Como um homem transformou placas de computador em uma barra de ouro — entenda o processo químico usado e os desafios ambientais por trás do lixo eletrônico
Uma pequena barra de ouro, feita inteiramente a partir de lixo eletrônico, chamou a atenção nas redes sociais.
Você já pensou que aquele velho computador quebrado, esquecido no fundo do armário, poderia conter ouro? Um vídeo viral na internet mostrou exatamente isso: um homem conseguiu extrair ouro de placas eletrônicas descartadas e, com o material obtido, forjou uma pequena barra dourada.
A cena chamou atenção e gerou curiosidade: como esse processo é possível?
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Por trás da aparência comum dos circuitos eletrônicos, há uma combinação de metais valiosos, entre eles o ouro. O vídeo Rrevelou uma realidade muitas vezes ignorada: o lixo eletrônico pode ser um verdadeiro tesouro — se soubermos como processá-lo.
O valor escondido no lixo eletrônico — é uma verdadeira barra de ouro
O vídeo começa com o homem recolhendo pedaços de placas eletrônicas, especificamente aqueles que contêm áreas metálicas douradas.
A maior parte desses fragmentos vem de conectores e terminais de memória RAM, além de pinos de processadores. O brilho dourado não é pintura: é ouro de verdade.
Esse uso do ouro não é novidade. Na indústria eletrônica, o material é aplicado em camadas finíssimas sobre outros metais.
Embora a prata tenha uma condutividade elétrica superior, o ouro possui uma vantagem decisiva: ele não oxida nem sofre corrosão com o tempo. Isso o torna ideal para garantir conexões estáveis e confiáveis, mesmo após muitos ciclos de uso.
É por esse motivo que o ouro é usado em componentes de precisão, como sistemas de comunicação, equipamentos médicos e até satélites. Apesar do custo alto, o banho de ouro garante desempenho constante.
Separando o ouro dos outros metais
Depois de reunir os pedaços metálicos, o homem inicia um processo químico. Primeiro, usa ácido nítrico para remover os metais menos nobres. Em seguida, provavelmente ele aplica água régia — uma mistura de ácido clorídrico com nítrico — para dissolver o ouro presente nas placas. O metal é então recuperado por precipitação química.
Durante a reação, a solução no recipiente muda de cor. Isso acontece porque, além do ouro, outros metais como cobre e estanho também reagem com os ácidos, formando compostos coloridos.
A aparência da mistura pode enganar, mas essas mudanças fazem parte do processo de purificação.
Após a dissolução, é adicionado um agente precipitante, que separa o ouro da solução. Ele se transforma em um pó fino, que é então filtrado, seco e aquecido em uma forja. Derretido, o ouro é moldado em uma pequena barra — o ponto alto do vídeo e da técnica.
Não faça isso em casa
Embora o processo mostrado seja tecnicamente viável, ele envolve riscos sérios, por conta disso, é crucial que esse processo seja feito em um laboratório e com profissionais capacitados.
Os ácidos usados são extremamente corrosivos e liberam vapores tóxicos. Além disso, o manuseio incorreto pode causar acidentes graves.
Outro ponto é a quantidade de material necessária. Para produzir uma única barra, o homem precisou de uma grande quantidade de lixo eletrônico acumulado.
Mesmo assim, o ouro recuperado representa apenas uma fração mínima do total de placas processadas.
A façanha impressiona, mas exige conhecimento em química, equipamentos de segurança e bastante paciência.
O desafio ambiental do lixo eletrônico
O vídeo também destaca um problema crescente: o descarte de resíduos eletrônicos. Conhecido como e-lixo, esse tipo de resíduo inclui desde celulares antigos até placas-mãe de computadores.
Diferente de outros tipos de lixo, como plástico ou vidro, o lixo eletrônico contém metais pesados e compostos tóxicos.
Se descartado de forma incorreta, ele pode contaminar o solo e os lençóis freáticos, gerando riscos ambientais graves.
Além disso, a rápida evolução da tecnologia torna esse problema ainda mais urgente.
