complexidade e volatilidade global, com sinais contraditórios que desafiam os modelos tradicionais de análise. Apesar de uma leve queda nos preços do barril nos últimos meses, indicadores físicos como os spreads do diesel e as margens de refino sugerem que há uma escassez estrutural se aprofundando nos bastidores. A instabilidade geopolítica, o fechamento de refinarias e gargalos logísticos agravados por eventos climáticos extremos complicam ainda mais o cenário da indústria de óleo e gás. As informações a seguir foram feitas com base em dados do portal oilprice.com
No início deste ano, spreads de diesel extremamente elevados indicavam um mercado físico apertado, mesmo diante de quedas nos preços futuros do petróleo. O fenômeno, conhecido como “backwardation”, onde os contratos de curto prazo estão mais caros que os de longo prazo, é um dos sinais mais confiáveis de aperto na oferta. Ao mesmo tempo, eventos climáticos severos na Europa e América do Norte distorceram a demanda por combustíveis fósseis, tornando os indicadores ainda menos previsíveis.
Esse cenário é agravado pela escassez de capacidade de armazenamento e pelos fechamentos planejados de refinarias em regiões estratégicas. Na Europa, mais de 400 mil barris por dia de capacidade serão desativados ainda este ano, enquanto nos Estados Unidos, o encerramento de operações como o da LyondellBasell em Houston já impacta o abastecimento.
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Refinarias encerram operações e pressionam fornecimento global de combustíveis fósseis
Com o fechamento de grandes refinarias, o mercado de petróleo passa a depender cada vez mais de fontes alternativas, como o novo complexo da Dangote na Nigéria. No entanto, esse ganho marginal de capacidade não compensa as perdas em países desenvolvidos. Isso gera desequilíbrios regionais e pressiona os estoques, sobretudo de derivados como diesel e gasolina.
A movimentação de barris do Oriente Médio e da Índia em direção à Europa é um indicativo importante de como o mercado se adapta. Quando esse fluxo se intensifica, é sinal claro de que a Europa está enfrentando dificuldades de suprimento interno e precisa buscar alternativas externas, elevando os custos logísticos e os prêmios regionais.
O setor de energia também enfrenta incertezas logísticas com a persistência de tensões no Mar Vermelho, afetando o trânsito de navios-tanque pelo Canal de Suez. Esse tipo de obstáculo eleva o tempo de trânsito de combustíveis e contribui para a elevação dos prêmios regionais, especialmente na Europa Ocidental.
Mesmo com economia instável, margens de refino permanecem elevadas e sustentam otimismo no setor de energia
Apesar do temor de uma desaceleração global, as margens de refino se mantêm saudáveis. Mesmo após uma queda nos chamados “diesel cracks”, o setor não apresenta sinais de redução de atividade. Pelo contrário, produtos como óleo combustível de alto teor de enxofre e nafta continuam com desempenho forte, sustentando a atividade nas refinarias ativas.
Na Ásia, a China e a Índia são protagonistas, embora com abordagens distintas. A China tem focado suas novas refinarias em produtos petroquímicos, com pouco impacto sobre a oferta global de combustíveis líquidos. Já a Índia expande seu parque de refino com foco tanto no mercado interno quanto nas exportações, embora parte da produção esteja atrelada à crescente demanda doméstica.
Esses fatores ajudam a manter o equilíbrio do mercado de petróleo e gás, mas não são suficientes para compensar integralmente o fechamento de unidades no Ocidente. O resultado é um ambiente de persistente aperto na oferta e volatilidade nos preços de curto prazo.
Descompasso entre dados oficiais e sinais do mercado físico levanta alerta entre analistas e investidores
O fenômeno conhecido como “barril desaparecido” evidencia uma desconexão entre os dados formais de oferta e demanda e as condições observadas no mercado físico. Mesmo com números indicando equilíbrio, os estoques continuam baixos, especialmente em produtos intermediários, revelando uma escassez latente.
Essa discrepância se reflete nos spreads entre contratos futuros e imediatos, e é amplificada por políticas como as sanções dos EUA ao Irã e Venezuela. Qualquer intensificação dessas restrições pode provocar um efeito de “cisne negro” no mercado, disparando preços rapidamente.
Segundo análise do portal Oilprice, o mercado de petróleo exige hoje uma leitura multifatorial, que vá além dos dados tradicionais. A leitura isolada de preços ou estoques pode levar a conclusões erradas sobre o equilíbrio entre oferta e demanda.
As informações foram publicadas pelo site especializado Oilprice.com, em um artigo assinado por Neil Crosby e revisado por sua equipe editorial.