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Maior fazenda da América Latina fica no Brasil: tem 6.000 m², 52 quartos, 12 salões e 365 janelas — construída entre 1760 e 1780, possui capela e cachoeira próprias

Escrito por Fabio Lucas Carvalho
Publicado em 06/10/2025 às 16:56
A maior fazenda: Com 6.000 m², 52 quartos, 12 salões e 365 janelas, a Fazenda Santa Clara em Minas Gerais guarda séculos de história
A maior fazenda: Com 6.000 m², 52 quartos, 12 salões e 365 janelas, a Fazenda Santa Clara em Minas Gerais guarda séculos de história
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Erguida há mais de dois séculos no coração de Minas Gerais, a Fazenda Santa Clara impressiona pela grandiosidade e pela história que carrega. Com 6.000 m² de área construída, 52 quartos, 12 salões e 365 janelas, a propriedade colonial simboliza a opulência e as contradições do Brasil do século XVIII, reunindo arquitetura monumental, capela com afresco e uma cachoeira particular cercada por vegetação exuberante.

No coração de Minas Gerais, cercada por colinas e pela memória de um Brasil colonial, ergue-se a imponente Fazenda Santa Clara — a maior da América Latina. Datada entre 1760 e 1780, a construção monumental ocupa 6.000 m² e simboliza o poder e as contradições de uma época. Erguida sob o comando do Comendador Francisco Tereziano Fortes, a fazenda foi projetada com uma simetria quase simbólica: 52 quartos representando as semanas do ano, 12 salões em alusão aos meses e 365 janelas que marcam os dias.

Mais do que números impressionantes, a Santa Clara carrega nas paredes um passado complexo e doloroso. Por trás da imponência de sua arquitetura colonial, escondem-se histórias de exploração, aprisionamento e resistência que ecoam até hoje.

História e origem da Fazenda Santa Clara

A construção da fazenda começou sob o olhar rigoroso de Francisco Tereziano Fortes, figura influente do período colonial. Sua imponência arquitetônica e a grandiosidade dos detalhes refletiam não apenas a riqueza de seu proprietário, mas também a estrutura desigual que sustentava a sociedade brasileira da época.

Erguida durante o ciclo do ouro, a fazenda representava um marco da economia colonial, servindo tanto como morada quanto como centro de produção agrícola e comercial. A solidez das paredes, os arcos, os vitrais e os amplos salões espelhavam o poder concentrado nas mãos de poucos.

Porém, sob essa aparência majestosa, escondia-se uma das faces mais sombrias da história. Algumas das 365 janelas da edificação eram falsas — pintadas apenas para criar a ilusão de luz e ventilação — e serviam para disfarçar a função mais cruel do local: um centro de reprodução de escravos.

O lado sombrio da grandiosidade

Mesmo após a proibição do tráfico negreiro no Brasil, a Fazenda Santa Clara continuou a praticar a reprodução forçada de pessoas escravizadas.

O local, segundo registros históricos, mantinha aproximadamente 2.800 pessoas nessa condição. Homens e mulheres eram separados, tratados como instrumentos de trabalho e procriação, numa das práticas mais brutais da história colonial.

Essa realidade cruel foi mascarada pela beleza externa da propriedade. As janelas falsas e os espaços amplos escondiam as senzalas e as masmorras onde ocorriam os abusos. Assim, o que à distância parecia apenas uma construção monumental, revelava-se um retrato de sofrimento e desumanidade quando observado de perto.

Com o passar dos anos, a fazenda enfrentou dificuldades econômicas, inclusive uma hipoteca malsucedida e a perda de parte de suas terras. Mesmo assim, o conjunto arquitetônico sobreviveu. Hoje, o local é tombado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (IEPHA), garantindo sua preservação como símbolo da história nacional.

A maior construção rural da América Latina

Com seus 6.000 m² de área construída, 52 quartos, 12 salões e 365 janelas, a Fazenda Santa Clara é considerada a maior construção rural da América Latina. Foram necessárias duas décadas para concluí-la, e sua arquitetura imponente se tornou uma das mais notáveis expressões do período colonial mineiro.

