Descubra como o gás natural aposta no transporte pesado para impulsionar o setor e criar rotas sustentáveis, conectando cidades e frotas em todo o Brasil.
O mercado de gás natural veicular (GNV) no Brasil enfrenta desafios, mas apresenta sinais claros de recuperação, especialmente no segmento de transporte pesado.
Historicamente, o GNV ganhou força nas décadas de 1990 e 2000 com a conversão de veículos leves. Pois motoristas buscavam alternativas mais econômicas e menos poluentes em comparação à gasolina e ao diesel.
Assim, a infraestrutura de abastecimento expandiu-se rapidamente para atender à crescente demanda das frotas urbanas e de veículos particulares.
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No entanto, a partir de 2022, o consumo de GNV começou a cair, refletindo fatores como a pandemia, o aumento do preço do gás e mudanças nos hábitos de transporte, como o crescimento do trabalho remoto.
Dados do boletim mensal de Acompanhamento da Indústria de Gás Natural, divulgado pelo Ministério de Minas e Energia. Indicam que a demanda automotiva caiu de 6,20 milhões de m³/dia, em média, em 2022, para 4,17 milhões de m³/dia em 2023.
Portanto, essa retração afetou principalmente o segmento de veículos leves, que sustentou o crescimento do setor por anos.
Apesar desse cenário, especialistas e distribuidoras de gás enxergam oportunidades claras no transporte pesado, formado por caminhões e ônibus urbanos.
Além disso, o setor percebe que esses veículos oferecem maior autonomia e frequência de utilização, garantindo retorno financeiro mais rápido sobre o investimento em tecnologia de gás natural.
Por outro lado, os motores pesados movidos a gás geram menos emissões de poluentes, oferecendo uma alternativa sustentável em comparação ao diesel tradicional.
A evolução tecnológica dos motores a gás aumentou significativamente sua eficiência nos últimos anos.
Consequentemente, caminhões e ônibus movidos a GNV ou biometano percorrem longas distâncias com autonomia equivalente ou superior aos veículos a diesel, com menor custo operacional e manutenção mais simples.
Assim, o transporte pesado surge como a principal oportunidade para o crescimento sustentável do setor.
Montadoras e a expansão do transporte pesado
Montadoras como Scania e Iveco já lideram esse movimento.
Por exemplo, a Scania Brasil oferece caminhões e ônibus urbanos movidos a GNV ou biometano, com unidades saindo de fábrica equipadas para operar com combustível limpo.
Desde 2019, a empresa vendeu mais de 1.500 caminhões a gás, sendo parte deles destinados à coleta de resíduos sólidos.
Além disso, a Iveco se destaca como líder global em soluções de energia alternativa, oferecendo tecnologia a gás natural em veículos leves, médios e pesados.
Portanto, essa presença de montadoras reforça a tendência de que o transporte pesado será a principal alavanca para o crescimento do mercado de gás natural.
As distribuidoras estaduais, que controlam a infraestrutura de abastecimento, também apostam no transporte pesado como estratégia de expansão.
Um mapeamento de lacunas entre o Ceará e o Rio Grande do Sul mostrou a necessidade de melhorar a cobertura de postos de GNV para permitir que caminhões e ônibus operem com autonomia suficiente.
Assim, empresas como Copergás, Bahiagás e Potigás investem em novos postos e corredores sustentáveis, garantindo abastecimento contínuo e confiável.
No Nordeste, a Copergás lidera o mercado com a construção de uma rota de abastecimento contínua em Pernambuco, integrando-se com outras distribuidoras da região para criar um corredor que conecte todo o Nordeste pelo interior.
Além disso, a Bahiagás, maior distribuidora do Nordeste em volume, trabalha para implantar corredores sustentáveis focados no transporte pesado, incluindo o uso de biometano.
Por outro lado, a Potigás, no Rio Grande do Norte, planeja implementar a tarifa frotista, permitindo que empresas abasteçam caminhões diretamente em suas garagens.
Assim, esse movimento cria uma malha de abastecimento mais eficiente, favorecendo o escoamento da produção agrícola e industrial para centros urbanos e portos.
