Após 30 anos, a população do litoral paulista sonha com a volta dos trens de passageiros. Com planos para revitalização, especialistas discutem a reativação de um trecho que marcou gerações. Um futuro de novas rotas pode estar mais próximo do que nunca.
Em uma época em que a mobilidade urbana se torna um desafio crescente para cidades litorâneas, antigos trilhos ganham um novo brilho de esperança.
Moradores do litoral paulista, especialmente de Itanhaém, guardam memórias vivas dos tempos em que podiam percorrer a região de trem, com rapidez, segurança e um toque de aventura nostálgica.
Agora, depois de mais de três décadas de paralisação do serviço ferroviário, a ideia de retomar os trens de passageiros entre Santos e Juquiá começa a ganhar força e apoio da população local.
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Diário do Litoral apurou a história dos trens e as expectativas para o futuro dos trilhos, que podem aliviar o tráfego e resgatar parte da memória histórica da região.
Confira a seguir os detalhes sobre o trajeto, os planos para uma linha turística e as perspectivas para a recuperação desse transporte histórico.
Como era a antiga linha de trem Santos-Juquiá?
A antiga linha ferroviária que ligava Santos a Juquiá, percorrendo cidades do litoral sul paulista, foi inaugurada em 1913, com a construção da Southern São Paulo Railway, empresa inglesa responsável por estruturar parte da malha ferroviária do estado de São Paulo.
Em 1927, a linha passou a ser administrada pela Estrada de Ferro Sorocabana, expandindo o trecho até Juquiá, no Vale do Ribeira.
Durante décadas, essa linha era o principal meio de transporte para os habitantes da região, proporcionando uma alternativa prática e acessível aos veículos rodoviários.
O percurso passava por 34 estações e pontos de parada ao longo dos mais de 200 km entre Santos e Juquiá.
A viagem, que durava aproximadamente três horas, cruzava paisagens exuberantes e era uma opção popular tanto para moradores quanto para turistas.
Com o passar dos anos, no entanto, o serviço foi desativado, restando apenas as lembranças de um tempo em que os trens faziam parte do cotidiano da população litorânea.
Memórias de um ferroviário: histórias e acidentes
Marcelo Lara, de 89 anos, é um dos antigos trabalhadores da Estrada de Ferro Sorocabana e guarda recordações do período em que atuou como ferroviário.
Aposentado, ele mora há 50 anos em Itanhaém e compartilha histórias emocionantes da sua carreira, que durou 25 anos.
Em entrevista ao Diário do Litoral, ele lembrou que trabalhava na manutenção da linha, viajando constantemente para realizar serviços em diversas cidades da região.
“A empresa nos fornecia um vagão para dormir e fazer as refeições, pois, às vezes, ficávamos dias longe de casa”, conta Marcelo.
Ele também recorda um acidente que sofreu ao cair de um vagão de carga, carregado de pedras. Felizmente, saiu ileso.
Outro episódio marcante foi o acidente de 1º de abril de 1938, quando uma tempestade intensa derrubou árvores sobre os trilhos, afetando a estrutura da ponte que passava sobre o rio.
O trem, com passageiros a bordo, não conseguiu completar a travessia, e a tragédia deixou marcas na história ferroviária da região.
Lembranças e nostalgia: a cultura ferroviária no litoral paulista
Para muitos habitantes do litoral sul, a antiga linha Santos-Juquiá é sinônimo de nostalgia e representa um modo de vida único.
A escritora e pesquisadora Maria Tereza Leal Diz, conhecida como Teté, publicou uma crônica em seu livro sobre a Estrada de Ferro Sorocabana, onde descreve a magia de viajar de trem.
Segundo ela, a experiência era um passeio especial, onde se apreciavam paisagens e se podia sentir o movimento vibrante das cidades nas estações.
Conforme relata o Diário do Litoral, a chegada da linha férrea impactou profundamente a vida dos moradores locais, criando novos hábitos e mudando o cenário econômico e social da região.
Os trens não apenas transportavam passageiros e cargas, mas também transformavam as estações em pontos de encontro para a compra de jornais, revistas e produtos locais.
Tentativas de revitalização: projetos de turismo e planos do governo
Nos últimos anos, surgiram propostas para reativar o trecho ferroviário de maneira turística.
Em 2017, prefeitos do litoral sul, junto com o deputado federal João Paulo Papa, reuniram-se para discutir um projeto que pretendia retomar o serviço de passageiros em uma linha turística.
O plano previa uma rota de 66 km, de Mongaguá até Pedro de Toledo, com a concessão da malha ferroviária à empresa Rumo Logística.
Além disso, o governo federal anunciou recentemente a intenção de reabilitar 11.100 km de trilhos abandonados em todo o Brasil.
Essa medida prevê que as concessionárias responsáveis paguem indenizações que poderiam totalizar R$ 20 bilhões, a serem reinvestidos na recuperação ferroviária.
Segundo especialistas consultados pelo Diário do Litoral, a empresa Rumo é uma das que mais possuem trechos abandonados no Brasil, com aproximadamente 4.900 km de linhas fora de operação, inclusive em áreas do litoral paulista.
Em São Paulo, a Assembleia Legislativa aprovou, em 2022, o projeto de lei 148/22, que propõe a retomada do transporte ferroviário de cargas e passageiros por meio de “shortlines”, ou linhas curtas.
Até o momento, no entanto, o projeto aguarda regulamentação e implementação, deixando a população no aguardo de um retorno concreto dos trens à rotina das cidades.
Um futuro sobre trilhos para os moradores?
Para moradores do litoral paulista, como o ferroviário aposentado Marcelo e a escritora Teté, a reativação do trem de passageiros poderia representar um resgate cultural e uma alternativa sustentável ao transporte público.
A expectativa é que o governo e as empresas responsáveis avancem nos projetos que contemplam não apenas o transporte turístico, mas também o atendimento das necessidades diárias dos cidadãos, ajudando a reduzir o trânsito nas estradas e oferecendo um meio de transporte mais acessível e ecológico.
E você, o que acha da ideia de reviver os antigos trilhos para o transporte público no litoral? Acredita que a volta dos trens pode transformar a mobilidade e o turismo na região? Deixe seu comentário!