A vida de seus antigos proprietários também foi marcada por episódios trágicos.

A esposa de Francisco Tereziano Fortes teria sido mantida trancada por cerca de trinta anos em um dos quartos da casa. Após a morte do comendador, ela herdou a fazenda e passou a administrá-la, transformando-se em uma figura lendária na região.

Esses acontecimentos contribuíram para o ar de mistério que envolve a Santa Clara. Hoje, quem caminha por seus corredores largos e observa seus vitrais e capelas, encontra muito mais do que uma edificação monumental: vê um espelho fiel das contradições que moldaram o Brasil colonial.

Visitação e turismo histórico

A Fazenda Santa Clara é um dos destinos mais procurados por turistas interessados em história e cultura. O passeio começa na Central de Passeios, com saída em direção à propriedade, localizada a 17 quilômetros do ponto de partida.

Durante o trajeto, os visitantes atravessam paisagens mineiras de rara beleza até chegarem à imponente entrada da fazenda. Lá, um guia local conduz uma visita guiada de aproximadamente uma hora e meia. O roteiro inclui os salões centenários, a capela e até uma antiga masmorra, que impressiona pela atmosfera pesada e silenciosa.

O afresco de Santa Clara pintado no teto da capela é considerado um dos tesouros artísticos do local. A imagem delicada contrasta com as marcas da escravidão ainda visíveis nas estruturas de pedra e madeira da fazenda, tornando a visita uma experiência tanto estética quanto reflexiva.

Cachoeira e restaurante completam o passeio

Após o tour histórico, os visitantes percorrem uma trilha leve de cerca de 500 metros até a Cachoeira de Santa Clara. O local, com águas cristalinas e uma pequena prainha de areia, convida ao descanso e ao mergulho. O contraste entre a serenidade da natureza e o peso histórico da fazenda torna o passeio ainda mais impactante.

Encerrando o roteiro, o Restaurante do Duque oferece um almoço típico mineiro em sistema self-service, com churrasco e sobremesas caseiras. Dali, é possível admirar uma vista panorâmica da fazenda, com suas janelas simétricas e paredes brancas contrastando com o verde das montanhas.

O conjunto — fazenda, cachoeira e restaurante — transforma a visita em uma imersão completa na história, cultura e gastronomia de Minas Gerais.

Valor histórico e preservação

A preservação da Fazenda Santa Clara vai muito além da conservação física de suas paredes e estruturas. Ela representa o compromisso de proteger a memória coletiva e de enfrentar um passado que, embora doloroso, precisa ser lembrado.

Como patrimônio tombado pelo IEPHA, a fazenda se tornou um importante ponto de turismo cultural e histórico. Sua manutenção contribui para a educação patrimonial, o fortalecimento da identidade regional e a geração de empregos diretos e indiretos por meio do turismo sustentável.

Preservar a Santa Clara é, portanto, preservar parte da essência do Brasil — um país forjado entre o esplendor das construções coloniais e as cicatrizes da escravidão.

Reflexão e legado

Hoje, quem visita a Fazenda Santa Clara encontra muito mais do que um monumento do passado. O local se transformou em um espaço de reflexão sobre as contradições que moldaram a sociedade brasileira.

Cada janela, cada salão e cada pedra carregam o peso da história. Ao mesmo tempo, a fazenda se impõe como símbolo de resistência, lembrando que compreender o passado é essencial para construir um futuro mais justo.

A maior fazenda da América Latina, com seus 365 dias simbolizados em janelas, permanece como um espelho do Brasil colonial — grandioso, complexo e marcado por profundas contradições.

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Fabio Lucas Carvalho

Jornalista especializado em uma ampla variedade de temas, como carros, tecnologia, política, indústria naval, geopolítica, energia renovável e economia. Atuo desde 2015 com publicações de destaque em grandes portais de notícias. Minha formação em Gestão em Tecnologia da Informação pela Faculdade de Petrolina (Facape) agrega uma perspectiva técnica única às minhas análises e reportagens. Com mais de 10 mil artigos publicados em veículos de renome, busco sempre trazer informações detalhadas e percepções relevantes para o leitor.

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