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Luta pelos peixes: 300 barragens demolidas no maior projeto de revitalização de rios do mundo

Escrito por Fabio Lucas Carvalho
Publicado em 11/07/2025 às 18:27
barragens
Foto: Reprodução
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China desativa 342 usinas e remove 300 barragens no Rio Chishui para salvar espécies ameaçadas, como o esturjão do Yangtze.

A China iniciou uma das maiores operações de recuperação ambiental fluvial do planeta. O país afirma ter desmantelado 300 barragens e fechado mais de 90% das pequenas usinas hidrelétricas ao longo do Rio Chishui.

A iniciativa busca restaurar o fluxo natural das águas, reconectar habitats e permitir a migração de espécies ameaçadas, como o esturjão do Yangtze.

Um afluente crucial para a biodiversidade

O Rio Chishui, também chamado de Rio Vermelho, percorre mais de 400 quilômetros entre as províncias de Yunnan, Guizhou e Sichuan.

Ele é considerado um dos últimos refúgios para peixes raros e endêmicos do alto Yangtze. Até pouco tempo atrás, seu curso estava fragmentado por centenas de represas e pequenas usinas.

Desde 2020, o governo chinês iniciou um processo de demolição em larga escala.

Segundo dados da agência estatal Xinhua, até o final de 2024, 300 das 357 barragens haviam sido removidas. Das 373 pequenas centrais hidrelétricas instaladas ao longo do rio, 342 foram desativadas.

Impacto direto nos peixes nativos

Com a remoção das barreiras, o fluxo natural da água voltou. Habitats foram reconectados e as rotas migratórias, reabertas.

Isso teve um efeito direto sobre o esturjão do Yangtze, espécie considerada extinta na natureza pela IUCN em 2022.

O pesquisador Liu Fei, da Academia Chinesa de Ciências, informou que a nova condição do rio atende às necessidades de reprodução do esturjão.

A equipe dele já liberou dois lotes de peixes criados em cativeiro no Rio Vermelho, entre 2023 e 2024.

Em abril de 2025, 20 exemplares adultos foram soltos na seção Guizhou do rio para testes de reprodução natural.

Ainda no mesmo mês, os cientistas detectaram o comportamento de desova e a eclosão de alevinos. Isso não acontecia desde o ano 2000.

Décadas de interferência humana

As populações de peixes da Bacia do Yangtze sofreram graves perdas nas últimas décadas.

O desenvolvimento hidrelétrico alterou os fluxos naturais, reduziu o oxigênio na água e impediu que os peixes chegassem às áreas de desova.

Segundo o professor Zhou Jianjun, da Universidade Tsinghua, a recuperação pode ocorrer mesmo sem a demolição completa das estruturas.

Para ele, o importante é mudar o controle da água para atender ao equilíbrio ecológico, mesmo que parte das instalações permaneça.

Mais do que derrubar barragens

O plano chinês vai além das demolições. Em 2020, o país adotou uma moratória de pesca de dez anos, proibindo atividades comerciais nos principais rios.

Também houve medidas contra a mineração de areia e maior controle sobre novos projetos hidrelétricos.

Somente na província de Sichuan, mais de cinco mil usinas foram reformadas até 2021, sendo que 1.223 foram fechadas.

Esse processo foi destacado no comunicado de biodiversidade de 2023, publicado pelo governo central.

O relatório apontou melhoras consistentes na qualidade da água e na recuperação de ecossistemas aquáticos.

Espécies de peixes, invertebrados e anfíbios apresentaram sinais de crescimento. A mineração de areia, que afeta o leito dos rios, caiu de forma significativa.

Um novo modelo de gestão fluvial

A recuperação do Rio Chishui oferece um exemplo concreto de como é possível reverter danos ambientais severos causados pela infraestrutura hidrelétrica.

A mudança no modelo de gestão dos rios chineses indica um novo foco: em vez de priorizar apenas a geração de energia, o país está colocando a preservação ecológica como prioridade.

Mesmo que o esturjão do Yangtze ainda enfrente risco de extinção, os resultados já observados no afluente restaurado representam um passo importante.

O sucesso da desova em ambiente natural pode ser o começo de uma nova fase para os rios do país.

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Fabio Lucas Carvalho

Jornalista especializado em uma ampla variedade de temas, como carros, tecnologia, política, indústria naval, geopolítica, energia renovável e economia. Atuo desde 2015 com publicações de destaque em grandes portais de notícias. Minha formação em Gestão em Tecnologia da Informação pela Faculdade de Petrolina (Facape) agrega uma perspectiva técnica única às minhas análises e reportagens. Com mais de 10 mil artigos publicados em veículos de renome, busco sempre trazer informações detalhadas e percepções relevantes para o leitor. Para sugestões de pauta ou qualquer dúvida, entre em contato pelo e-mail flclucas@hotmail.com.

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