Governo avalia mudanças na política automotiva, provocando reações de montadoras e debate sobre investimentos, empregos e a posição do Brasil no setor de veículos eletrificados.
O governo brasileiro enfrenta pressão inédita do setor automotivo diante de discussões sobre uma possível mudança na política industrial para o segmento.
Executivos de grandes montadoras estrangeiras, como Toyota, Volkswagen e General Motors, manifestaram preocupação sobre os impactos que uma alteração no regime de importação de veículos pode provocar nos investimentos já anunciados para a transição tecnológica no país.
O debate gira em torno da possibilidade de beneficiar a BYD, gigante chinesa do setor de carros elétricos, em detrimento do chamado programa Mover, política federal que prevê incentivos para produção local e a modernização da frota nacional.
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Pressão das montadoras e comparação internacional
A tensão ganhou força após declarações de representantes das multinacionais de que a quebra de confiança poderá trazer consequências sérias para o ambiente de negócios no Brasil.
De acordo com uma matéria publicada nesta terça-feira (29) pelo portal UOL, segundo um executivo ouvido sob reserva, uma eventual mudança unilateral no acordo firmado com o governo federal pode ser interpretada como um retrocesso semelhante ao adotado durante a gestão do ex-presidente norte-americano Donald Trump, quando os Estados Unidos desrespeitaram tratados internacionais e afetaram a credibilidade junto ao mercado global.
O programa Mover
O programa Mover, desenvolvido pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, foi apresentado em 2023 como uma estratégia para estimular a produção de veículos híbridos flex no Brasil.
A proposta recebeu apoio das principais montadoras instaladas no país e resultou no anúncio de mais de R$ 180 bilhões em investimentos até 2032.
Esses recursos seriam destinados à modernização de fábricas, desenvolvimento de novas tecnologias e lançamentos de modelos mais sustentáveis.
O acordo, costurado principalmente pelo ministro Geraldo Alckmin, estabeleceu regras claras para a evolução da cadeia automotiva, priorizando a geração de empregos e o aumento da competitividade nacional.
Possível mudança nas regras e impacto da BYD
O impasse atual surgiu após a Câmara de Comércio Exterior (Camex) iniciar estudos para reduzir o imposto de importação de veículos eletrificados montados em regimes SKD (semidesmontados) e CKD (totalmente desmontados).
Essas categorias de importação envolvem carros cujas principais peças são produzidas fora do Brasil, demandando menor mão de obra local.
A proposta pode favorecer empresas como a BYD, que recentemente anunciou planos ambiciosos para ampliar sua presença no mercado brasileiro, inclusive com a instalação de uma fábrica na Bahia.
Reação das multinacionais e risco aos investimentos
Assim como publicou o CPG, as montadoras tradicionais argumentam que qualquer flexibilização nas regras pode comprometer o cronograma de investimentos já apresentado às matrizes globais.
Executivos do setor afirmam que o planejamento feito junto ao governo brasileiro levou em conta o cenário previsto pelo Mover, o que inclui o ritmo de nacionalização de componentes e a proteção da indústria local.
Uma mudança abrupta, alertam, poderia resultar na redução ou mesmo suspensão de novas etapas de aportes financeiros, afetando empregos e o desenvolvimento tecnológico do país.
Alternativas em estudo pelo governo
O clima de incerteza aumentou após declarações públicas de Geraldo Alckmin sugerindo um possível meio-termo.
O ministro indicou a possibilidade de antecipar o aumento da alíquota do imposto de importação para 35%, ao mesmo tempo em que avaliava a criação de cotas temporárias para veículos importados.
Segundo o governo, essas cotas teriam duração de quatro anos e valores decrescentes, permitindo uma transição gradual para os novos patamares tarifários.
Entretanto, Alckmin ressaltou que a medida ainda está em análise e que nenhuma decisão final foi tomada até o momento.
Comparação com Trump e efeitos no setor automotivo brasileiro
A discussão sobre favorecer a BYD em detrimento das montadoras históricas instaladas no Brasil provocou comparações diretas entre Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump.
O ex-presidente dos Estados Unidos ficou marcado pela adoção de políticas protecionistas e pelo rompimento de acordos multilaterais, como os firmados no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC).
Empresários do setor automotivo apontam que, caso o Brasil siga por caminho semelhante, a confiança dos investidores pode ser abalada, dificultando futuras negociações e parcerias internacionais.
Impactos para empregos e fornecedores nacionais
Outro ponto destacado pelas empresas refere-se ao impacto sobre a geração de empregos e o desenvolvimento de fornecedores locais.
O regime CKD/SKD, por demandar menos produção nacional, reduz a necessidade de mão de obra qualificada e pode limitar o avanço da cadeia produtiva brasileira.
Segundo dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), o setor automotivo é responsável por cerca de 1,3 milhão de empregos diretos e indiretos no Brasil, além de impulsionar setores como autopeças, logística e tecnologia.
Desafios para a transição energética automotiva
A polêmica também coloca em xeque a política de transição energética planejada pelo governo, que busca alinhar o Brasil às tendências globais de descarbonização e eficiência veicular.
O incentivo à produção local de veículos híbridos e elétricos é considerado fundamental para cumprir metas ambientais estabelecidas para a próxima década.
Alterações frequentes nas regras podem comprometer o ritmo desse avanço, segundo especialistas do setor.
O futuro da indústria automotiva nacional
O contexto de rivalidade comercial entre empresas tradicionais e a BYD reforça o desafio de equilibrar interesses econômicos, tecnológicos e ambientais.
A busca por um ambiente de negócios estável e previsível é apontada por analistas como condição essencial para garantir a continuidade dos investimentos e a manutenção do Brasil como polo automotivo na América Latina.
Diante das incertezas, o setor automotivo aguarda uma definição clara do governo federal.
A decisão sobre manter acordo com Toyota, Volkswagen, General Motors e demais fabricantes, ou favorecer empresas como a BYD, pode influenciar o futuro da indústria automobilística brasileira por muitos anos.
Em meio a esse impasse, fica o questionamento: como o Brasil deve agir para conciliar interesses de grandes investidores, garantir empregos e promover a inovação no setor automotivo, sem perder a confiança dos principais parceiros globais?