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Maior lago artificial do Brasil tem 4.214 km², mais de 320 km de extensão, gera energia e segue vital após quase 50 anos de operação

Escrito por Alisson Ficher
Publicado em 15/09/2025 às 19:56
Sobradinho, na Bahia, é o maior lago artificial do Brasil com 4.214 km². Gera energia, regula o São Francisco e mudou cidades inteiras.
Sobradinho, na Bahia, é o maior lago artificial do Brasil com 4.214 km². Gera energia, regula o São Francisco e mudou cidades inteiras.
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Com quase cinco décadas de operação, o reservatório de Sobradinho, na Bahia, transformou paisagens, cidades e economias do sertão. Sua escala monumental garante energia e regula o rio São Francisco, mantendo relevância estratégica para o Nordeste.

Sobradinho, no norte da Bahia, concentra o maior espelho d’água artificial do país e segue como peça central do rio São Francisco.

Com 4.214 km² na cota de referência e cerca de 320 quilômetros de extensão, o reservatório integra o sistema da Chesf e cumpre dupla missão: geração de energia e regularização de vazões ao longo do principal rio do Nordeste, sustentando o abastecimento elétrico e o uso múltiplo da água em vários estados da bacia.

Localização e dimensões no semiárido baiano

Criado pelo barramento do São Francisco, o lago ocupa áreas de caatinga em uma faixa que alcança o entorno de Juazeiro (BA) e Petrolina (PE).

A lâmina d’água avança em remanso por longos trechos e, em pontos mais largos, forma extensões que moradores identificam como um “mar do sertão”.

Essa escala territorial reconfigurou paisagens, rotinas e rotas de circulação em dezenas de comunidades.

Funções energéticas e papel na régua do rio

Vista aérea da barragem de Sobradinho evidenciando geração de energia e uso hídrico estratégico. (Imagem: Agência Sertão)Vista aérea da barragem de Sobradinho evidenciando geração de energia e uso hídrico estratégico. (Imagem: Agência Sertão)
Vista aérea da barragem de Sobradinho evidenciando geração de energia e uso hídrico estratégico. (Imagem: Agência Sertão)Vista aérea da barragem de Sobradinho evidenciando geração de energia e uso hídrico estratégico. (Imagem: Agência Sertão)

A usina de Sobradinho soma 1.050 megawatts de potência instalada, distribuídos em seis unidades geradoras.

Mais do que produzir eletricidade, a barragem atua como reguladora do São Francisco: em seca, amortece perdas de afluência; em cheias, coordena defluências para reduzir riscos a jusante.

Essa operação é o alicerce para o desempenho de usinas situadas abaixo, no eixo de Paulo Afonso, e para a previsibilidade de captações urbanas, projetos de irrigação e trechos de navegação fluvial.

Capacidade de armazenamento e regras operacionais

Em condições normais, o lago acumula aproximadamente 34,1 bilhões de metros cúbicos.

A operação segue parâmetros técnicos que definem faixas de níveis máximos e mínimos, além de vazões mínimas obrigatórias.

A chamada faixa de depleção orienta decisões diárias: liberar mais água para atender à demanda energética e social ou retê-la para recompor volume e garantir o atendimento futuro.

Trata-se de um equilíbrio permanente, revisado conforme boletins hidrológicos e cenários climáticos.

Hidrologia: oscilações e variabilidade recente

O comportamento do reservatório traduz a própria variabilidade do clima no Nordeste. Em anos de afluências robustas, a recuperação do volume útil é rápida.

Em estiagens prolongadas, o sistema privilegia a segurança hídrica da bacia.

Em abril de 2022, o nível de Sobradinho chegou a 100%, algo que não acontecia desde 2009, episódio que ilustra a alternância entre eventos de cheias e secas e a importância do reservatório como amortecedor de extremos.

Navegação e integração regional

Para preservar a navegabilidade no trecho de Juazeiro–Petrolina, o empreendimento dispõe de eclusa, que permite à frota vencer o desnível da barragem.

Assim, a ligação entre montante e jusante do São Francisco mantém-se operacional, ainda que dependente de condições de nível e de janelas de passagem.

A infraestrutura facilita o transporte regional, conecta cadeias produtivas e mantém viva a tradição fluvial do “Velho Chico”.

Reconfiguração territorial e memória das cidades submersas

A formação do lago, na década de 1970, exigiu a realocação de sedes municipais.

