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Maior manguezal urbano do mundo resiste à pressão de megaprojetos bilionários e protege milhões de pessoas de tempestades

Escrito por Ana Alice
Publicado em 07/10/2025 às 18:20
O manguezal de Cần Giờ, em Ho Chi Minh, protege milhões de pessoas de tempestades e enfrenta pressões de megaprojetos urbanos.
O manguezal de Cần Giờ, em Ho Chi Minh, protege milhões de pessoas de tempestades e enfrenta pressões de megaprojetos urbanos.
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O manguezal de Cần Giờ, no Vietnã, combina biodiversidade, barreira natural contra tempestades e desafios de urbanização em uma das maiores metrópoles do Sudeste Asiático. Sua preservação enfrenta a pressão de megaprojetos bilionários em plena zona costeira.

Maior manguezal urbano do mundo resiste à pressão de megaprojetos bilionários e protege milhões de pessoas de tempestades

Reconhecido pela Unesco como Reserva da Biosfera desde 2000, o conjunto de manguezais de Cần Giờ ocupa cerca de 75.740 hectares dentro dos limites administrativos de Ho Chi Minh, no Vietnã.

A área funciona como “pulmão verde” e como barreira natural contra tempestades para uma metrópole com mais de 9 milhões de habitantes, motivo pelo qual órgãos públicos e a imprensa local o descrevem como o maior manguezal urbano do mundo.

A classificação não integra um ranking oficial internacional, mas se sustenta na extensão contínua do ecossistema inserido em um único município e no papel estratégico para a adaptação costeira.

Proteção natural em escala metropolitana

Localizado a aproximadamente 50 quilômetros do centro urbano, Cần Giờ cobre parcela expressiva do território municipal e concentra a maior parte da cobertura florestal da cidade.

O manguezal de Cần Giờ, em Ho Chi Minh, protege milhões de pessoas de tempestades e enfrenta pressões de megaprojetos urbanos.
O manguezal de Cần Giờ, em Ho Chi Minh, protege milhões de pessoas de tempestades e enfrenta pressões de megaprojetos urbanos.

A reserva adota o modelo de zonas núcleo, de amortecimento e de transição, que permite resguardar trechos sensíveis e, ao mesmo tempo, regular atividades produtivas tradicionais, como a aquicultura em pequena escala.

Estudos recentes descrevem uma zona núcleo com cerca de 4,7 mil hectares, além de áreas de amortecimento e transição que compõem o mosaico ecológico entre o mar aberto e a malha urbana — arranjo raro em regiões metropolitanas densas.

Como o manguezal segura a linha da costa

As raízes-escora e os pneumatóforos dos mangues dissipam a energia das ondas, reduzem a erosão, estabilizam margens e atenuam a força de tempestades.

Em episódios de maré de tempestade, a floresta alagável atua como esponja natural, absorvendo a lâmina d’água e retendo sedimentos, o que diminui o impacto sobre áreas habitadas.

A alta produtividade biológica transforma a reserva em sumidouro de carbono de relevância regional, contribuindo para metas de mitigação climática por meio do chamado “carbono azul”.

Esses serviços são citados por organismos internacionais ao justificar o valor público de Cần Giờ para Ho Chi Minh.

Água mais limpa, pesca mais resiliente

O papel de filtro também se destaca. Os manguezais retêm nutrientes e poluentes que descem pelos rios da cidade até o estuário, o que ajuda a reduzir florações de algas nocivas, protege ecossistemas adjacentes e beneficia a pesca artesanal.

A fauna registrada inclui crustáceos, peixes e aves migratórias que utilizam as planícies de maré como áreas de alimentação.

A diversidade vegetal reúne espécies de Rhizophora, Avicennia e Sonneratia em diferentes estágios de regeneração — resultado de décadas de restauração e regeneração natural após os danos de guerra.

Megaprojetos avançam às portas da floresta

A dimensão urbana impõe pressões atípicas. Em outubro de 2024, a Prefeitura de Ho Chi Minh aprovou o planejamento do complexo urbano costeiro de 2.870 hectares em Cần Giờ, iniciativa privada estimada em cerca de US$ 9 bilhões e baseada em aterro marítimo.

O manguezal de Cần Giờ, em Ho Chi Minh, protege milhões de pessoas de tempestades e enfrenta pressões de megaprojetos urbanos.
O manguezal de Cần Giờ, em Ho Chi Minh, protege milhões de pessoas de tempestades e enfrenta pressões de megaprojetos urbanos.

Em janeiro de 2025, a cidade validou o plano detalhado (escala 1:500), destravando etapas de licenciamento.

Em abril de 2025, começaram as obras do empreendimento, com previsão de grandes movimentações de terra e criação de lagos e canais internos.

Outra frente é logística. Em 16 de janeiro de 2025, o governo central aprovou a política de investimento do Porto Internacional de Transbordo de Cần Giờ, projeto de ao menos VND 50 trilhões que pretende posicionar Ho Chi Minh como hub de contêineres no Sudeste Asiático.

Desde então, o município busca mecanismos especiais e adequações de planos de uso do solo e do espaço marinho para viabilizar o terminal.

Novas ligações sobre o mar em discussão

A conectividade também entrou no radar. A cidade estuda uma via litorânea sul de 45,5 km que inclui uma ponte marítima para Cần Giờ, concebida para reduzir tempos de viagem e integrar polos logísticos.

Em paralelo, o conglomerado Vingroup apresentou proposta formal para pesquisar e investir em uma ponte Cần Giờ–Vũng Tàu, o que encurtaria significativamente o trajeto com a província vizinha.

São projetos ainda em análise, com potenciais impactos cumulativos na zona costeira.

Conservação e infraestrutura: o desafio do equilíbrio

Compatibilizar conservação e expansão urbana tornou-se tema central da gestão territorial.

Documentos de planejamento e estudos ambientais indicam que obras viárias, portuárias e imobiliárias exigem soluções baseadas na natureza em conjunto com medidas de engenharia para manter o desempenho de proteção costeira.

O manejo atual aposta na grande zona de amortecimento para absorver usos produtivos sem comprometer o “coração” da reserva.

O monitoramento por sensoriamento remoto acompanha a integridade ecológica, as mudanças no uso do solo e a dinâmica das linhas de costa.

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Economia local e visitação sob regras

No campo social, o manguezal sustenta economias familiares de coleta e maricultura e, nos fins de semana, recebe fluxo de visitantes para passeios de barco, observação de aves e trilhas suspensas em áreas designadas.

Para reduzir impactos, o poder público restringe a visitação a polos específicos, define rotas náuticas e impõe critérios de distanciamento de ninhos e berçários naturais.

A fiscalização concentra esforços em períodos de maior risco de incêndio e em pontos sujeitos a despejo de resíduos.

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Ana Alice

Redatora e analista de conteúdo. Escreve para o site Click Petróleo e Gás (CPG) desde 2024 e é especialista em criar textos sobre temas diversos como economia, empregos e forças armadas.

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