Gás natural aposta no transporte pesado: Expansão regional e incentivos locais
Outros estados seguem a mesma lógica de expansão.
Por exemplo, a Cegás, no Ceará, realizou testes com caminhões 100% movidos a GNV com até 15% de biometano, mostrando que a tecnologia funciona em percursos mais longos e para veículos de transporte urbano.
Em Alagoas, a Algás planeja inaugurar postos com infraestrutura dedicada a caminhões pesados.
Além disso, na Paraíba, incentivos tributários como a redução do ICMS estimulam a adoção de GNV em frotas pesadas.
No Amazonas, a Cigás concede bônus a motoristas que convertem veículos, incentivando a regularização e expansão do uso de gás.
No Sudeste, estados como Rio de Janeiro e São Paulo também reforçam a estratégia de crescimento do segmento.
A Naturgy, responsável pela distribuição no Rio de Janeiro, investiu milhões para conectar novos postos e ampliar a cobertura de abastecimento.
Hoje, o estado lidera em GNV para veículos leves, mas concentra esforços também em caminhões e ônibus urbanos.
Além disso, a Necta, no noroeste paulista, conecta produtores de biometano, transportadoras e postos de abastecimento, ampliando a demanda automotiva e fortalecendo a logística.
Minas Gerais, Paraná e Santa Catarina seguem estratégias semelhantes.
Assim, a Gasmig, em Minas, expande corredores de abastecimento que conectam cidades-chave, enquanto a Compagás, no Paraná, consolida rotas estratégicas para transporte de cargas, incluindo a exportação via Porto de Paranaguá.
Por outro lado, a SCGás, em Santa Catarina, desenvolve infraestrutura para atender caminhões e ônibus de forma contínua, criando segmentos tarifários específicos para frotas pesadas.
Incentivos, biometano e sustentabilidade
No Rio Grande do Sul, a Sulgás implementa Corredores Verdes, projetados para otimizar o transporte pesado movido a GNV e biometano.
Além disso, incentivos como redução do IPVA e fornecimento de combustível em garagens privadas estimulam empresas a adotar veículos a gás, fortalecendo a logística e a competitividade.
Enquanto o segmento de veículos leves enfrentou estagnação, a aposta no transporte pesado surge como solução estratégica para recuperar e expandir o mercado de gás natural no Brasil.
O retorno do investimento para veículos leves aumentou ao longo dos anos, tornando a conversão menos atrativa, especialmente para trajetos curtos.
Por outro lado, caminhões e ônibus, que percorrem longas distâncias diariamente, oferecem economia consistente e viabilidade técnica, consolidando o gás natural como alternativa confiável e sustentável.
O biometano, combustível produzido a partir de resíduos orgânicos e agrícolas, também contribui para o crescimento.
Em regiões sem infraestrutura de gás canalizado, o biometano permite que caminhões transportem produtos do interior para portos e centros urbanos, criando um novo modelo logístico para o agronegócio brasileiro.
Além disso, hoje, quase 40 usinas de biometano estão registradas na ANP, com outras aguardando autorização para produção comercial.
O impacto ambiental positivo também merece destaque.
Consequentemente, a redução das emissões de gases poluentes melhora a qualidade do ar nas cidades e ao longo das rodovias, alinhando o setor de transporte com políticas públicas de sustentabilidade.
Perspectivas futuras do setor
Em resumo, o cenário histórico e atual do GNV no Brasil mostra uma clara evolução: de um mercado centrado em veículos leves, agora há uma forte aposta no transporte pesado como motor de crescimento.
A expansão de corredores de abastecimento, a participação das montadoras, o incentivo às frotas e o uso do biometano sinalizam que o gás natural tem potencial para desempenhar papel estratégico no transporte rodoviário de cargas e passageiros, promovendo economia, sustentabilidade e eficiência logística.
Portanto, o futuro do setor depende da continuidade dos investimentos e do alinhamento entre distribuidoras, empresas e governos, consolidando o gás natural como uma alternativa moderna e ambientalmente responsável para o transporte pesado no Brasil.