Trem Intercidades entre São Paulo e Santos promete mudar a mobilidade com trajeto de até 130 km em 90 minutos, investimento bilionário, milhares de empregos e impacto direto para a economia, o turismo e a vida de quase dois milhões de pessoas.
O Governo de São Paulo recolocou os trilhos no centro da agenda de mobilidade ao avançar com o Trem Intercidades (TIC) Eixo Sul, ligação direta entre a Região Metropolitana de São Paulo e Santos.
A iniciativa prevê viagem em até 90 minutos, investimento estimado de R$ 15 bilhões, geração de cerca de 13 mil empregos e impacto para 1,8 milhão de pessoas na Baixada Santista.
A modelagem está enquadrada no Programa de Parcerias de Investimentos do Estado (PPI-SP) e tem marcos previstos entre 2027 e 2028, incluindo edital, leilão e assinatura do contrato.
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O que é o Trem Intercidades Eixo Sul
Trata-se de um serviço ferroviário regional que conectará a capital paulista ao maior porto da América Latina.
O trajeto estudado tem extensão variável entre 80 e 130 quilômetros, a depender do desenho definitivo.
Em termos estratégicos, a proposta busca diversificar a matriz de transporte, reduzir a dependência do sistema rodoviário Anchieta-Imigrantes e oferecer alternativa mais regular e sustentável para deslocamentos de trabalho, turismo e conexão com o Porto de Santos.
A escolha por um trem regional se apoia em fatores objetivos.
A rodovia que liga planalto e litoral opera há anos próxima do limite, com congestionamentos frequentes, acidentes e custos logísticos elevados.
Com um eixo ferroviário de passageiros, o Estado pretende aliviar a pressão sobre a malha viária, fortalecer a competitividade do porto e ampliar o acesso da população a serviços e empregos nas duas regiões.
Dois traçados em análise
O governo trabalha com dois traçados em análise.
A alternativa pela via cremalheira, aproveitando parte da infraestrutura já existente na Serra do Mar, encurta a distância total (na ordem de 80 quilômetros), mas exige soluções operacionais exigentes para compatibilizar transporte de passageiros e de cargas, hoje sob concessões distintas.
A descida com cremalheira, típica de serras íngremes, impõe padrões específicos de material rodante e de sinalização.
A outra opção prevê um contorno via Mongaguá, com declividade mais suave e percurso de cerca de 115 quilômetros, permitindo eventualmente seguir faixas de domínio próximas à Rodovia dos Imigrantes.
Nesse desenho, a chegada a Santos ocorreria pela futura estação Santos-Imigrantes. Em contrapartida, a distância maior demanda velocidades médias mais altas para manter o tempo de viagem de 1h30, além de novas obras de acesso e de integração urbana no litoral sul.
Integração em São Paulo
Independentemente do traçado, o TIC deverá se conectar a estações estratégicas da capital, como Pinheiros, Brás ou Santos-Imigrantes, facilitando integração com linhas de metrô e trens metropolitanos.
A ancoragem em nós de alta demanda reduz barreiras de acesso ao serviço, amplia capilaridade e melhora a percepção de tempo porta a porta.
A definição do terminal paulistano, porém, dependerá da alternativa escolhida e dos estudos de capacidade do entorno.
Impactos para mobilidade, economia e turismo
As projeções oficiais apontam benefício direto para 1,8 milhão de moradores de nove municípios da Baixada Santista.
O efeito multiplicador tende a ir além da mobilidade.
Ao oferecer deslocamento rápido e confiável, o TIC pode atrair mais paulistanos ao litoral nos fins de semana e feriados, reduzindo a sobrecarga na Anchieta-Imigrantes e estimulando cadeias ligadas a hospedagem, alimentação e entretenimento.
Do ponto de vista logístico, a migração de parte dos passageiros para o trem libera capacidade nas rodovias para veículos de carga, o que interessa ao Porto de Santos e a operadores de transporte.
Em paralelo, áreas próximas a futuras estações tendem a se valorizar, com potencial de requalificação urbana em eixos como Mongaguá e no acesso a Santos.
A dimensão ambiental também é relevante: ao diminuir viagens individuais motorizadas, o empreendimento contribui para reduzir emissões e melhorar a qualidade do ar.
Principais obstáculos
O licenciamento ambiental é um dos pontos sensíveis, sobretudo no trecho de Serra do Mar, área de alta proteção.
Estudos detalhados e medidas de mitigação serão necessários para compatibilizar obra e conservação.
Há ainda a coordenação com concessionárias ferroviárias que operam cargas na região, como MRS e Rumo, cujo compartilhamento de faixas ou implantação de novas vias exige soluções técnicas e jurídicas robustas.
O modelo de financiamento é outro desafio. A estrutura pretendida é de Parceria Público-Privada, combinando capital privado e aportes públicos.
Para atrair investidores, a modelagem econômico-financeira precisa apresentar parâmetros de demanda, riscos e garantias que sustentem a taxa interna de retorno do projeto ao longo do contrato.
Cronograma previsto
O TIC Eixo Sul foi qualificado no PPI-SP em junho de 2024 por meio da Resolução SPI nº 026/2024.
Desde então, o governo estabeleceu marcos de médio prazo.
A agenda atual prevê conclusão dos estudos em 2027, audiências públicas no segundo trimestre de 2027, publicação do edital no terceiro trimestre de 2027, leilão no quarto trimestre de 2027 e assinatura do contrato no primeiro trimestre de 2028.
O início de operação é estimado para a próxima década, a depender do traçado selecionado, do avanço das licenças e da execução das obras.
Inserção no plano ferroviário
O Eixo Sul integra um pacote maior de mobilidade ferroviária com mais de R$ 60 bilhões em investimentos previstos.
Nesse conjunto aparecem o TIC Eixo Leste, entre São Paulo e São José dos Campos, além de projetos de VLT em Campinas e Sorocaba.
A ideia é articular serviços regionais e urbanos num sistema coerente, em que os intercidades funcionem como estruturadores do território e os VLTs organizem deslocamentos locais, reduzindo tempos de viagem e melhorando a conectividade entre polos econômicos.
Ainda que em fase de estudos, o projeto sinaliza uma reorientação da política pública para os trilhos.
De acordo com especialistas, se bem executado, o TIC Eixo Sul pode reequilibrar o transporte entre planalto e litoral, dar previsibilidade ao deslocamento diário e reforçar o papel do porto e do turismo na economia paulista.