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Medo de parar de receber o Bolsa Família tem causado o desaparecimento da mão de obra na construção civil; construtores vão ao governo para propor medidas de flexibilização

Escrito por Alisson Ficher
Publicado em 09/12/2024 às 11:43
Setor de construção civil enfrenta falta de mão de obra e propõe mudanças no Bolsa Família para atrair beneficiários ao mercado formal.
Setor de construção civil enfrenta falta de mão de obra e propõe mudanças no Bolsa Família para atrair beneficiários ao mercado formal.

Aquecimento da construção civil no Brasil esbarra na escassez de trabalhadores. Empresários propõem ao governo mudanças nas regras do Bolsa Família para atrair beneficiários ao mercado formal sem que percam o benefício.

O setor da construção civil no Brasil está enfrentando um desafio inusitado e alarmante: a escassez de trabalhadores nos canteiros de obras.

Apesar de um cenário econômico aquecido e o setor prestes a bater recordes históricos, um fator surpreendente está desestimulando a procura por emprego no setor.

A resposta para essa situação passa diretamente pelos impactos dos programas sociais, em especial o Bolsa Família, na dinâmica do mercado de trabalho.

O problema, que começou a ganhar atenção recentemente, levou construtoras e sindicatos a articularem medidas para reverter a situação.

Conforme noticiado pelo jornal Folha Vitória nesta segunda-feira (9), a proposta em desenvolvimento visa criar incentivos para que beneficiários do Bolsa Família se sintam mais confiantes em ingressar no mercado formal sem perder a segurança financeira garantida pelo programa.

O dilema entre benefícios sociais e mercado de trabalho

Atualmente, o Bolsa Família atende cerca de 20,7 milhões de famílias no Brasil, com um valor médio de R$ 684 por mês.

Para ser elegível, a renda por pessoa deve ser de até R$ 218 mensais, o que coloca o benefício como uma ferramenta essencial no combate à pobreza extrema.

No entanto, a sua interação com o mercado de trabalho formal levanta preocupações entre empresários da construção civil.

Rubens Menin, fundador da MRV, descreveu o programa como um “concorrente” do setor.

Segundo ele, a dinâmica atual faz com que muitos beneficiários optem por permanecer fora do mercado de trabalho formal para não correrem o risco de perder o auxílio.

“Precisamos dos programas sociais no Brasil, mas eles são nossos concorrentes”, afirmou Menin.

Ele ainda destacou que o setor tem investido em capacitação, produtividade e qualidade das vagas para atrair mais trabalhadores.

Recordes de emprego, mas falta de mão de obra

A construção civil está vivenciando um momento de aquecimento, com a geração de 2,9 milhões de empregos formais, o maior número em uma década.

Isso foi impulsionado por obras residenciais e comerciais, incluindo o programa Minha Casa, Minha Vida.

Ainda assim, o setor não tem conseguido preencher suas vagas devido à falta de mão de obra qualificada.

O presidente do Sindicato da Habitação (Secovi-SP), Rodrigo Luna, também defendeu a necessidade de mudanças.

“Precisamos criar políticas que resgatem a dignidade das pessoas e proporcionem oportunidades para que se tornem autossuficientes”, disse Luna.

Ele sugeriu a apresentação de uma proposta formal ao governo, que incluiria campanhas sobre as vantagens de trabalhar na construção civil e medidas para flexibilizar os parâmetros do Bolsa Família.

As regras que ajudam, mas não resolvem

Desde 2023, o Bolsa Família passou a contar com a chamada “Regra de Proteção”, que permite que famílias continuem recebendo o benefício mesmo após aumentos de renda.

Essa regra garante 50% do valor regular do auxílio por até 24 meses, desde que a renda per capita não ultrapasse meio salário mínimo (R$ 706).

O objetivo é estimular a formalização do trabalho, mas, segundo especialistas, ainda não é suficiente.

Laura Muller Machado, professora do Insper e especialista em políticas públicas, elogiou o papel do Bolsa Família no combate à miséria, mas apontou falhas estruturais.

“Caminhar do benefício para o mercado de trabalho é difícil. O mercado é incerto e as vagas muitas vezes não oferecem segurança suficiente”, argumentou.

Para ela, uma solução seria oferecer prêmios e uma redução gradual do benefício, em vez de uma interrupção abrupta.

O lado dos trabalhadores informais

Um levantamento do Ministério do Desenvolvimento Social mostrou que 13,5% das famílias beneficiárias do Bolsa Família possuem um membro com carteira assinada.

Além disso, os beneficiários foram responsáveis por 56% das 1,5 milhão de vagas formais criadas este ano.

Entretanto, muitos ainda permanecem em postos informais, como jardineiros, entregadores e pedreiros, dificultando a obtenção de dados precisos sobre sua participação no mercado.

Segundo Luna, o setor de construção oferece oportunidades atrativas. Ele destacou que os salários de admissão na área chegam a R$ 2.315, ficando atrás apenas de finanças e administração pública.

Além disso, bons profissionais, como oficiais de carpintaria, podem ganhar mais de R$ 10 mil por obra.

A proposta das construtoras

A solução proposta pelo setor ainda está em fase inicial, mas já inclui a ideia de lançar uma campanha de conscientização sobre as vantagens de trabalhar na construção civil.

Outro ponto é buscar alterações nas regras do Bolsa Família para incentivar os beneficiários a migrarem para o mercado formal sem perder completamente o benefício.

Os empresários alertam que, sem mudanças, a falta de trabalhadores qualificados pode gerar inflação e comprometer a produção do setor.

Menin destacou a gravidade da situação: “Já tivemos dificuldade com mão de obra no passado e, se não fizermos nada, teremos problemas novamente.”

A articulação entre governo, empresários e especialistas será essencial para encontrar um equilíbrio entre a manutenção de programas sociais e a promoção de oportunidades no mercado de trabalho.

Será que a flexibilização do Bolsa Família é a solução para resolver o gargalo de mão de obra na construção civil?

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Paulo Pires
Paulo Pires
09/12/2024 15:01

Este problema está acontecendo em outra areas tambem, não só na área da construção civil

Elinaldo Eustáquio
Elinaldo Eustáquio
09/12/2024 16:33

Na minha opinião a escasces de mão de obra na construção civil, não é por motivo de programa sociais, e sim por falta de condições digna de trabalho, é um modelo ainda muito arcaico, onde se ver muitas obras, com pessoas trabalhando jogando tijolo manual para o alto e erguendo materiais na corda com roldana… Como que no outro dia a pessoa tem disposição para retornar-la ? Infelizmente disso para pior.

Nilton Henrique
Nilton Henrique
09/12/2024 17:37

Eu sou serralheiro civil, industrial,artesanal, pedreiro de acabamento, sei ler, interpretar e executar projetos de serralheria e civil. A empresa quer que eu cumpra uma carga de 44hs semanais de trabalho braçal suportando capitão do mato disfarçado de encarregado, senhor da casa branca disfarçado de acionistas. Prefiro trabalhar de Uber, tele entrega do que suportar esse sistema escravocrata. Quer bons funcionários? Ofereça qualidade de trabalho e salário digno que a mãe de obra aparece.

Alisson Ficher

Jornalista formado desde 2017 e atuante na área desde 2015, com seis anos de experiência em revista impressa e mais de 12 mil publicações online. Especialista em política, empregos, economia, cursos, entre outros temas. Se você tiver alguma dúvida, quiser reportar um erro ou sugerir uma pauta sobre os temas tratados no site, entre em contato pelo e-mail: alisson.hficher@outlook.com. Não aceitamos currículos!

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