Cada novo lançamento de celular ou computador torna o modelo anterior obsoleto. Isso estimula o consumo e aumenta a quantidade de aparelhos descartados.
O mundo já está sufocado de eletrônicos
Segundo o relatório Global E-waste Monitor 2024, divulgado pela ONU, a humanidade gerou 62 milhões de toneladas de lixo eletrônico em 2022. É o equivalente a mais de 1,7 milhão de caminhões lotados.
Apenas nos EUA, cada cidadão descartou, em média, 21 kg. Já na Noruega, esse número foi de 27 kg por pessoa — o maior do mundo.
Boa parte desse volume não é reciclada. Apenas 22% do lixo eletrônico global foi processado de forma adequada.
O restante foi parar em aterros, incinerado ou simplesmente exportado para países pobres. Nesses locais, o lixo é frequentemente tratado de maneira informal, sem proteção para os trabalhadores ou para o meio ambiente.
O lixo como mina urbana
Apesar do problema ambiental, o lixo eletrônico guarda um imenso valor. Metais representam metade do volume total, e só em 2022, esses materiais somaram um valor estimado de 91 bilhões de dólares.
Entre os metais mais valiosos estão ouro, cobre, ferro, platina e elementos de terras raras, como o neodímio — essencial para turbinas e baterias.
Recuperar esses metais é o que especialistas chamam de “mineração urbana”. Ao invés de cavar a terra em busca de minerais, o foco está em reutilizar o que já foi produzido.
Essa prática evita danos ambientais, reduz emissões de gases de efeito estufa e diminui a dependência de países com grandes reservas minerais.
Se o mundo reciclasse adequadamente todo o lixo eletrônico, seria possível evitar a emissão de 52 milhões de toneladas de CO₂ por ano, segundo o relatório da ONU.
Por que reciclamos tão pouco?
A resposta envolve vários fatores. Falta de regulamentação, má gestão de resíduos e desinteresse do consumidor são alguns dos principais problemas.
Muitas empresas não oferecem sistemas adequados de descarte. E os consumidores, por sua vez, muitas vezes não sabem como ou onde reciclar.
A falta de tecnologia também é um obstáculo. Reciclar ouro e metais raros exige métodos caros e complexos.
A maioria das usinas de reciclagem ainda não tem estrutura para processar eletrônicos de forma eficiente e segura.
Startups buscam soluções viáveis para o lixo eletrônico
Mas nem tudo está perdido. Empresas como a neozelandesa Mint Innovation estão desenvolvendo novas formas de extração de metais usando química verde, biotecnologia e eletricidade.
O objetivo é tornar o processo mais barato, seguro e sustentável.
A Royal Mint, no Reino Unido, também entrou na corrida. Com apoio do governo, a instituição aposta na recuperação de metais preciosos como alternativa à mineração tradicional.
Para eles, o lixo eletrônico é a nova fonte de riqueza do século 21.
Por que ouro é tão usado na tecnologia
Mesmo sendo caro, o ouro continua essencial em aplicações críticas. Ele garante que sinais elétricos se mantenham estáveis, mesmo com o passar do tempo.
Em equipamentos médicos, por exemplo, onde qualquer falha pode ser fatal, o ouro é usado por sua confiabilidade.
A indústria aeroespacial também depende do material. Satélites, sondas e sistemas de comunicação em geral precisam operar por anos sem manutenção, e o ouro é uma garantia de desempenho constante.
O futuro está nas gavetas
Todos os dias, toneladas de celulares, tablets, impressoras e laptops são descartados no mundo. Muitos desses aparelhos acabam esquecidos em armários e gavetas, acumulando poeira. Mas o vídeo do homem que fez uma barra de ouro serve de alerta: esse lixo tem valor.
A reciclagem correta e consciente pode transformar resíduos em recursos. Com políticas certas, educação ambiental e tecnologia acessível, o lixo eletrônico pode deixar de ser um problema e virar solução.
Como aprender a efetuar esta separação pode ser do interesse de muitas pessoas.