Embarcação, proibida de atracar no Brasil devido ao risco sanitário e ambiental, foi vista sendo levada para águas internacionais, causando surpresa às empresas responsáveis
A Marinha brasileira tomou providências práticas quanto ao seu ex-porta-aviões (NAe São Paulo) que está proibido de atracar nos portos e estaleiros do país devido o amianto e o mercúrio que o casco carrega. Ela determinou o afastamento da embarcação da costa pernambucana. Esta semana o navio foi visto se movimentando para águas internacionais, mas até então os militares não haviam emitido nenhum comunicado, o que causou espanto e mistério.
A empresas MSK Maritime Services & Trading e a SÖK, responsáveis pela embarcação e que depois renunciaram a propriedade por não ter permissão de atracar nos portos brasileiros, se disseram surpresas com a movimentação do ex-porta-aviões, apesar de terem afirmado que o casco estava seguro mesmo com a renúncia.
A Marinha realizou uma perícia no casco contaminado do navio militar e constatou que há uma “severa degradação das condições de flutuabilidade e estabilidade”. Os militares constataram ainda que a embarcação também não possui cobertura do Seguro P&I (de Proteção e Indenização), nem contrato para atracação e reparo firmado com empresa ou estaleiro capazes de executar os serviços, que deveriam ser de responsabilidade da SÖK.
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O ex-porta-aviões e seu rebocador deve ser afastado para uma região com maior profundidade. A fragata “União” e o navio de Apoio Oceânico “Purus” acompanham o reboque. Em nota divulgada, a Marinha diz que “dadas as condições em que o casco se encontra, não autorizará a aproximação deste de águas interiores ou terminais portuários, em face do elevado risco que representa, com possibilidade de encalhe, afundamento ou interdição do canal de acesso a porto nacional, com prejuízos de ordem logística, operacional e econômica ao Estado brasileiro”. Veja a nota na íntegra aqui.
A própria Marinha foi uma das personagens que iniciou toda esta polêmica
A decisão da Marinha em afastar seu ex-porta-aviões da costa brasileira é uma medida que busca a preservação ambiental, sendo que ela mesma foi quem contribuiu para o início do imbróglio. Acontece que quando a embarcação foi proibida de chegar ao seu destino – um estaleiro na Turquia – após o Greenpeace detectar os materiais cancerígenos em seu casco, em outubro, ela ordenou que a atracação fosse no porto brasileiro de Suape, em Pernambuco.
Na época, ela chegou a dizer em nota que o amianto atualmente existente no ex-NAe São Paulo não oferecia riscos à saúde.
O governo local reagiu à ordem, entrando com uma ação na Justiça Federal para que a atracação não ocorresse lá, devido ao risco sanitário, ambiental e à operação portuária. O caso ganhou repercussão. Depois, nenhum outro porto ou estaleiro aceitou receber o ex-porta-aviões até que a situação fosse resolvida. A embarcação, que passou a ser chamada de navio-fantasma, ficou em alto mar (a 46 quilômetros da costa pernambucana) até ser rebocada nesta nova medida da Marinha.
O porta-aviões, que já foi o maior navio de guerra do hemisfério sul, já não pertence às Forças Armadas do Brasil desde 2020. Ele foi vendido à SÖK. A embarcação iria para o desmanche verde este ano. Enquanto pertenceu ao Brasil, a embarcação sempre causou polêmicas e grandes prejuízos.
O navio foi comprado pelo Brasil no ano de 2000 por US$ 12 milhões durante o governo de Fernando Henrique Cardoso. Ele tem 266 metros de cumprimento, uma boca de mais de 50 metros e capacidade de deslocar cerca de 30 mil toneladas.
Pelo menos 500 lançamentos de aeronaves e diversos outros exercícios militares foram realizados nos primeiros três anos sob posse do Brasil. Mas em maio de 2004, 3 tripulantes morreram após uma explosão no sistema de vapor do navio.
Todos os sistemas de circulação de água, vapor e combustível foram substituídos, além de atualizações no sistema elétrico e modernização no sistema de propulsão, entre outras melhorias nos sistemas de defesa, depois da explosão.
Em 2012, ainda sem voltar a operar, um incêndio elétrico resultou na morte de um tripulante e deixou outros mais gravemente feridos. O navio, então, voltou ao estaleiro para novas reformas. Em 2015, com a embarcação ainda fora de operação, o Governo Federal anunciou outra grande obra de modernização.
O objetivo era estender a vida útil do São Paulo até, pelo menos, 2039, podendo receber novas aeronaves recentemente adquiridas. Mas o governo desistiu da ideia devido ao custo estimado: R$ 1 bilhão. Os gastos já acumulavam US$ 150 milhões, e hoje o que era para ser o maior patrimônio da Defesa brasileira, virou uma grande sucata, sem rumo e que ainda causa muitas polêmicas.