Os ataques à Ucrânia têm surtido efeito até mesmo na logística, visto que muitas empresas de transporte tiveram de alterar rotas para fornecer insumos à indústria
Devido às alterações nas rotas de transporte de mercadorias ocasionadas pelo conflito entre Rússia e Ucrânia, a desordem logística é vista como a primeira consequência da guerra no Leste Europeu, ao lado da alta dos preços de commodities como petróleo e gás. A visão sobre o risco de mais uma crise na cadeia de matérias-primas é diferente de acordo com cada setor, visto que indústrias que dependem de importações estão bem mais preocupadas que aquelas que utilizam recursos de produtores locais.
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Conforme publicado no site Broadcast por Eduardo Laguna, diferente do grande crescimento das cotações das commodities, que ocasionou impacto generalizado e quase instantâneo no custo de produção das indústrias, por enquanto não há evidências de que certos insumos estejam ameaçados. Entretanto, como a situação é bem instável, isso pode alterar caso o conflito perdure por muito tempo.
Uma das questões mais delicadas é a escassez de itens eletrônicos, já que é a principal fonte na produção de automóveis e produtos eletroeletrônicos há mais de um ano.
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Os estudos preliminares a respeito das afetações da guerra foram discutidos ontem, dia 07/03, durante entrevista coletiva dos líderes da Coalizão Indústria, grupo que conta com representantes de 12 áreas industriais, desde o setor de brinquedos ao de veículos, e que possui boa relação com o governo.
De acordo com Humberto Barbato, presidente da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), que produz aparelhos como notebooks e celulares, o conflito é capaz de piorar a crise dos semicondutores, matéria essencial na fabricação de produtos eletrônicos. Isso é possível já que o gás fundamental durante o processo de produção de chips é um subproduto russo, cuja purificação acontece na Ucrânia.
“Fora o aspecto humano, do ponto de vista econômico, podemos ter o problema dos semicondutores agravado por falta de matérias-primas essenciais a sua produção”, disse Barbato.
Para o presidente da Abinee, esse novo empecilho não deve atrapalhar de modo imediato a indústria mundial, porém, em breve, deve sim comprometer as fábricas, visto que trabalham com estoques mínimos de matérias-primas. “É mais uma razão para esta guerra terminar o mais rápido possível”, afirma ele.
José Velloso, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), acredita que o problema na logística para fornecimento de metais não deve ser uma limitação, levando em conta que os fornecedores de aço nacionais atendem a maior parte da demanda da indústria metalmecânica. “A guerra afeta os custos, mas não vemos problema de insumos para produzir aqui”, disse Velloso.
A ressalva das indústrias é de que isso pode vir a mudar caso a guerra se estenda por um período de tempo maior. O reajuste das rotas de logística é um dos primeiros e mais importantes desafios das companhias que exercem comércio exterior.
O presidente da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast), José Ricardo Roriz Coelho, mencionou a redução da frequência de navios com logísticas afetadas pelo conflito, um grande contratempo para os prazos de entrega. Embora haja alta nos preços, Roriz não enxerga rupturas no fornecimento de combustíveis fósseis e gás natural utilizados na fabricação de plástico – novamente, a depender da duração do conflito geopolítico.
Entretanto, um novo aumento no frete será inevitável com os preços do barril de petróleo em constante aumento. De acordo com Fernando Pimentel, presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), os valores do processo de logística de mercadorias – que já obtiveram “contornos dramáticos” em razão das dificuldades de contratação de embarcações e de disponibilidade de contêineres na pandemia – devem voltar a aumentar. “Permanecendo o conflito, a tendência é de repasses aos custos de frete, colocando mais lenha na fogueira na inflação mundial”, afirmou Pimentel.