Brasil enfrenta desafios estruturais para distribuir energia renovável e avançar em setores estratégicos como data centers e hidrogênio verde; entenda os riscos, impactos e soluções
Atualmente, o Brasil enfrenta um entrave invisível, mas estratégico: a baixa capacidade das linhas de transmissão.
Portanto, setores como data centers e hidrogênio verde já sentem os impactos diretos dessa limitação.
Desde 2022, com o avanço da digitalização e o aumento da geração renovável, a necessidade de escoar energia cresceu exponencialmente.
Além disso, projetos são constantemente adiados, redirecionados ou abandonados por falta de estrutura elétrica confiável.
Com isso, a competitividade do Brasil em áreas essenciais para o futuro está ameaçada.
Logo, a ausência de conexão energética adequada prejudica diretamente a atração de investimentos internacionais.
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Contudo, o Brasil pode perder protagonismo na transição energética global
De início, é fundamental lembrar que o Brasil possui uma das matrizes energéticas mais limpas e diversificadas do mundo.
Ainda assim, essa energia não chega aos principais polos de consumo e exportação.
Segundo a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), em relatório publicado em 2023, o Brasil poderá liderar a produção de hidrogênio verde no mundo.
Todavia, esse potencial depende de infraestrutura robusta, que hoje ainda não existe de forma distribuída.
Consequentemente, projetos voltados ao hidrogênio verde, que exigem alta carga elétrica, têm sido barrados ou suspensos desde o segundo semestre de 2023.
Aliás, investidores estrangeiros já demonstram preocupação com a instabilidade da infraestrutura de escoamento energético.
Dessa forma, mesmo com abundância de fontes renováveis, o país não consegue transformá-las em vantagem comercial imediata.
Portanto, o Brasil pode perder espaço no mercado global de energia limpa para países mais bem estruturados, como Chile e Austrália.
Paralelamente, a geração cresce — mas a transmissão não acompanha
Conforme dados da ANEEL publicados em julho de 2023, mais de 110 GW em energia renovável já foram autorizados nos últimos anos.
Todavia, aproximadamente 30% desses projetos ainda não estão conectados ao Sistema Interligado Nacional.
Além disso, estudos da Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica) estimam que, até 2030, o país precisará de mais 30 mil quilômetros de linhas de transmissão.
Assim, o crescimento da geração torna-se ineficaz sem o devido escoamento.
Em outras palavras, o Brasil está gerando energia limpa, mas não consegue entregá-la a quem precisa.
Portanto, enquanto a produção avança, a ausência de transmissão segura limita os benefícios reais para a população e a economia.
Simultaneamente, data centers também enfrentam obstáculos
Do mesmo modo, os data centers, que dependem de energia contínua e estável, enfrentam sérias dificuldades para se instalar em regiões promissoras.
Segundo estudo divulgado em agosto de 2023 pela Brasscom, o Brasil poderá demandar mais de 2 GW em consumo de data centers até 2030.
Nesse cenário, empresas de tecnologia estão preferindo investir em locais com infraestrutura mais consolidada.
Por conseguinte, muitas delas acabam migrando para o Sudeste, mesmo com custos operacionais mais elevados.
Com isso, regiões com potencial — como o Norte e o Nordeste — continuam subaproveitadas.
Ademais, a concentração de data centers em áreas já desenvolvidas acentua os desequilíbrios regionais existentes.
Por fim, provedores internacionais demonstram receio em apostar em locais com baixa segurança elétrica.
Essa percepção foi reforçada durante o Fórum Econômico Brasil-Alemanha realizado em novembro de 2023.
Enquanto isso, o setor elétrico avança — mas não na velocidade necessária
pesar dos esforços, o setor elétrico ainda não consegue acompanhar a escalada da demanda por energia confiável e bem distribuída.
Por exemplo, a Eletrobras, mesmo com 74 mil km de linhas, não dá conta de toda a necessidade atual.
Desde sua privatização, concluída em junho de 2022, a empresa iniciou novos investimentos.
Entretanto, conforme relatado em seu balanço de 2023, os projetos enfrentam atrasos por causa de licenciamento ambiental e entraves fundiários.
Ao mesmo tempo, empresas como a Neoenergia estão expandindo suas redes em diversos estados.
Contudo, mesmo com mais de 6 mil km em operação e construção em 2024, os investimentos ainda não são suficientes para suprir a demanda reprimida.
Diante disso, soluções urgentes precisam ser implementadas
Dessa forma, especialistas do setor apontam a necessidade de ações coordenadas e urgentes para destravar a infraestrutura de transmissão.
Segundo o Ministério de Minas e Energia, em pronunciamento feito em fevereiro de 2024, há planos para antecipar leilões de transmissão.
Primeiramente, é essencial acelerar os leilões com foco em regiões críticas e com potencial industrial e renovável.
Além disso, a criação de parcerias público-privadas pode impulsionar a construção de novas redes elétricas.
Também é necessário agilizar o licenciamento ambiental, sem comprometer as normas de proteção socioambiental.
Por fim, o planejamento energético deve priorizar zonas que concentram projetos de TI e energia limpa.
Portanto, os gestores devem tratar a expansão da transmissão não como tema técnico, mas sim como prioridade nacional de curto prazo.
O que está verdadeiramente em jogo?
Em resumo, o Brasil pode desperdiçar grandes oportunidades caso não resolva o gargalo energético a tempo.
Por consequência, outros países podem redirecionar bilhões de reais em investimentos em tecnologia e energia limpa.
Adicionalmente, os países podem deixar de cumprir as metas ambientais firmadas no Acordo de Paris, como reduzir 50% das emissões até 2030.
Inclusive, o risco de aprofundamento das desigualdades regionais torna-se ainda maior.
Logo, o país deve decidir se quer liderar a transição energética ou deixar que sua própria infraestrutura o mantenha travado.Portanto, decisões rápidas e estratégicas são essenciais para garantir um futuro competitivo, sustentável e integrado.