Aquecimento da construção civil no Brasil esbarra na escassez de trabalhadores. Empresários propõem ao governo mudanças nas regras do Bolsa Família para atrair beneficiários ao mercado formal sem que percam o benefício.
O setor da construção civil no Brasil está enfrentando um desafio inusitado e alarmante: a escassez de trabalhadores nos canteiros de obras.
Apesar de um cenário econômico aquecido e o setor prestes a bater recordes históricos, um fator surpreendente está desestimulando a procura por emprego no setor.
A resposta para essa situação passa diretamente pelos impactos dos programas sociais, em especial o Bolsa Família, na dinâmica do mercado de trabalho.
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O problema, que começou a ganhar atenção recentemente, levou construtoras e sindicatos a articularem medidas para reverter a situação.
Conforme noticiado pelo jornal Folha Vitória nesta segunda-feira (9), a proposta em desenvolvimento visa criar incentivos para que beneficiários do Bolsa Família se sintam mais confiantes em ingressar no mercado formal sem perder a segurança financeira garantida pelo programa.
O dilema entre benefícios sociais e mercado de trabalho
Atualmente, o Bolsa Família atende cerca de 20,7 milhões de famílias no Brasil, com um valor médio de R$ 684 por mês.
Para ser elegível, a renda por pessoa deve ser de até R$ 218 mensais, o que coloca o benefício como uma ferramenta essencial no combate à pobreza extrema.
No entanto, a sua interação com o mercado de trabalho formal levanta preocupações entre empresários da construção civil.
Rubens Menin, fundador da MRV, descreveu o programa como um “concorrente” do setor.
Segundo ele, a dinâmica atual faz com que muitos beneficiários optem por permanecer fora do mercado de trabalho formal para não correrem o risco de perder o auxílio.
“Precisamos dos programas sociais no Brasil, mas eles são nossos concorrentes”, afirmou Menin.
Ele ainda destacou que o setor tem investido em capacitação, produtividade e qualidade das vagas para atrair mais trabalhadores.
Recordes de emprego, mas falta de mão de obra
A construção civil está vivenciando um momento de aquecimento, com a geração de 2,9 milhões de empregos formais, o maior número em uma década.
Isso foi impulsionado por obras residenciais e comerciais, incluindo o programa Minha Casa, Minha Vida.
Ainda assim, o setor não tem conseguido preencher suas vagas devido à falta de mão de obra qualificada.
O presidente do Sindicato da Habitação (Secovi-SP), Rodrigo Luna, também defendeu a necessidade de mudanças.
“Precisamos criar políticas que resgatem a dignidade das pessoas e proporcionem oportunidades para que se tornem autossuficientes”, disse Luna.
Ele sugeriu a apresentação de uma proposta formal ao governo, que incluiria campanhas sobre as vantagens de trabalhar na construção civil e medidas para flexibilizar os parâmetros do Bolsa Família.
As regras que ajudam, mas não resolvem
Desde 2023, o Bolsa Família passou a contar com a chamada “Regra de Proteção”, que permite que famílias continuem recebendo o benefício mesmo após aumentos de renda.
Essa regra garante 50% do valor regular do auxílio por até 24 meses, desde que a renda per capita não ultrapasse meio salário mínimo (R$ 706).
O objetivo é estimular a formalização do trabalho, mas, segundo especialistas, ainda não é suficiente.
Laura Muller Machado, professora do Insper e especialista em políticas públicas, elogiou o papel do Bolsa Família no combate à miséria, mas apontou falhas estruturais.
“Caminhar do benefício para o mercado de trabalho é difícil. O mercado é incerto e as vagas muitas vezes não oferecem segurança suficiente”, argumentou.
Para ela, uma solução seria oferecer prêmios e uma redução gradual do benefício, em vez de uma interrupção abrupta.
O lado dos trabalhadores informais
Um levantamento do Ministério do Desenvolvimento Social mostrou que 13,5% das famílias beneficiárias do Bolsa Família possuem um membro com carteira assinada.
Além disso, os beneficiários foram responsáveis por 56% das 1,5 milhão de vagas formais criadas este ano.
Entretanto, muitos ainda permanecem em postos informais, como jardineiros, entregadores e pedreiros, dificultando a obtenção de dados precisos sobre sua participação no mercado.
Segundo Luna, o setor de construção oferece oportunidades atrativas. Ele destacou que os salários de admissão na área chegam a R$ 2.315, ficando atrás apenas de finanças e administração pública.
Além disso, bons profissionais, como oficiais de carpintaria, podem ganhar mais de R$ 10 mil por obra.
A proposta das construtoras
A solução proposta pelo setor ainda está em fase inicial, mas já inclui a ideia de lançar uma campanha de conscientização sobre as vantagens de trabalhar na construção civil.
Outro ponto é buscar alterações nas regras do Bolsa Família para incentivar os beneficiários a migrarem para o mercado formal sem perder completamente o benefício.
Os empresários alertam que, sem mudanças, a falta de trabalhadores qualificados pode gerar inflação e comprometer a produção do setor.
Menin destacou a gravidade da situação: “Já tivemos dificuldade com mão de obra no passado e, se não fizermos nada, teremos problemas novamente.”
A articulação entre governo, empresários e especialistas será essencial para encontrar um equilíbrio entre a manutenção de programas sociais e a promoção de oportunidades no mercado de trabalho.
Será que a flexibilização do Bolsa Família é a solução para resolver o gargalo de mão de obra na construção civil?
Que reportagem ruim. O que falta é um salário digno, pagar adequadamente as pessoas, e parar de ficar com esses lucros exorbitantes. Trabalhei na construção civil na NZ, e jamais aceitaria deixar de trabalhar pra receber auxílio, vc vive muito bem com o salário mínimo lá, trabalhando com qualquer coisa. Gente, são 600 reais! Adicional de 50 reais por filho (100 só se ele tiver menos de 7 anos) vc vive com 600 reais? Não, isso é só sobrevivência. Duvido que se pagasse 5k, escala 5×2, vale alimentação e refeição não resolvia o problema. Problema são as condições de trabalho. Falar essas ladainhas é um desserviço.
Sou carpinteiro desde 2014 tenho espereiencia na construção civil tenho muito interesse na oportunidade..quero mais informações por favor alguém me direcione
Eu sei o básico na área marceneiro