Casa Nova, Remanso, Pilão Arcado e Sento Sé tiveram áreas urbanas originais submersas durante o enchimento.

Quase 12 mil famílias foram reassentadas em novas localidades planejadas para recebê-las.

Trecho do reservatório de Sobradinho em Remanso-BA captado por satélite, realçando a usina e área inundada. (Imagem: INPE / Flickr)
Trecho do reservatório de Sobradinho em Remanso-BA captado por satélite, realçando a usina e área inundada. (Imagem: INPE / Flickr)

Em períodos de seca severa, o recuo do nível revela ruínas que reaparecem na paisagem e reativam lembranças de quem viveu a mudança.

O impacto social segue documentado em relatos, acervos e pesquisas que registram perdas materiais, vínculos afetivos e reconstrução de identidades.

Comparação nacional e critérios de grandeza

No recorte por área inundada, Sobradinho lidera no Brasil.

Reservatórios como Itaparica e Furnas têm superfícies significativamente menores.

A distinção é necessária porque métricas diferentes geram leituras distintas: “maior em área” não significa “maior em volume”.

Órgãos técnicos e estudos utilizam a área espelhada como referência para classificar a dimensão territorial dos lagos artificiais, enquanto o volume explica a capacidade de armazenamento e a função reguladora no sistema elétrico e hidrológico.

Efeitos ambientais e usos múltiplos da água

A presença do grande espelho d’água altera microclimas locais, suaviza temperaturas em torno imediato e adiciona umidade ao ar, com efeitos percebidos em atividades agrícolas.

Vista satelital do reservatório de Sobradinho mostrando espelho d’água de 4.214 km² no rio São Francisco. (Imagem: NASA / Gifex)
Vista satelital do reservatório de Sobradinho mostrando espelho d’água de 4.214 km² no rio São Francisco. (Imagem: NASA / Gifex)

Ao mesmo tempo, a expansão da irrigação no Vale do São Francisco exige regras claras para captações, outorgas e fiscalização.

A prioridade do uso permanece pública e multipropósito, com a geração de energia e a regulação de vazões no topo, sem excluir a pesca artesanal, o turismo de base comunitária e práticas náuticas que se consolidaram em pontos específicos da margem.

Segurança de barragens e monitoramento contínuo

Por operar em grande escala, o reservatório obedece a protocolos de segurança de barragens e a rotinas de monitoramento estrutural e hidrológico.

Planos de contingência, vistorias e testes de equipamentos compõem o dia a dia do empreendimento, com procedimentos diferenciados para períodos de cheia e de estiagem.

A governança envolve órgãos do setor elétrico, gestores de recursos hídricos e defesas civis, em coordenação com estados e municípios da bacia.

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Transformações urbanas e novas dinâmicas econômicas

As sedes reconstruídas incorporaram traçados planejados e serviços públicos dimensionados para a população reassentada.

Com o lago como referência, a economia local se reorientou para atividades compatíveis com a vocação hídrica do território, como fruticultura irrigada, beneficiamento, logística e serviços.

Essas mudanças trouxeram demandas permanentes por ordenamento do uso do entorno, atualização cadastral de áreas sujeitas a variações de nível e fiscalização ambiental para coibir ocupações irregulares.

Estratégia para o futuro da bacia

Cinco décadas após a entrada em operação, Sobradinho continua decisivo para a matriz elétrica do Nordeste e para a segurança hídrica do São Francisco.

A manutenção de sua função plurianual depende de afluências compatíveis a montante, de coordenação entre agentes do setor elétrico e de políticas de uso racional da água em toda a bacia.

Em contexto de variabilidade climática, a gestão adaptativa do reservatório tende a ganhar relevância, com maior integração entre planejamento energético, agricultura irrigada e necessidades urbanas.

Que caminhos de gestão devem ser priorizados para equilibrar energia, água e desenvolvimento regional sem abrir mão da memória das cidades que ficaram sob as águas?

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Alisson Ficher

Jornalista formado desde 2017 e atuante na área desde 2015, com seis anos de experiência em revista impressa, passagens por canais de TV aberta e mais de 12 mil publicações online. Especialista em política, empregos, economia, cursos, entre outros temas. Registro profissional: 0087134/SP. Se você tiver alguma dúvida, quiser reportar um erro ou sugerir uma pauta sobre os temas tratados no site, entre em contato pelo e-mail: alisson.hficher@outlook.com. Não aceitamos currículos!

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