Trem Intercidades entre São Paulo e Santos promete mudar a mobilidade com trajeto de até 130 km em 90 minutos, investimento bilionário, milhares de empregos e impacto direto para a economia, o turismo e a vida de quase dois milhões de pessoas.
O Governo de São Paulo recolocou os trilhos no centro da agenda de mobilidade ao avançar com o Trem Intercidades (TIC) Eixo Sul, ligação direta entre a Região Metropolitana de São Paulo e Santos.
A iniciativa prevê viagem em até 90 minutos, investimento estimado de R$ 15 bilhões, geração de cerca de 13 mil empregos e impacto para 1,8 milhão de pessoas na Baixada Santista.
A modelagem está enquadrada no Programa de Parcerias de Investimentos do Estado (PPI-SP) e tem marcos previstos entre 2027 e 2028, incluindo edital, leilão e assinatura do contrato.
-
Union Pacific Big Boy — maior trem a vapor do mundo criada em 1941, com 40,5 metros de comprimento, 548 toneladas, 25 toneladas de carvão por viagem, capacidade para 95 mil litros de água, potência estimada em 7.000 HP e velocidade máxima de 130 km/h
-
ANTT lança frota de 15 drones profissionais para modernizar fiscalização ferroviária e ampliar segurança nos trilhos
-
TCU analisa nove processos no contrato da Ferroviária da Malha Sudeste, incluindo denúncia na Petrobras e contrato ferroviário prorrogado até 2056
-
Vale pode perder ferrovia de mais de 990 km para o governo após impasse bilionário e corte de indenização pela ANTT
O que é o Trem Intercidades Eixo Sul
Trata-se de um serviço ferroviário regional que conectará a capital paulista ao maior porto da América Latina.
O trajeto estudado tem extensão variável entre 80 e 130 quilômetros, a depender do desenho definitivo.
Em termos estratégicos, a proposta busca diversificar a matriz de transporte, reduzir a dependência do sistema rodoviário Anchieta-Imigrantes e oferecer alternativa mais regular e sustentável para deslocamentos de trabalho, turismo e conexão com o Porto de Santos.
A escolha por um trem regional se apoia em fatores objetivos.
A rodovia que liga planalto e litoral opera há anos próxima do limite, com congestionamentos frequentes, acidentes e custos logísticos elevados.
Com um eixo ferroviário de passageiros, o Estado pretende aliviar a pressão sobre a malha viária, fortalecer a competitividade do porto e ampliar o acesso da população a serviços e empregos nas duas regiões.
Dois traçados em análise
O governo trabalha com dois traçados em análise.
A alternativa pela via cremalheira, aproveitando parte da infraestrutura já existente na Serra do Mar, encurta a distância total (na ordem de 80 quilômetros), mas exige soluções operacionais exigentes para compatibilizar transporte de passageiros e de cargas, hoje sob concessões distintas.
A descida com cremalheira, típica de serras íngremes, impõe padrões específicos de material rodante e de sinalização.
A outra opção prevê um contorno via Mongaguá, com declividade mais suave e percurso de cerca de 115 quilômetros, permitindo eventualmente seguir faixas de domínio próximas à Rodovia dos Imigrantes.
Nesse desenho, a chegada a Santos ocorreria pela futura estação Santos-Imigrantes. Em contrapartida, a distância maior demanda velocidades médias mais altas para manter o tempo de viagem de 1h30, além de novas obras de acesso e de integração urbana no litoral sul.
Integração em São Paulo
Independentemente do traçado, o TIC deverá se conectar a estações estratégicas da capital, como Pinheiros, Brás ou Santos-Imigrantes, facilitando integração com linhas de metrô e trens metropolitanos.
A ancoragem em nós de alta demanda reduz barreiras de acesso ao serviço, amplia capilaridade e melhora a percepção de tempo porta a porta.
A definição do terminal paulistano, porém, dependerá da alternativa escolhida e dos estudos de capacidade do entorno.
Impactos para mobilidade, economia e turismo
As projeções oficiais apontam benefício direto para 1,8 milhão de moradores de nove municípios da Baixada Santista.
O efeito multiplicador tende a ir além da mobilidade.
Ao oferecer deslocamento rápido e confiável, o TIC pode atrair mais paulistanos ao litoral nos fins de semana e feriados, reduzindo a sobrecarga na Anchieta-Imigrantes e estimulando cadeias ligadas a hospedagem, alimentação e entretenimento.
Do ponto de vista logístico, a migração de parte dos passageiros para o trem libera capacidade nas rodovias para veículos de carga, o que interessa ao Porto de Santos e a operadores de transporte.
Em paralelo, áreas próximas a futuras estações tendem a se valorizar, com potencial de requalificação urbana em eixos como Mongaguá e no acesso a Santos.
A dimensão ambiental também é relevante: ao diminuir viagens individuais motorizadas, o empreendimento contribui para reduzir emissões e melhorar a qualidade do ar.
Principais obstáculos
O licenciamento ambiental é um dos pontos sensíveis, sobretudo no trecho de Serra do Mar, área de alta proteção.
Estudos detalhados e medidas de mitigação serão necessários para compatibilizar obra e conservação.
Há ainda a coordenação com concessionárias ferroviárias que operam cargas na região, como MRS e Rumo, cujo compartilhamento de faixas ou implantação de novas vias exige soluções técnicas e jurídicas robustas.
O modelo de financiamento é outro desafio. A estrutura pretendida é de Parceria Público-Privada, combinando capital privado e aportes públicos.
Para atrair investidores, a modelagem econômico-financeira precisa apresentar parâmetros de demanda, riscos e garantias que sustentem a taxa interna de retorno do projeto ao longo do contrato.
Cronograma previsto
O TIC Eixo Sul foi qualificado no PPI-SP em junho de 2024 por meio da Resolução SPI nº 026/2024.
Desde então, o governo estabeleceu marcos de médio prazo.
A agenda atual prevê conclusão dos estudos em 2027, audiências públicas no segundo trimestre de 2027, publicação do edital no terceiro trimestre de 2027, leilão no quarto trimestre de 2027 e assinatura do contrato no primeiro trimestre de 2028.
O início de operação é estimado para a próxima década, a depender do traçado selecionado, do avanço das licenças e da execução das obras.
Inserção no plano ferroviário
O Eixo Sul integra um pacote maior de mobilidade ferroviária com mais de R$ 60 bilhões em investimentos previstos.
Nesse conjunto aparecem o TIC Eixo Leste, entre São Paulo e São José dos Campos, além de projetos de VLT em Campinas e Sorocaba.
A ideia é articular serviços regionais e urbanos num sistema coerente, em que os intercidades funcionem como estruturadores do território e os VLTs organizem deslocamentos locais, reduzindo tempos de viagem e melhorando a conectividade entre polos econômicos.
Ainda que em fase de estudos, o projeto sinaliza uma reorientação da política pública para os trilhos.
De acordo com especialistas, se bem executado, o TIC Eixo Sul pode reequilibrar o transporte entre planalto e litoral, dar previsibilidade ao deslocamento diário e reforçar o papel do porto e do turismo na economia paulista.